31 maio 2007


Aqui se oferece aos desportistas mais fanáticos uma inteira praça para correr sem ser incomodados.

Obséquio das autoridades da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, perdão da Republica Federativa da Rússia.

Diário Político 52


corridinhas na praça vermelha


Não será o filho da minha mãe que contestará a apologia do exercício físico que S.ª Ex.ª o Sr. 1º Ministro prodiga pelo exemplo. Daí não vem mal ao mundo e o cheirinho a suor passa com muita água e sabão. Pessoalmente, e isto é o que agora se chama registo de interesses, sou de pouca corrida mas, milagre!, de muito andar. Gosto de andar, coisa que, na minha fotografia mais recente, não se adivinha. Mas de facto, gosto de andar. Claro que nem todos os lugares são bons para o efeito mas onde há uma mínima hipótese é verem-me fazer, sem alarido e sabiamente distribuídos pelo dia, uma dúzia, dúzia e meia de quilómetros. A minha melhor pista é Paris. Conheço o raio da terra passo a passo, rua a rua a rua, beco a beco. Nos últimos anos nem sequer me previno com um carnet de bilhetes de metro. É à pata que vou aos sítios que me propus. Fora isso, gosto de andar na praia. Se possível à conversa.
Portanto, e para abreviar, sou um caminheiro. Caminheiro paisano, nada desses actuais comedores de estrada que ao sol e à chuva, andam cada fim de semana por montes e vales. Eu ando em piso seco, asfaltado, com livrarias, cafés, galerias de pintura pelo meio. E algum sítio onde sirvam uma mimosa cervejinha ao sedento.
Ora, depois disto, a que vem S.ª Ex.ª o Sr. 1º Ministro (repararam na delicadeza, consideração e respeito?, ai não, que ainda me ferram algum processo!) e a sua corrida, todo paramentado de corredor?
Pois S.ª Ex.ª vem a estas humildes páginas que se regozijam com a sua grata e exaltante presença, porque andou a correr na Moscóvia, mais: na Praça Vermelha, essa mesma, entre o Kremlin e o santuário onde repousa a múmia do réprobo Lenin.
Merecia, convenhamos. S.ª Ex.ª não merece menos do que a praça onde a nomemklatura assistia, derreada ao peso das condecorações, à parada do 1º de Maio.
Aliás, tenho mesmo o meigo pressentimento de que o tovaritch Putin entendeu homenagear o governante português com a oferta de uma inteira praça deserta para correr. Claro que também lhe poderia oferecer uma medalha de “herói da união soviética” ou um passeio pela encantadora taiga siberiana, Vorkuta incluída.
Mas a verdade é que S.ª Ex.ª correu na Praça Vermelha. E para o efeito, esta foi fechada à peonagem habitual. E ainda bem! Porque se a praça estivesse aberta às “mais amplas camadas populares” poder-se-ia dar o caso de algum façanhudo zelota entender atacar S.ª Ex.ª por razões que nada têm a ver com Portugal e as suas admiráveis autoridades. Há russos assim, maus, de bigode, que se persignam ao contrário e que passam a melhor parte do seu tempo a fabricar vodka falsa e a bebê-la. E batem nas pessoas!
Aliás na Rússia putinesca, digo pitoresca, gente na rua é sempre mau sinal. Ou reclamam contra as autoridades, ou atacam os manifestantes que pedem o fim da homofobia. Ainda no sábado (ou domingo) houve sarrabulho gordo à conta de um punhado de desviados que apesar de saberem estar proibida a sua manifestação (indecorosa, claro!) vieram para a rua atacar os são valores da Igreja ortodoxa, da moral social e amparados por uns deputados do parlamento europeu, quiseram impor pela força, logo ilegalmente, os direitos da sua minoria. Felizmente o povo, que é sereno, acorreu e espancou piedosa e convenientemente estes indignos exemplares do género humano. E de caminho, afinfou nos deputados europeus que se foram meter onde não deviam, vão lá para a terra deles cometer imoralidades, já se viu o descaramento? Depois a benévola polícia municipal, prendeu alguns desses desviantes e tudo acabou serenamente como é próprio da Rússia actual.
Parece-me, se S.ª Ex.ª me permite, que depois deste incidente, a corrida poderia ter sido postergada. Ou realizada noutro sítio, sem praças fechadas a cadeado policial, sem permitir que um acto tão simples, correr, possa ser interpretado como um atestado à democraticidade das instituições moscovitas. Sem, permita-me novamente, dar assim um ar de visita a um pais normal, normalmente governado, por gente normalmente eleita...
Eu sei pouco do interesse estratégico da Rússia para o nosso comércio, a nossa indústria, enfim os nossos exportadores. Desconheço, miseravelmente, quantos sapatos, quantas latas de tomate ou de sardinha vendemos para lá. Desconheço se eles pagam, enfim, não sei nada. Ou melhor: sei que a Rússia actual, para além da imensa admiração que nutre por Portugal e pelos seus sábios governantes, está interessada em vender-nos vodka siberiana, peles, alguns submarinos atómicos em estado sofrível e gás. Alguém aqui do lado diz que também nos querem vender pepinos em conserva. Seja! Mas mais baratos do que os polacos, senão, não!
Tudo isto e a conversão da Rússia à Senhora de Fátima valerá uma missa. Vale um Primeiro Ministro em trajes menores a correr numa praça vermelha deserta?

Na fotografia: o admirável monge Rasputin (não confundir com Putin, sff) que também gostava de deambular pela praça vermelha...

Au Bonheur des Dames 68


Arre! Irra! *****

Em 1986, A Estampa começou a publicar a “Nova História da Expansão Portuguesa”. Teria 12 volumes. Em 2007 estão publicados 10 tomos mas ainda faltam 4 volumes (o 1º, o 4º, o 9º e o 12º!!!)

Em 1987, a editora Presença começou a publicar a “Nova História de Portugal” Previam 12 volumes. Estão por publicar os volumes 6 e 8. Todavia, como o volume 12 e último se refere à história moderna e termina em 1960 é de presumir que haja um 13º que cubra pelo menos o período da guerra, anos 60 revolução e anos 80 digamos até ao fim do processo revolucionário, primeiro governo constitucional. Será durante a minha vida?

A editora Caminho publicou em 1992 “A tristeza contentinha de Alexandre O’Neil”. O livro aparece citado na recente biografia do poeta. Vai-se por ele à Feira: o catálogo é omisso. Alguém acredita que este livro esteja esgotado? E se não estiver, porque é que não consta?

A Editora Cotovia já aqui mereceu louvores. Mas no melhor pano cai a nódoa: a Feira do Livro vai a meio e quanto a catálogos, está quieto ó mau, vou ali e já volto...
A Editora Teorema, indiscutível na qualidade, tem catálogo. Não tem é pelo menos 20 títulos na feira portuense. E títulos bem interessantes... Será que a margem norte do Douro também já só tem tuaregues?
A Editora Assírio e Alvim é reconhecidamente uma boa editora. Vai-se por um catálogo para não comprar repetido. Catálogo? Não há, nem vai haver. Pronto, pronto, já cá não está quem falou....
Uma das melhores livrarias portuguesas, senão a melhor até há bem pouco, viu morrer o sócio maioritário enquanto o minoritário (e seu principal artífice) ia para a merecida reforma depois de vender a sua quota. Os herdeiros do maioritário tornado único proprietário, esfregaram as mãos... Agora é que é! Criaram uma faustosa administração, não sei quantos tachos para caberem todos na fotografia e nos lucros. Pimba! Barco ao fundo. Primeiro começaram a atrasar pagamentos, depois atrasaram os atrasos, a torneira de fornecedores fartos de esperar foi-se fechando, os melhores empregados, aflitos, começaram a partir e a escolha de livros começou a escassear. Fiel cliente desde 1959 (julgo ter lá comprado para cima de 8.000 títulos) comecei a ver as minhas encomendas sem resposta. Entretanto apareceu um comprador: há meses que o negocio se arrasta. Parece que o senhorio de uma das partes da livraria quer (???) mundos e fundos. A livraria vai metendo água. Daqui a pouco nem comprador nem livraria. Uma casa prestigiada que anunciava (e tinha) livros de todo o mundo corre o risco de fechar. Já nem falo dos muitos postos de trabalho, da família de compradores assíduos, dos excelentes profissionais que lá há(via). Falo apenas da escandalosa tristeza de ver um projecto consolidado em cerca de cinquenta anos ir por água abaixo porque uns administradores estúpidos e gananciosos pensavam que aquilo era uma farmácia ou um bar de alterne com a registadora sempre a tilintar...
Um alfarrabista propôs-se vender-me um determinado número de exemplares da velha colecção “pelo império” a 2,5 ou 3 € o exemplar. Achei caro. De facto, a livraria Olissipo, em Lisboa, vendeu-me umas largas dezenas de volumes a 2€. E não cobrou os portes de correio. Faltavam-me ainda cinco exemplares que me interessavam. Fui à primitiva casa ver o que conseguia. Agora já me pediam 5 €!!! É a lei da oferta e da procura, explicaram-me. Mandei-os meter a oferta na procura. Entretanto já me falam num desconto... Pois será a 2 € e é se quiserem.
Um outro alfarrabista onde comprei uma série de SaIgari disse-me que tinha mais em armazém. Escrevi-lhe do Porto, enviando uma lista enorme de exemplares que pretendia. Resposta? Nicles! Quando o voltei a encontrar na feira dos Sábados no Chiado, disse-me: Deixe-me ter a liberdade de ser preguiçoso! E malcriado!, pensei eu. E parvo por perder um bom cliente!, lembrei-me mais tarde.
Falei aqui num livro interessantíssimo sobre Berlin. É da Taschen. Hoje perguntei na FNAC se o tinham, se o encomendavam, enfim o habitual. O jovem empregado que me atendeu explicou-me que a distribuidora portuguesa da Taschen fornece as novidades do editor cerca de seis meses depois da saída internacional. E mais: que da Taschen chegam ao mercado português apenas entre 20 e 30% do total de títulos editados. O resto não é pedido! Não tem mal, pede-se na Amazon.fr ou na Chapitre.fr!
A excelente revista “Monumentos” que vai briosamente no nº26 com uma tiragem actual de 5000 exemplares, é, até este número, editada pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (Ministério do Ambiente...). O exemplar custa 15 € e é sumptuoso, excelente cientificamente e lindamente apresentado. A DGEMN vai acabar, metida, num sarcófago qualquer do Ministério da Cultura, presumo que o IPPAR ou a sua nova formula. Alguém acredita que a revista continue? Mais: alguém acredita que se possam reeditar os números esgotados, pelo menos em CD rom? Quem disse que sim, vai de castigo para p canto, com um letreiro “sou parv(o)a e gosto! A propósito compra-se por preço decente o nº 8 (Universidade de Coimbra. Por decente entende-se 25, 30 €, vá lá mais uns pozinhos).
Poderia multiplicar estes exemplos ad nauseam. Sei que a leitura não é um sector fundamental em Portugal onde porém se editam diariamente 15 ou mais títulos!!! Sei que centenas de leitores como eu, desistiram de encomendar os livros e pedem-nos directamente à grandes livrarias virtuais. Com prejuízo das nacionais, claro! Não me venham dizer que a culpa é dos leitores. Haverá pachorra para esperar trinta anos por uma história de Portugal? Por um livro da Taschen? Por um catálogo de uma editora, que poderia até ser meia dúzia de folhinhas agrafadas?
Este é o meu contributo para a campanha “Portugal é pequenino mas é um torraozinho de açúcar!” (cfr. Queiroz, Eça, “Uma Campanha Alegre”)

Na gravura uma excelente actriz e uma mulher sensível lê um livro. Nem isso a salvou da súcia criminosa que a usou, explorou e...assassinou.

Women In Art

espectacular trabalho de montagem!

UPS!

«A CGTP faz mal em anunciar grandes números de adesão à greve em actividades que mal foram perturbados por ela (por exemplo, os transportes ferroviários). Pois de duas, uma: ou os números são imaginários, ou a greve provou que essas actividade funcionam perfeitamente com muito menos trabalhadores...»

Vital Moreira, no blog Causa Nossa

REPULSA

Chegámos a isto?! The Big Donor Show

Ética de Arrobas (ou Arrobas de ética)


A ler no Ângulo Recto

Ainda o "Acórdão do dia"

O nosso carteiro já deixou, no postal abaixo, link para o "Acórdão do dia" (texto integral). O mesmo foi feito em vários blogs. Desconfio, contudo, que poucos o lerão antes de opinar com base nas "gordas" dos jornais ou mesmo com base apenas nos comentários emotivos que aquelas inevitavelmente provocam (*). Por isso, aqui vai um contributo: excertos do acórdão que, para não juristas, me parecem o mínimo indispensável para perceber melhor o que está em causa.

(*) Aliás, a capa do 24 Horas (não acessível on line ), também abaixo colocada pelo carteiro, é bom exemplo desta técnica incendiária dos media, na qual mesmo os leitores mais diferenciados se deixam envolver, uma vez ou outra (quando não muitas)...
Deixo por isso aqui, também, a seguir aos excertos do acórdão, link para o artigo do Correio da Manhã, com declarações do Conselheiro Artur Costa e não só, artigo que me parece acrecentar alguma informação e opinião útil para a compreensão do que está em causa; bem como o texto do José, que acompanha a foto já referida do jornal, ambos constantes do seu post publicado
aqui, por salientar aspectos interessantes na relação justiça/comunicação social.

excerto do Acórdão (negritos meus)

22. (...) em todas elas, sucedia o mesmo, depois de se despirem o arguido estimulava o pénis do menor, com as mãos, depois deste ficar erecto, metia-o na boca chupando-o, de seguida; como ele próprio tivesse já o seu pénis erecto, ordenava ao menor que lhe fizesse o mesmo;
23. De todas essas vezes o FF não queria fazê-lo uma vez que era uma coisa que lhe metia nojo, por outro lado era grande e fazia-o sentir-se sufocado; (...)
28. Depois de cada um dos referidos encontros, em que se deram os factos descritos, o arguido ordenava ao FF que não os contasse a ninguém ao que este obedeceu, não só pelo receio que aquele lhe incutia mas também por ter vergonha.;

(...) «As circunstâncias referidas no n.º 2 do art. 71.º do CP, actuando no âmbito da moldura penal abstracta sem quaisquer pontos ou limites predefinidos, constituem os itens a que deve atender-se para a fixação concreta da pena, que há-de situar-se dentro da submoldura definida pelas exigências de prevenção geral do caso, cujo limite máximo não pode ultrapassar a medida da culpa e cujo limite mínimo constitui a exigência irrenunciável de defesa do ordenamento jurídico.

Ora, no tipo legal de crime em referência visa-se “a protecção da autodeterminação sexual face a condutas de natureza sexual que, em consideração da pouca idade da vítima, podem, mesmo sem coacção, prejudicar gravemente o livre desenvolvimento da sua personalidade, presumindo a lei que a prática de actos sexuais com menor, em menor ou por menor de certa idade prejudica o seu desenvolvimento”, como, na linha do Comentário Conimbricense, se diz na decisão da 1.ª instância, confirmada pela Relação.

Todavia, como também se escreveu na mesma decisão, em sede de fixação da pena, há que levar em conta as circunstâncias concretas que modelaram a actuação do arguido. E, dentro dessas circunstâncias, a idade da vítima não é indiferente, muito embora a sua idade – 13 anos – esteja situada dentro dos limites de protecção do bem jurídico especifico aqui em causa, considerando-se a agressão a esse bem jurídico pelas formas indicadas na lei como abuso sexual de criança, desde que o menor tenha menos de 14 anos.

Por outro lado, não sendo necessária a coacção para a relevância da agressão ao referido bem jurídico, nos termos sobreditos, a verdade é que é diferente, em termos de ilicitude, ter ou não existido coacção, assim como é de considerar, em sede de determinação concreta da pena, o grau de desenvolvimento do menor, não sendo certamente a mesma coisa praticar algum dos actos inscritos no âmbito de protecção da norma com uma criança de 5, 6 ou 7 anos, ou com um jovem de 13 anos, que despertou já para a puberdade, como é o caso dos autos, em que a vítima era capaz de erecção e de actos ligados à sexualidade que dependiam da sua vontade, ainda que se possa dizer que essa vontade é irrelevante para efeitos de caracterização do tipo.
(...) O tribunal da 1.ª instância, com o aval da Relação, sobrevalorizou a componente da prevenção geral positiva, filtrada através da sua relevância mediática, com as distorções que uma tal abordagem do problema ocasiona, sabido que a culpa se impõe como limite intransponível das exigências de prevenção geral. Essa sobrevalorização está bem patente em certos passos da decisão da 1.ª instância, que a Relação acolheu, ao menos confirmando essa decisão. A título de exemplo, mencione-se esta passagem: “Por outro lado, no que concerne às necessidades de prevenção geral positiva, há que ponderar o facto de que a natureza deste tipo de crime é susceptível de causar alarme social, sobretudo numa época em que os processos de pedofilia têm relevância mediática e a sociedade está mais desperta para esse flagelo. Por conseguinte, as necessidades de prevenção geral positiva são relevantes, pois que (…) a reposição da confiança dos cidadãos nas normas violadas e a efectiva tutela dos bens jurídicos cuja protecção se visa assegurar pela incriminação deste tipo de condutas assim o impõe”. »


Artigo do Correio da Manhã

excerto das declarações do Conselheiro Artur Costa citadas pelo jornal:

«O magistrado assegura que o acórdão teve em conta o facto de o jovem ter “colaborado” nos abusos sexuais. “Aceitou sete vezes ir ter com o arguido. O tribunal deu como provado que foi por medo. Mas ele não podia ter dito que não?”, interroga-se o juiz, que assegura não compreender a polémica em torno da decisão.”

OBS: no acórdão dá-se como provado que outro menor (em circunstâncias objectivas e subjectivas semelhantes ?), se recusou a acompanhar o arguido.

Post do José


«Esta primeira página é uma novidade absoluta. Um juiz do Supremo Tribunal de Justiça, relator de um acórdão polémico, aceita explicar a um jornal popular, uma decisão colectiva que o mesmo relatou ainda há poucos dias. Provavelmente haverá uma chuva de críticas, algumas veladas outras nem tanto, a propósito desta explicação. Uma coisa é certa, porém: o STJ já não é o reduto fechado em si mesmo que em tempos já foi. Essa mudança, ajuda a aproximar a Justiça ao povo em nome do qual é administrada, mas tem armadilhas evidentes. Uma delas, é a redução de questões complexas a frases escolhidas, como a da capa do 24 Horas de hoje. O Conselheiro Artur Costa, hoje de manhã, provavelmente, lembrou-se dessa circunstância...»

E ainda uma interessante troca de opiniões sobre outro post do José, aqui.

Decisões

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Fica aqui o texto integral do acórdão do STJ sobre o caso de pedofilia de que fala abaixo O Meu Olhar.

E fica aqui a capa do "24 Horas" desta 4ª feira ("plagiado" de um post do José na GLQL):

30 maio 2007

Mas ele não podia ter dito que não?

Esta foi uma das questões formuladas pelos juízes para justificarem a redução de pena de sete anos e cinco meses de prisão para cinco anos de um homem que tinha sido condenado por abuso sexual de menores. Defendem que não é a mesma coisa praticar actos sexuais com uma criança de cinco, seis ou sete anos ou com um jovem de 13. De facto não deve ser. É certamente diferente. Ficam as questões: não continua a ser menor? Quem o protege?

Fiquei chocada quando ouvi a notícia. Aliás, só acreditei à segunda vez porque quando ouvi falar deste assunto na rádio pela primeira vez duvidei do que tinha escutado, tal o absurdo da situação.

Um dos juízes terá afirmado em reacção a declarações críticas de António Cluny; “ Qualquer decisão tem sempre uma carga subjectiva. O mundo é sempre visto pelos olhos de alguém. E isso não me parece ter nada de errado”. De facto não tem nada de errado. É alias inevitável. Pena é que estes juízes tenham uma visão do mundo que os leve a tomar estas decisões.

O jovem de treze anos foi apanhado na teia de um pedófilo e, como se isso não bastasse à sua vida, foi também apanhado na teia da concepção de mundo de um conjunto de pessoas que tem poder para ditar sentenças.

Missanga a pataco 15


Feirar na Feira, 2º e fim

Hoje quarta fui com o António Carlos Sobral para a Feira. Íamos por livros, pelos catálogos de algumas editoras que na sexta ainda os não tinham e, no meu caso, ia buscar a uma certa barraquinha, 15 livros (QUINZE!) que encontrara no catálogo e que, claro, me faziam uma falta terrível...
Convenhamos: hoje havia mais gente do que na sexta à mesma hora, quatro da tarde. Calculei que fossem grevistas a aproveitar o resto do dia... O que não havia era os catálogos anteriormente em falta! E a feira já vai a meio.
Na Estampa, estampei-me: nem digo o número de livros comprados, nas secções de história. Muito menos o preço, uma blasfémia. Nem o peso. A história, mesmo antiga pesa que se farta.
Na outra barraca para que ia munido da lista, népia. Nem um dos requeridos livros lá estava. A menina, toda cheia de suficiência, achou por bem dizer-me que não podiam ter todos os livros do catálogo! Homessa! Então para que é que serve um catálogo? É para pôr debaixo de alguma mesa de pata manca? Eram 15 os livros pedidos, quinze foram as negas recebidas. Não tem mal segue carta para a editora. Com sorte, recebo-os de borla, coisa que justamente (acreditem ou não) eu queria evitar.
Os livros do dia? Gostava de dizer uma piada mas, de facto, não há piada que resista aquela margem sul de interesse. Disse margem sul? Nada disso: àquele deserto horrível.
Os leitores que porventura forem por um livro por mim recomendado: Berlin, o espírito de Berlin (ed francesa, inglesa ou alemã) que me desculpem. A simpática vendedora da distribuidora até se prontificou a telefonar para a central mas é provável que o livro ainda não tenha chegado. Todavia da Taschen há na feira muito e bom!
Como vêem eu também digo bem de alguma coisa.

a gravura é a minha homenagem à simpática margem sul. O que se vê é um sobreiro amigo do engenheiro "com diploma" Mário Lino. Uma pergunta inocente: a criatura não foi militante do PC? Daqueles para quem o Alentejo era uma espécie de terra de promissão? força, força companheiro Lino que nós somos a muralha de areia...


Serralves em Festa

No próximo fim-de-semana, a cidade do Porto vai viver mais 40 horas de plena agitação com a quarta edição do Serralves em Festa. Entre as 8h de Sábado e as 24h de Domingo, o Parque, o Museu, o Auditório e a Casa de Serralves recebem mais de 70 actividades – exposições, música, dança, performance, cinema, teatro, marionetas, circo, oficinas em família, visitas orientadas e workshops. Na noite de Sábado para Domingo, os DJ’s dão música aos mais novos até de madrugada no prado de Serralves.

Haverá ainda um programa paralelo de animação na baixa do Porto, com música e animação de rua nos Aliados e na estação de metro da Trindade.

Aí está um bom pretexto para visitar Serralves e conhecer (para quem ainda não o fez) um dos melhores cartões de visita da cidade, capaz de atrair nestas iniciativas anuais, de acesso livre, várias dezenas de milhar de visitantes que assim desfrutam de um espaço único no país.

29 maio 2007

Corridas


Quem faz corridas de Karting sabe que não deve dar atenção aos que vêm atrás, aos que o perseguem. Deve centrar toda a sua atenção no caminho que tem pela frente rumo à meta e, obviamente, procurar chegar em primeiro lugar.

Se fizermos a analogia com a nossa vida profissional o que retiramos é que, se fizermos o nosso melhor e procurarmos andar sempre um passo em frente, não nos devemos preocupar com a concorrência.

Muitos preocupam-se com os que os rodeiam, com os que lhes podem fazer “frente”. Gastam com isso energias preciosas que, se canalizadas para a melhoria de desempenho, só lhes traria vantagens e proveito. A eles e às organizações onde trabalham.


maio de 2007 - Bob












Um blues a dois

Nós fingimos muito bem.
Tu enrugas tua face filosófica
e pareces questionar a existência do mundo.
E eu sorrio e converso contigo.

A tristeza não é um espetáculo público,
pertence à nossa intimidade
e nela nos entendemos.
Posso então falar-te à vontade
e choro e te preocupas. Eu sei,
mesmo que nada digas,
afora lamberes-me as mãos
e me olhares com o teu olhar canino
agudamente.

Ambos sabemos o que nos entristece,
o que te preocupas por mim.
Ambos sabemos da tristeza mútua
e nos olhamos com respeito,
Mesmo que eu às vezes insista :
- Diga algo!
E tu me olhes perplexo,
porque querias tanto fazê-lo.

E amas-me e sabes que te amo.
O que não sabemos é que é a nossa questão.
E nós pensamos muito.

A cidade amanhece e estamos insones.
Um blues ia bem,
um dia aprenderás.

Silvia Chueire

Rio in Lisboa

Em postalagem abaixo, aborda MCR, a propósito de coisas várias, a possibilidade, que ainda não me ocorrera - francamente! -, de cedermos o nosso austero e severo Dr. Rui Rio para servir a causa pública na autarquia lisboeta. Está bem visto, sim, senhores. Rui Rio seria o melhor presidente que a Câmara de Lisboa poderia ter no momento que passa.
Já se viu que a Câmara de Lisboa não tem dinheiro para mandar tocar um cego, quanto mais para coisas tipo rock in rio que, como é sabido, custa rios de dinheiro, muito mais do que o Quim Barreiros em noite de ano novo ali nos Aliados. Dinheiro que Lisboa não tem. Poderá contra-argumentar-se que Lisboa, com Rio (este, que não o tejo) seria um absoluto marasmo. Talvez. Mas talvez o marasmo seja uma necessidade nas actuais condições, sendo certo, também, que a capital precisa de parar de vez em quando para saber o que custa a vida fora da Lux e outros sítios assim.
Com Rio em Lisboa sujeitam-se, claro, a ter uma corrida de calhambeques. Ou nem isso, que nem para isso há dinheiro. Mas, quem sabe?, uma corrida de carrinhos de rolamentos, que voltam a estar em voga, na Avenida da Liberdade talvez não fosse má ideia. Embora o declive não seja muito pronunciado, com um empurrãozito ou outro, é capaz de resultar.
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Homenagem da FLUP ao Prof. Eugénio dos Santos

Decorre amanhã, dia 30 de Maio, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, um colóquio de homenagem ao Prof. Eugénio dos Santos, um dos ‘sobreviventes’ da primeira licenciatura em História da FLUP. Esse colóquio terá como tema “As biografias dos Reis de Portugal”, a propósito da recente colecção do Círculo de Leitores, na qual o Prof. Eugénio dos Santos colaborou com a obra sobre D. Pedro IV, e coincide com o dia do Departamento de História.

O programa é o seguinte:

10H00 – Sessão de abertura, com intervenções de Jorge Fernandes Alves e Amélia Polónia

10H15 – Apresentação do projecto “Biografias dos Reis de Portugal”, com a leitura de um texto de José Mattoso

10H45 – D. Dinis, por José Augusto Pizarro

11H15 – D. Duarte, por Luís Miguel Duarte

12H15 – D. Henrique, por Amélia Polónia

12H45 – Debate

14H30 – D. Maria I, por Luís Oliveira Ramos

15H15 – D. Pedro IV, por Eugénio dos Santos

16H00 – Debate

16H30 – I Encontro da Associação dos Antigos Alunos de História

18H00 – Cerimónia de atribuição da Medalha de Ouro da Universidade do Porto ao Prof. Eugénio dos Santos, e também a dois outros professores de História já jubilados: Francisco Ribeiro da Silva e Cândido dos Santos

É sem dúvida um dia de festa para a FLUP e sobretudo para o seu Departamento de História. Farei os possíveis para não perder a oportunidade de reencontrar professores e amigos que me marcaram na minha passagem pela universidade, com o pretexto de homenagear o Prof. Eugénio dos Santos, meu professor de História do Brasil e de História Cultural e das Mentalidades moderna.

Au Bonheur des Dames 67


emendar a mão

Palavra que não sei onde fui buscar as mijavelhas referidas ao Passeio das Virtudes. Estava disposto a jurar que fora o Manuel Matos Fernandes quem me dera a informação, mas o Manel era demasiado consciencioso e sabedor para me endrominar daquela maneira. E já cá não está para me defender ou explicar o erro. Mijavelhas foi regato, foi fonte, foi mesmo o lugar de uma gafaria mas não era nas Virtudes. Era no Campo 24 de Agosto, bem longe do aprazível restaurante onde mostrámos o que valíamos se nos puserem na mão faca e garfo e no prato comida que se veja. Fica feita a emenda e desfeito o erro maligno que o leitor MSP logo descobriu, diabos o levem, emendar-me a mim, assim por uma burrice geográfico-tripeira dói, olá se dói. Não que eu seja um perito em história do burgo, aliás não sou perito em nada e pelo andar da carruagem já não vou a tempo. Este Porto tão granítico como é costume dizer, está sentado em cima de inumeráveis regatos, ribeiros alguma ribeira manhosa, que se mexem com algum à-vontade no subsolo citadino, que o encanamento que se fez dessas águas está a dar de si.
Volta e meia lá se vai um pedaço de rua ao galheiro porque as águas subterrâneas chateiam-se da falta de luz e pimba, ei-las que passam uma rasteira à rua que as cobre e aí vai disto: buraco, buraco gordo que com o tempo e a diligencia camarária se vai paulatinamente transformando em cratera.
Houve um buraco que durou três alegres anos mesmo à porta do Centro Distrital de Segurança Social, chegou-se mesmo a pensar que era o princípio duma piscina para os funcionários mandriarem durante as horas de serviço. E fora delas, perguntará alguma leitora. Ora, fora delas, só se pagarem horas extraordinárias, cara Amiga, então V. pensa que a malta trabalha para aquecer?
Feita que está a emenda, detenhamo-nos por um breve instante na polifacética imagem do senhor presidente da câmara. Mas sem insultar, apoucar, gracejar que isso agora dá mau resultado. Não que o homem se chame Moreira mas apenas porque nisto de ofensas um presidente de câmara está logo abaixo de ministro (mas acima de secretário de Estado). Desdouro que se lhe faça e aí temos a polícia municipal a bater-nos à porta, acompanhada para o efeito do tal professor que foi delatar o das piadas anti-primeiro-ministeriais. Ou doutro, de igual jaez, que nisto, de borregar sobre o próximo a dificuldade está na escolha. Mas deixemos essa nova e tão sincera maneira de funcionar publicamente, e passemos ao autarca mor desta paróquia. Parece que vamos ter outra edição daquele famoso prémio de automobilismo que o mundo inteiro nos inveja. Já andam a construir umas barreiras no troço final da Boavista pelo que não será imprudente aventar que aí vem mais uma dose de carros meio antigos para ganhar não sei bem o quê, parece que a câmara está sem cheta, isto é moléstia que lhe foi pegada por Lisboa, só esses mouros é que seriam capazes disso, arre que são vingativos e não perdoam que o glorioso tenha mais uma vez ganhado o campeonato.
Felizmente que o aeroporto de Pedras Rubras está aqui a dois passos e não em Gaia, já viram o que era se um terrorista conhecido do dr. Almeida Santos, ancião profético e enfático (eu disse enfático e não asmático. Eu disse asmático e não asnático, eu quando falo em asnático não quero dizer asinino mas apenas um adjectivo que se refere a asna, peça triangular de madeira que se dispõe na parte superior das construções para sustentar o telhado. Claro que também se poderia aplicar asnático a quem sustenta a construção teórica de uma proposta de aeroporto mas não era isso que me referia, claro), se lembrava de pôr umas bombas nas pontes. Buum! Lá ia tudo pelo ar e os dromedários do dr. Meneses já não podiam aviar-se na baixa portuense. E antes que o dr. Meneses se zangue, quero deixar esclarecido que me refiro não aos munícipes, sequer ao staff da câmara mas apenas aos animais de uma bossa que povoam esse infértil território. Aliás, na baixa portuense, tal como uns arquitectos inteligentes a puseram, já ninguém se avia de coisa alguma. Aquilo sim, não parece, é um deserto. Um deserto empedrado e vazio, triste como uma corrida de automóveis antigos ou como o sorriso franco e gaiteiro do senhor presidente da Câmara que todo o mundo nos inveja.
Ó malta de Lisboa, vocês não querem para vosso autarca o dr. Rio? A malta cede-o com tristeza mas muita resignação. Ele tem um papel nacional a cumprir e Lisboa vale uma missa. Assim por transferência escusavam de andar por aí engalfinhados a discutir os méritos (que são imensos, claro) do dr António Costa ou do senhor, como é que ele se chama?, ai Jesus que não me lembro, enfim, do dr Negrão (ai que alivio, lembrei-me!). Com o dr. Rio até o Tejo corria para dentro, para Santarém, para a Espanha, se caso fosse. Aproveitem que uma proposta destas não se repete.

Estava eu a fazer horas para o leitinho, xixi e cama, a escrever esta crónica, e quando vou pelo blog, zás!, o Carteiro a limpar a testada... Pronto, pronto, eu retiro a pequena e deixo em seu lugar esta abstracção do Poliakoff, pintor de que gosto muito. Está melhor assim?

28 maio 2007

Assim se lançam as famas


Vejam bem: é assim que se lança uma fama sobre um homem. Vem o Marcelo, e lança um postal de boas-vindas com uma boazona; vem o d'oliveira, e mais um postal com uma boazuda. A mim, carteiro ainda imberbe, como bem conta a minha fotografia no perfil. Acho que os dois persistem por maldade, porque me querem fazer mal, a mim, rapaz bem comportado como pode ser atestado pela quantidade de postais que distribuo nas horas em que se sustentam as famas. Por aqui e na minha loja. Ora, tenho eu lá tempo para fazer as coisas que sustentam as famas? E eu não lhes disse, aos dois, e também ao JCP e ao Mocho na noite do jantar, já na rua, onde desfilámos as nossas grandezas e misérias (da minha parte só misérias) sobre essa questão das famas, que era tudo mentira? Bem, para ser mais rigoroso, quase tudo.
A meu favor corre o facto de as senhoras deste blogue - a Kami, a Meu Olhar e a Sílvia, bem como as comentadoras que já me tenham visto- saberem que eu sou rapaz respeitador. Imagine-se o que não iriam pensar se não me conhecessem no meu ar de bom rapaz que, tal como o algodão, não engana, e, tal como o propagandista, não está aqui para enganar ninguém... Mas nem tudo se perde. Ter fama e não ter o correspectivo proveito, talvez acabe por ser melhor do que não ter uma coisa nem outra, afastada que está a hipótese de ter só o proveito, não só por razões que me ultrapassam, mas também porque o proveito é uma coisa que por vezes dá muito trabalho e eu, a bem dizer, ando muito preguiçoso. Pelo menos, em algumas coisas. Já não tenho paciência para correr atrás de paixões e muito menos para andar a fabricá-las. Já corri atrás de muitas, mas nunca fabriquei nenhuma. Sou mais daquele género que gosta de tropeçar nelas, sendo certo, porém, que, infelizmente, não tenho tropeçado grande coisa nos últimos tempos, a não ser na espuma dos dias, coisa que, como se sabe, não provoca grandes quedas.
A minha vida, a esse nível, está assim mais ou menos com a Margem Sul está para o ministro Mário Lino. E, aqui, o camelo sou eu.
your

carteiro

(com um abraço para todos, pelas boas-vindas, extensivo à Sónia e ao Gomez, que continuam fieis ao Incursões)

.

telegrama


Fazendo meus os votos do colega anterior e com um abraço ao Carteiro.

Carteiro, esteja descansado!

A menina aqui ao lado passa multas mas de estacionamento que neste estabelecimento pode-se fumar.

"seu"

d'Oliveira

missanga a pataco 14

Mais missanga mas da boa!

Vamos, vamos que estou com pressa e por isso o título vale quase toda a notícia. O Carteiro volta a fazer o seu giro pelo incursões. Verdade se diga que ele nunca esteve longe dos que aqui vão remando. Sabíamo-lo perto, a ler-nos e isso nos bastava sobretudo porque, por cá, íamos até ao Anónimo estar uns minutos com ele. Depois, o Carteiro é muito cá da casa, começou por aqui ou melhor pelos “Cordoeiros” antecessor deste blog. E cá na casa –como devem ter visto pela fotografia – ele esteve sempre presente, nos aniversários, durante a visita da Sílvia, a nossa agente em Ipanema (coitada, ter de aturar aquilo todos os dias, sol, praia, cidade bonita, um inferno!). Por isso escrever de propósito uma nota sobre o regresso do Carteiro é um solecismo. O homem esteve sempre cá, sempre perto, sempre pronto a dar uma mãozinha. Só volta quem partiu e eu julgo que o Carteiro nunca se foi de vez. Digamos que foi dar uma volta ao bilhar grande, como se dizia em tempos mais felizes.
As leitoras decerto que exultarão com esta novidade que já o não é porque aí mesmo no rés do chão ela se expõe inteira e risonha.
E nós? Ora a malta viu o Carteiro á entrada, com o eterno cigarro ao canto da boca e limitou-se a dizer: a cerveja fresca continua no frigorífico e o lugar à mesa (da alegria) já está posto.

na gravura: uma pin up de Aslan (homenagem dupla: ao Carteiro e ao José)

O carteiro toca sempre duas vezes (ou mais)



Bom dia

No mais completo segredo – apenas partilhado com a Kami, que andava a assediar-me (salvo seja!) há uns dias – eis-me de regresso ao Incursões. Calma, malta! Desta vez, não para estar aqui todos os dias a cumprir serviço público, como tantas vezes aconteceu. Desta vez, mais devagar, que eu já sou um homem com certa idade e, confessadamente, já não tenho o mesmo vigor que tinha para aguentar duas lojas. Continuarei n’ O Anónimo em regime de produção intensiva, e por aqui a espaços. Mais ou menos curtos. Habituem-se.

Confesso que ainda não sei como vou reger estas duas participações. Um registo por aqui e outro diferente por lá? Dez postais para lá e um para aqui, aleatoriamente? Conforme me der na gana? Ver-se-á com o andar da carruagem, que eu tenho cada vez menos certezas e cada vez mais dúvidas, prova de que a idade nem sempre traz sabedoria.

Certo, certo, é que tinha saudades vossas. Imaginem! E de andar por aqui. Imaginem, também! Um tanto dado ao sentimentalismo, presumo que o jantar de sexta-feira me incentivou a voltar. Aproveito para esclarecer que o meu regresso não tem nada a ver com qualquer desilusão na minha empreitada solitária: O Anónimo vai de vento em popa, se não em qualidade, pela amabilidade dos cada vez mais leitores que o visitam cada vez mais regularmente.

Como contrapartida deste meu regresso, espero que os demais fiquem mais activos e mais presentes. Um recado que, obviamente, não é para o Marcelo que, coitado!, acabou por ficar com o meu encargo de debitador-mor de caracteres, alternância essa que foi um ganho para os leitores.

Ora, vamos lá ver se isto anda ou não anda!

Abraços para todos, do
yours

carteiro
.

27 maio 2007

missanga a pataco 13



Quarta carta à Sílvia sempre em tom de má língua

Pois é querida Amiga, você aí abandonada nessa triste negrura que, como se sabe, é o Rio de Janeiro, à beira de um mar frio, bom para focas e pinguins e nós cá na maior a celebrar o 3º ano incursionista num restaurante amável no Passeio das Virtudes. Passeio das Virtudes é o nome da rua que se alcandora sobre o rio bem lá em baixo e não substantivo a nomear os inomináveis seis alegres convivas no restaurante A Rosa, escolha sempre inteligente e acertada do nosso JCP. Passeio das Virtudes é nome recente, enfim de há dois ou três séculos, nome de uma quinta brasonada de que hoje resta parte do solar transformado em sede da “Árvore, cooperativa de actividades artísticas”, coio de malfeitores (pintores, gravadores e escultores, tudo gente de desconfiar, claro que isto de artistagem é o piorio...).
Na verdade o lugar chamava-se “mija velhas”, como bem me ensinou o Manuel Matos Fernandes que já descansa à mão direita do Senhor. Confesso que não sei de onde vem o apodo, coisa feia; mija velhas?, seriam bruxas?, excomungadas?, mulherio de maus costumes já em pré reforma nesses tempos bárbaros em que os quarenta anos significava pés para a cova? E mijariam as ditas cujas? Mija velhas é seguro. Ali mesmo a cem metros da velha porta do Olival, da muralha da cidade, do antigo bairro judeu dito de S. Miguel, tudo isto extra-muros do velho burgo na altura pertença do bispo da cidade. Depois os poucos burgueses revoltaram-se, o rei interpôs-se e o bispo ficou reduzido aos altos, catedral e seu paço e cá em baixo a arraia miúda folgou.
Mas perdi-me. O que eu queria era contar-lhe o repasto, a festividade. Claro que, marcado para as oito e meia, só começou às nove e tal. Eu que cheguei a horas tive de esperar pelos nossos amigos uma boa meia hora! Depois lá foram chegando, sem vergonha alguma, sem desculpa alguma, enfim o costume. Só o Mocho Atento é que murmurou qualquer coisa como uma consulta tardia a um cliente. Estou a ver que algum desgraçado apareceu por lá fugindo da cadeia ou dos credores e o Mocho, zás!, anda cá que já bebes!. Deve ter ganho com que pagar os próximos cinquenta jantares incursionistas que clientes de advogado à sexta feira é sempre ocasião para ganhar a semana.
Do jantar pouco lhe conto. Tivesse estado presente, ora essa! Todavia sempre lhe digo que o arroz de garoupa à moda da ilha de Luanda era mimoso e bem fornecido e que a subsequente carninha mereceu elogios de toda a gente. Os vinhos cumpriram com brio e os morangos em molho de chocolate (e algum álcool branco que me escapou) estavam óptimos. A coisa aliás foi assinalada pelo nosso JCP que sacou de um enorme charuto, desses verdadeiros e caros, que fumou com indizível deleite. Parecia uma dessas velhas locomotivas do oeste americano que mesmo no cinema deitam fumo para toda a sala, está a ver o género?
Claro que os derradeiros resistentes, conversaram que conversaram até ás três da matina, à porta do restaurante, numa noite quente (ou que a amizade fazia quente), uma dessas noites que prenuncia o S João mas sem orvalhadas, uma noite pura e limpa, aconchegada que se recheou de historietas e gargalhadas. Temos de repetir estes encontros com muito mais frequência pois são agradabilíssimos. E mais serão consigo presente. A menos que queira que esta alegre e galhofeira trupe se desloque para o Rio de Janeiro...
Receba para si e para todas as leitoras que nos acompanham um beijao deste seu
mcr

Na gravura: mostruário de charutos cubanos, de Cuba, do género que o JCP consome...

(...) "os nomes que podiam não sair são os que saem e os nomes de que importava libertar o candidato são os que ficam. "(...)
"Quem acreditará na viabilidade do combate à corrupção que um independente, politicamente anémico, quer travar, quando o vir rodeado da gente que, no mínimo, o não travou durante a presidência do anterior independente politicamente anémico? "

Nuno Brederode dos Santos

Vale a pena ler na íntegra, aqui.

Logo surripiado daqui.

As Mãos da Escrita



Acontecimento e objecto comemorativo do 25.º aniversário do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea (ACPC), esta exposição tem por finalidade honrar o manuscrito autógrafo nas suas múltiplas facetas – de testemunho do processo de criação textual, de monumento integrante do património cultural, e de documento das marcas físicas do autor nos seus materiais de trabalho.

Esta Exposição tem dois patronos: Almeida Garrett e António Pedro ... saber mais aqui


Biblioteca Nacional (Lisboa, Campo Grande, 83)

de 31 de Maio a 24 de Agosto 2007

Até 14 de Julho:
Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h -17h
Encerra domingos e feriados
---------------------------------
A partir de 16 de Julho:
Dias úteis: 10h - 17h
Encerra sábados, domingos e feriados
---------------------------------

Visitas guiadas: quartas-feiras,16h

Inf. e inscrições: rel_publicas@bn.pt; tels.: 21 798 2428 / 21 798 2124

Festa da Cereja e do Mundo Rural


Fui hoje, sábado, à Festa da Cereja e do Mundo Rural na Quinta Bonjóia, no Porto. Acaba amanhã. Vale a pena lá ir. A quinta é excelente, a feira não é muito grande mas tem muita coisa boa para comprar e para petiscar.
Vale a pena.


26 maio 2007

Diário Político 51



A girl for all jobs


Começa a ser conhecida a biografia profissional da heróica defensora da honra e consideração devidas por todos os cidadãos à augusta figura de S.ª Ex.ª o Senhor Primeiro Ministro de turno.
Ao que parece a distinta senhora fez o curso de educadora infantil e mais tarde uma licenciatura em ciências de educação se é que isto quer dizer alguma coisa a alguém.
Durante pelo menos doze anos foi dirigente sindical. Daí saltou para a coordenação de um programa de formação profissional (se é que isto significa algo mais do que um lugarzinho ao sol) de professores do Ministério da Educação. Daí transitou para a DREN (desconhecendo-se por quanto tempo, em que cargo e com que responsabilidades). Da DREN transitou para o gabinete ministerial de Santos Silva durante o consulado Guterres. Supõe-se que nos quase três anos de governo PSD terá regressado a uma base qualquer (sindicato? De novo a DREN?). Findo esse período, agónico eis que a vitória eleitoral lhe abre de novo perspectivas aliciantes. Desta feita é a direcção da DREN. Presume-se, da leitura do jornal, que esse cargo não lhe foi atribuído por concurso mas apenas por “confiança política”. Ou seja, pelo que se vai vendo, a criatura é mais uma das “girls” que com o viático da inscrição partidária vai obtendo um “job”.
Como nota simpática, refira-se que a tal sindicalista de muitos anos proibiu os professores de participar em plenários sindicais no caso destes coincidirem com o horário de serviço. Tal proibição aplaudida por toda a gente de bem foi estranhamente revogada pelo Secretário de Estado da Educação. Sª Ex.ª não terá compreendido o enorme alcance político e laboral da sensata decisão da senhora directora. Uma maçada! As pessoas a darem o coiro ao manifesto e vem de lá um político a estragar tudo. Assim não se consegue mostrar serviço!
Os jornais de hoje, sexta-feira, dão a entender que no grupo parlamentar socialista há “um certo desconforto”.
Um ignoto deputado considerou que se devia arranjar pessoas com um perfil “mais político que técnico” que percebesse melhor o alcance de alguma atitude mais voluntarista.
Convém dizer ao senhor parlamentar que mais político que isto não há, a menos que se permita a este género de criaturas matar os oponentes, pô-los a ferros numa enxovia, envia-los directamente para um campo de concentração, ou na falta dele para um dos ainda existentes curros de Caxias. Estou a ser severo? Pronto, dar-lhes publicamente cem chibatadas nas partes pudendas. Ainda é muito? E se forem só cinquenta?
O douto deputado poderia, com mais um ligeiro esforço de meninges, sugerir que nas DRE e nas organizações similares, só chegasse a director alguém com conhecimentos técnicos, carreira, currículo apropriado e POR CONCURSO. Assim se evitava este enxamear das direcções gerais, das repartições, dos institutos, das unidades, das secções e núcleos pelos afilhados políticos do partido no poder.
Claro que já se sabe que isso nunca acontecerá. A tão atacada função pública que desde há anos (e já são muitos) sempre teve dirigentes escolhidos por compadrio, por carteira de associado fiel e com as quotas em dia, poderia tornar-se competitiva, eficaz, moderna e atraente. Porque é preciso que se diga que tudo o que se tem escrito sobre a FP esquece, esconde, subtrai este dado aterrador: a FP depende, desde há muitos anos, dos dirigentes escolhidos pelo partido que ganha as eleições. E é isso, isso exactamente, que fez e faz com que a máquina do Estado seja o que é. Governada por incompetentes ou por dependentes (e geralmente pelas duas coisas num só) a FP de há muito que não tem possibilidades de se redimir. E pior: em época eleitoral é um ver se te avias. Toma lá ordenado, toma lá um privilégio de merda, toma lá uma progressão na carreira, uma isenção de concurso, etc., etc.
E é isto, esta miserável manipulação DO QUE DEVERIA SER A ESPINHA DORSAL DO ESTADO que faz com que as coisas tenham chegado onde chegaram. E os remédios untuosamente propostos por uma chusma de justiceiros (normalmente funcionários públicos também, sejam eles investigadores em institutos, professores de direito em Coimbra, ou noveis secretario/as de Estado) que falam, escrevem, zaguncham (mas pedincham) e acabam por, virgens pela décima vez, fazerem o coro sinistro de apoiantes do governo, este ou outro qualquer que os recompense (e recompensam sempre com uma comissãozinha, um grupo de estudo, uma missão, uma comenda ou tudo junto) pelo trabalho ingrato de chiens de garde.
A criatura que dá origem a esta crónica ainda está a meio do cursus honorum que cabe a este pessoal político que ainda não chegou a deputado, ministro ou governador civil (para já não falar na direcção de uma das muitas grandes empresas onde o Estado tem poderes directos ou indirectos de nomeação... E todos sabem do que falo, espero).
Já se gastou com ela mais cera do que a que compete a tão ruim defunto. Isto é assim mas vai ser pior. Há uns anos um dirigente nortenho de uma administração de saúde atreveu-se a dizer que em caso de igualdade escolheria sempre um camarada político. Foi demitido pela ministra responsável. Hoje seria condecorado. E promovido.
O tempora, o mores!

Na gravura: um grande trabalho de Torii Kionobobu.
O título combina Guterres e Robert Bolt, autor da peça que também foi levada ao cinema por Fred Zineman.

missanga a pataco 12



Fraquinho, fraquinha...


Eu bem tento entusiasmar-me com a Feira do Livro (a do Porto, convém esclarecer...) mas confesso que ontem a expedição correu mal.
Apresentei-me logo pela abertura para evitar o povo ávido de cultura, as criancinhas sedentas de leitura e um tipo que costuma encontrar-me, maravilhar-se com a minha presença, entabular conversa e finalmente sacar-me um empréstimo por conta de um emprego em que vai entrar dali a dias. Tem um estilo extraordinário e uma coragem fora do comum. Eu só o reconheço a meio do show e, nessa altura, fico atrapalhado porque não consigo correr com ele. Normalmente liberto-me com uma pequena dádiva porque de facto não tenho lata para o pôr com dono.
Dizia que a expedição teve fracos resultados porque, sendo um leitor contumaz, começo sempre por dar uma vista de olhos, comprar alguma coisa que me surpreenda, e munir-me dos catálogos que, posteriormente lerei no remanso de uma esplanada ou em casa, anotando futuras compras e certificando-me que não tenho os livros que ambiciono.
E comecemos por aí: algumas das editoras interessantes ainda não tinham catálogos disponíveis. Convenhamos que isto denota uma falta de profissionalismo das gordas. Provavelmente guardaram os poucos catálogos disponíveis para Lisboa e a província que aguente. Se fossem função pública o que não se diria. Mas são empresas privadas e a essas tudo se perdoa...
Segunda observação: os livros do dia são, no mínimo, penosos. Uns monos que nem para assentar uma mesa desequilibrada servem. E o desconto, 20%, não é entusiasmante nos poucos que são menos abortivos.
Terceira observação: a Feira é feita por editoras que, para vender os livros, fazem preços baixíssimos às grandes superfícies ou às principais cadeias livreiras. Mas, mesmo que esqueçamos o desconto imoral que fazem a estes clientes, poder-se-ia pedir que na venda directa fizessem um preço ligeiramente superior ao que fazem aos distribuidores. Ou pelo menos o desconto que se faz aos livreiros e que nunca é inferior a 30%. É que aqui o lucro é imediato, não esperam pelo pagamento 90 ou 120 dias.
10% é o que a FNAC e muitas livrarias nos dão correntemente. Ou seja: não vale a pena ir à feira, perder tempo, sofrer um calor infernal, apanhar encontrões, ser cravado pelo preopinante de que acima falei. O lucro imediato de que já falei permitiria um esforço que parece ninguém está disposto a correr ou a pedir. Depois queixam-se do fraco resultado da feira...
Em suma: se forem à Feira comecem por ler os catálogos porque à vista do público estão os monos a empandeirar depressa ou os livros que “ficam bem” numa estante na sala. Os outros há que procurá-los nas estantes da barraquinha se é que lá estão.

A gravura é apenas a fotografia dos incursionistas presentes no jantar (excelente) do Porto. Da esquerda para a direita: a Guilhermina (o meu olhar) o Joaquim, marido da anterior e incursionista honorário, o José Carlos Pereira (JCP) o “carteiro” (Coutinho Ribeiro agora estabelecido no Anónimo, blog a não perder) , o David Ribeiro (mocho atento) um tipo com uma piada extraordinária e finalmente mcr com menos dez quilos do que no ano passado.

25 maio 2007

Viva o blog


De: Maria José Carvalho
Data: 25 de Maio de 2007 12:44:11 GMT+01:00
Para:
Assunto: VIVA O BLOG!!!

Querido(s) Tu (Vocês), o(s) do dom da sensibilidade à arte

Não podendo estar na mesa redonda convivial dos incursionistas (bloguistas e leitores), estes peregrinos de partida para terras do Vouga dizem-vos do gosto em vos lerem.
Não esmoreçam NUNCA, neste MEDO envolvente...
Abraços do fundíssimo de nós,(…)
A fiel amiga Zé e seu excomungado Zé

da leitora M J Carvalho e do José Matoso recebeu-se este mail que se junta aos dos muitos leitores que nos animam a continuar aqui
Estejam descansados que a gente continua









para conheçer a programação diária
(conferências, sessões de autógrafos, etc.)

saber quais os livros do dia

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e mais informações

Farmacia de serviço 33


Feirar na feira


Feirar: 1. o mesmo que enfeirar; transaccionar (Houaiss).
2. Comprar na feira (GDLP).
3
O mesmo que enfeirar; .fazer compras na feira ou fora dela (Cândido de Figueiredo ).

Desculpem o recurso às autoridades dicionaristas mas há um leitor (atrevido!) que me acusa de usar palavras inexistentes, esquisitas ou difíceis.

A feira está por aí a rebentar. A leitorinha prevenida vai até lá já com a lista feita. À cautela aqui vão umas sugestões que as férias (olha uma palavra com o mesmo étimo de feira) estão a anunciar-se e nada melhor que um guarda sol, cadeira confortável, muito mar e um livro para ler.
1 Erico Veríssimo. Esse mesmo, o do “Olhai os lírios do campo” mas agora em tom maior como convém a uma grandíssima e belíssima saga: “O tempo e o Vento”. Ou seja, a vida de várias famílias ao longo de um século (aliás mais) no Rio Grande do Sul. As guerras de ocupação e fixação de fronteiras, a revolução farroupilha o nascimento de um poderoso Estado do Brasil de onde vieram alguns dos mais notáveis políticos brasileiros. Saiu agora o segundo volume: “O Retrato”. Não percam. É absolutamente fascinante, está pejado de personagens fortes, já nem falo nas mulheres..., e para glória dos trinetos (a minha geração) aparece lá um certo dr. Winter. Eu não resisto a desvendar quem é: nada mais nada menos do que o médico prussiano, Ernst Richard Heinzelmann, nascido em Havelberg a 4 de Janeiro de 1820. Convidado a vir para o Brasil chefiar uma missão de combate a um par de doenças tornou-se cidadão brasileiro por decreto do imperador Pedro II e constituiu família neste pais e naquele Estado. Razões bur(r)ocráticas de um funcionário do Registo Civil impediram o meu pai de juntar este nome aos restantes de família.
Jorge Amado e Guimarães Rosa, consideravam Erico um grande escritor, uma leal amigo e um homem de grande qualidade. Basta ler a esse respeito o que Amado escreve sobre Veríssimo em “Navegação de cabotagem”.
2. E aqui está a segunda sugestão: “Navegação de cabotagem” o mais delirante livro de memórias que conheço. E o mais bem humorado... São às centenas as histórias sobre um gigantesco conjunto de escritores, pintores e músicos que encheram os anos 20 a 60. De todos os lados, todos os continentes, todas as línguas. Uma espécie de história intelectual da inteligentsia desses anos. Imperdível. Aconselhei este livro a um largo par de amigos que ainda hoje me agradecem!
3. E agora um velho amigo meu, trota-mundos, poeta, jornalista de viagens, romancista e historiador: Fernando António Almeida. Dele acaba de sair “Fernão Mendes Pinto”, que tem por base a tese apresentada há trinta e tal anos na universidade de Liége. Quem, pela feira, der com “Esmirna, cidade azul” ou “Marina noiva da vida”, arrisque que são duas agradáveis novelas.
4 Julgo que a “Taschen” não tem barraquinha na feira. Se tiver atirem-se a “Description de l’Egypte” (que é nada mais nada menos do que o sumptuoso relatório ilustrado da expedição científica que acompanhou Napoleão) e a “Berlin” um recentíssimo livro sobre esse especial lugar do meu contentamento: “Berlin, the spirit of Berlin” (há também em francês e alemão, 50 €).
5 Terminemos este pequeno périplo com António Faria, cineasta e escritor (“Emenda e soneto” para quem se lembra): “Linha estreita da liberdade (a Casa dos Estudantes do Império)”, Colibri ed.
A “casa”: um espaço mítico nos anos sessenta. O ponto de encontro dos estudantes vindos das colónias e dos seus (muitos) amigos metropolitanos. Ficaram lendárias as festas que lá se faziam, onde pela primeira vez se ouviram as “coladeiras” de Cabo Verde os a “marrebenta” de Moçambique! E os kwelas da África do Sul... A casa foi o viveiro de muito dirigente africano mas foi ainda mais um espaço de descoberta de uma outra realidade social e cultural. Foi na casa que primeiro se editaram Craveirinha ou Viriato da Cruz para já não falar em Luandino Vieira.
Ler hoje a história dessa associação de estudantes violentamente encerrada em 1965 é ler uma página de liberdade, da liberdade possível desse tempo.

Post-scriptum que não tem nada a ver: em tempos que já lá vão, a instâncias de um qualquer amigo comum, cometi a imprudência de emprestar vários livros editados pela Casa dos Estudantes do Império a uma pessoa que, dizia-se, andava a estudar literatura africana. Até hoje, várias décadas depois, os livros se bem que assinados ainda não regressaram ao seu lar de origem. Este é o primeiro aviso (e ainda não traz nome nem sexo de quem ilegitimamente os mantém na sua estante) no sentido de se obter a sua devolução: os leitores e amigos lisboetas fariam o favor imenso de fazer circular este apelo entre os seus conhecidos sobretudo se especialistas de literatura africana: mcr, o generoso (ou o parvo) requer imediato envio da sua propriedade. Senão...

Hoje, dia do jantar dos incursionistas, saem duas gravuras roubadas respectivamente aos livros citados (Berlin e Description...)

24 maio 2007

A oposição que reage

Ao lermos o que aqui e ali se vai escrevendo sobre a “actualidade” nacional, constatamos que a oposição, à falta de agenda e de convicções próprias, limita-se a seguir os temas que os media (e os blogues) colocam em cima da mesa.

Ideias, programas, acções, propostas com princípio, meio e fim? Não, o que vale mesma a pena é cavalgar a onda que a comunicação social arrasta, seja à volta de um certificado de habilitações, de um processo disciplinar ou de umas afirmações meio tontas de algum membro do governo.

Com esta oposição, diferente entre si, mas muito fragmentada, não será fácil apear Sócrates. E o caso não mudará muito de figura com a vinda de Portas, Menezes e outros que tais. São políticos que falam assertivamente para as televisões e os jornais, mas de reduzida espessura para aquilo de que o país precisa.

Au Bonheur des Dames 66


"Aqui estou, aqui fico"*

Mesmo sabendo o que sei, e sei tão pouco, finalmente;
mesmo irritando-me a cada dia que passa, e não me faltam os motivos que esta terra é madrasta, sáfara, mais areia do que outra coisa, e a outra coisa é pedra, penhasco, seixo rolado, ervas bravias onde o milagre dum fruto representa anos de trabalho sol a sol, de esforço, de suor e de má paga.

Um polícia perguntou-me, oh há quantos e quantos anos, porque é que eu não emigrava, tinha curso acabado, não tinha deveres militares a cumprir nem filhos, enfim, nada ou quase. A minha resposta foi essa: aqui estou, aqui fico, que eu sou do mar bravo, da areia da praia, do fumo da mina de carvão, do prato de sardinhas partilhado, mais o pão e o azeite.
Sou como as tamargueiras se é que ainda as há. Agora a moda é plantar palmeiras à beira mar como se a palmeira fosse nativa destas terras, raio de gente que despreza o que é seu e eucalipta os montes e empalmeira as esplanadas das praias.
Sou, disse, como as tamargueiras que aguentam a nortada e o ar salpicado do mar, o mar que foi um destino e já o não é, o mar que sustentava parcamente os meus amigos de infância, como se o peixe só se deixasse apanhar à custa de muito esforço e ocasionais naufrágios.
Sou duma terra de pescadores que não sabiam nadar. E de pouco lhes serviria nadar. Nos mares gelados da Terra Nova quem caía do dóris bem se podia encomendar à Senhora da Encarnação porque, no meio do nevoeiro e do frio, que só o sino do barco e alguma ronca atravessavam, não havia salvação.
Sou duma terra que via partir os lugres bacalhoeiros, com um nó na garganta. Cada partida era uma aposta contra o tempo, contra o mar, contra a morte mais presente mil vezes que a vida.
Sou de uma terra, melhor dizendo de um areal mordido pelo vento norte, onde os santos eram acarinhados e ameaçados ao mesmo tempo. Vem daí esta perpétua zanga comigo, com o meu país, com o único país que tenho e que, raios me partam!, quero ter.
País adiado, embiocado em virtudes públicas e parcos e privados vícios, país do soalheiro, da pequena inveja, do piolho na costura, da fossa na praia a céu aberto.
Vai-se por ele, lá fora, nas estranjas, e a cara é outra: a humildade é a mesma mas a determinação é mais forte; a raiva de vencer quando, vencido, se deixou o terrunho amargo, transforma o portuga emigrante num trabalhador qualificado primeiro, num cidadão logo de seguida.
A alegria será mais seca, menos contagiosa, mas já não há na gargalhada breve a resignação ancestral, a tristeza amável, a dorida pergunta sobre a miséria desta vida.
Ah se pudéssemos trazer como imigrantes todos os nossos imigrantes... Se pudéssemos aprender cá o que eles aprendem lá, na lonjura, na dificuldade, na saudade (na saudade, porque não?) que país não seríamos...
Se pudéssemos reaprender o uso da liberdade, o verdadeiro uso da liberdade, que de caciques pequenos e grandes, de excelentíssimos e ilustríssimos, grandes e pequenos, que de vocemecês não estaríamos livres...
Se soubéssemos escolher dentre as modas importadas, um pouco mais de Proust e um pouco menos de “hola”, um pouco mais de rigor e um pouco menos de “eduquês”, um pouco mais de história e um pouco menos de lenda, que Holanda nos bateria nos confins de Colombo, se é que isto diz alguma coisa a alguém?


Isto, como o título eventualmente indica era para ser um texto amável e impertinente sobre este pequeno espaço chamado incursões, esta casinha de pasto de porta aberta e franca a quem passa e entra por um copo de vinho, umas azeitonas ou um pão adubado duma fatia fininha de salpicão. Mas a mão, esta mão esquerda e pecadora, enganou-se, trocou-me as voltas, e trouxe-me três sílabas salgadas para o ecrã. Que fazer? Rasgar metaforicamente este ilusório papel, ou dobrá-lo meia dúzia de vezes para fazer um barquinho infantil, encomendá-lo ao vento, às ondas do mar de Buarcos e deixá-lo ir, cumprir o seu des(a)tino?
As leitoras (e hoje esta vai, especialmente, para a Eliana Gersão, amiga de há quarenta e sete anos!...) e os leitores que fazem o favor de me ler, desculparão este desabafo mas, se não for convosco que falo, com quem então? É que às vezes dá-me esta apagada e vil tristeza e nem o exemplo do Fernão Mendes Pinto me salva da melancolia.


*Nb: tenho a vaga suspeita que o título hoje usado corresponde ao de uma canção (Reggiani?) ou a um verso de uma canção. Haja uma alma caridosa que me ilumine.

Na gravura: forte de Stª Catarina, Figueira da Foz: daqui partiram mais barcos, muitos mais!, do que regressaram...

Missanga a pataco 11


(......)
Notifica-se Vª Exª na qualidade de Falecido, nos termos da lei e para os efeitos mencionados

Para no prazo de 10 dias, vir aos presentes autos, levantar a certidão requerida.

(....)

com uma lupa o leitor poderá ler na gravura este saboroso texto que é, eventualmente, a primeira comunicação com o Além para fins vagamente juridicos.

agradeço a quem enviou esta fotocópia, obviamente. E verifico com prazer que neste capitulo das ciencias da comunicação estamos á frente de qualquer outro país excepção feita do Vaticano e...mesmo assim pedimos meças.

23 maio 2007

Estes dias que passam 63



grão a grão...

Eu não conheço o senhor professor espirituoso nem a sua chefe ultra-sensível. Nem tenho qualquer vontade de os conhecer, acrescento. Primeiro, porque o cavalheiro em questão não me aquece nem arrefece, mesmo quando conta anedotas. Segundo, porque de polícias & similares fiquei cheio nos anos – e foram bastantes! - em que vivi sob a pata de gente “sensível” e muito atenta às ofensas contra os poderes públicos.
Portanto a tal criatura que vê numa brejeirice uma ultraje às instituições não faz parte do círculo onde costumo e quero continuar a circular.
Estas coisas são sempre assim: há um “inner circle” de poder, distante e majestoso quantum satis. À sua volta desenvolve-se uma espessa camada de pessoas que do círculo dependem e que tratam do que em França se costuma chamar “les basses besognes”. Eu não estou a ver o senhor primeiro ministro a incomodar-se com o senhor licenciado Charrua. Era o que faltava!
O senhor primeiro ministro sabe, ou devia saber, que para as charruas há sempre alguém que as puxa, empurra ou deita fora. No caso, uma senhora directora duma delegação regional de educação do norte. Provavelmente, essa senhora, está nesse lugar, por nomeação. Pode acontecer que antes nunca lá tivesse trabalhado. Mas mesmo que seja da casa, pode acontecer que não passe de uma técnica superior de segunda classe, ou até dessa novel sub-espécie de funcionários, os CIT. Um CIT é um contratado com “contrato individual de trabalho”, isto é uma criatura que não tem o famoso vinculo ao Estado e que pode ser posto porta fora com relativa facilidade.
Esse facto, essa vaga espada de Damocles, ajuda a perceber que, neste momento e dentro das repartições públicas, haja uma coisa a desenvolver-se: o medo. E uma outra: a competição pelo lugar, pelas boas graças do chefe, pela ascensão, pelas boas classificações que agora estão sujeitas a apertadas percentagens, enfim pelo emprego.
Compreende-se que neste ambiente carregado de suspeição, se instale não a política mas a baixa política, a chicana, a delação e o seu prémio, a defesa “a outrance” da ordem estabelecida. Isto não é novo em Portugal: ocorreu durante alguns dos piores momentos da Primeira República, da Ditadura Nacional para não falar de épocas mais recuadas onde uma palavrinha oportuna a um “familiar da Inquisição” podia significar uma fogueirinha simpática para o delatado e uma magra recompensa para o delator.
Já por aqui tive oportunidade de dizer que entendo a liberdade como o supremo bem do Homem. E a liberdade significa que toda a gente pode ter opiniões, expressá-las livremente sem receio de perseguição. Claro que a liberdade tem naturais fronteiras. Mas essas não são a de interpretação subjectiva que pode entender como insulto uma brejeirice pura e simples ou uma tontaria. No caso em apreço, algo que se diz a um ou dois colegas, no recato de um gabinete, durante o intervalo do almoço, parece pertencer absolutamente à esfera privada e não à denúncia pública. Dizer que Portugal é um país de bananas é dizer uma verdade de La Palisse, por muito que me custe, e custa, e que possa ser ofensivo, mas não é.
Dizer “se precisares de um doutoramento e de mais seis anos na carreira só tens de me mandar um fax” é uma mera piada, que pode ser considerada de mau gosto pela sensível senhora directora já citada mas não passa disso, se é que sequer lá pode chegar.
O finado doutor (por extenso) Oliveira Salazar era conhecido em todo o país pelo “Botas” (alusão ao seu hábito de usar uns botins), pelo “Esteves” porque nunca era anunciado antecipadamente onde ele ia mas apenas se informava onde ele tinha ido (Sª Exª o Senhor Presidente do Conselho esteve...). O ultimo presidente da República do Estado Novo era conhecido pelo “Mira Carpetes” pelo hábito de olhar sempre para o chão. Sobre ambos contavam-se centenas de anedotas que conseguiam furar a censura dos jornais e aparecer até em revistas do Parque Mayer.
Nunca que eu me lembre a PIDE se incomodou com tais graçolas antes parece que as considerava meras válvulas de escape idóneas para evitar outra possivelmente piores e com mais alcance.
Foi preciso chegar ao ano 33 da revolução de Abril para vermos uma zelosa funcionária a mostrar que ser mais papista que o papa é virtude e coragem cívica. E pelos vistos, os seus superiores, encantados com o facto de haver quem faça o trabalho sujo por eles, acham que não têm nada a ver com isto. Pelo menos é o que se depreende das declarações pomposas de um pomposo cavalheiro que apareceu nas televisões a assobiar para o lado. Segundo a criatura, o processo disciplinar e consequências anexas foi instaurado por quem tinha poder para o fazer pelo que o Ministério não tem nada com o assunto. A senhora ministra que, num primeiro tempo, terá dito – ao que julgo mas corrijam-me se estou enganado – que até um ministro de Cavaco tinha sido escovado por ter dito uma piada (uma piada sobre as pessoas que morriam num hospital público à conta de um poluente horrível!!, seja dito de passagem) pelo que não tinha nada a dizer. Eu também não conheço a senhora ministra, graças a Deus!, mas ,verdade se diga, se isto for verdade, não a quero conhecer de modo nenhum. Porque esta comparação é afrontosa da minha parca inteligência e da minha situação de cidadão. Porque um argumento destes dá a entender que, de comparação em comparação, tudo é permitido. E pior ainda: porque vem declarar alto e bom som que a partir de agora um qualquer gauleiter, um qualquer kapo tem poderes suficientes para erradicar o mal e a caramunha. Hoje processa-se disciplinarmente, amanhã logo se verá. As tiranias não começam com campos de concentração mas com empurrõezinhos, com “safanões dados a tempo” em gente que “pode até ser” do estofo de “perigosos bombistas” como dizia muito justamente o Botas ao António Ferro.
Se a senhora ministra tivesse o bom senso, por exemplo, duma sua antecessora na Saúde, durante um governo socialista, chamaria à puridade e sem escândalo a tal directora de não sei o quê, dava uma meiga palmadinha no rabinho da criaturinha e punha-a noutro serviço, quiçá mais bem pago mas longe desta porcaria que tresanda a burrice, que faz perder votos, que é sinal de desorientação política e ética.
Claro que eu sempre poderei esperar pelo resultado do tal processo disciplinar. Resta saber se o instrutor sabe duas linhas de direito e se tem espinha dorsal para as fazer valer. E mesmo que o dito Charrua saia ilibado, sempre quero saber se permanece e por quanto tempo na tal direcção de educação, se vai ter algo que fazer por lá, ou se –como acontece tantas vezes, irá absolvido e vencedor endoidecer suavemente num gabinete sem nada, ou numa simples secretaria colocada num desvão.
Vai uma apostinha?

Os leitores desculparão a ilustração de hoje. Refere-se a um tempo miserável e a um convite à delação, à vergonha: é o célebre affiche rouge colado em toda a França ocupada para demonstrar que os resistentes eram todos uma súcia de judeus, de pervertidos e de estrangeiros.