O Governo Regional da Madeira publicou, hoje, no Jornal Oficial, a portaria que estabelece que os preços dos combustíveis na região ficam sujeitos ao regime de preços máximos de venda ao público.
Esta foi a forma encontrada por Alberto João para domar a colonialista GALP. Agora só falta saber quem vai pagar o diferencial entre o preço fixado pelo Governo local e o preço fixado pela Galp, no caso do custo ser superior ao preço máximo fixado pelo Governo local.
Alberto João deu um forte argumento aos opositores da regionalização, isto no dia em que o Presidente da República colocou o País em suspense por razões autonómicas.
31 julho 2008
Poder Regional - Caso prático
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A Aplicação da Justiça – Exercício Prático
A aprofundar aqui.
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29 julho 2008
Estes dias que passam 120
Ex.ª Sr.ª Directora de Serviços
Em boa verdade eu deveria dirigir-me a alguém com título diferente porquanto ao que me é dado saber os directores de serviços são agora, por fas ou por nefas, directores de unidade. Todavia no aviso em que V.ª Ex.ª me comina a apresentar-me na repartição de finanças da minha área continua a mencionar-se debaixo do nome severo de V.ª E.ª a menção directora de serviços. Tanto faz, dirá alguma leitora mimosa, ou o perigoso mas cordialíssimo Luís Januário que, dos cafundós coimbrões onde alimenta um dos melhores blogs da nossa virtual esfera, fez o favor de me atribuir uma camioneta de leitoras. Antes fosse assim, antes fosse mas, por vezes, tenho a sensação de escrever para um pequeno e amável círculo, coisa que não me afecta mas que me faz pensar que não consigo atingir o tão almejado prémio Nobel por que suspiro. Não pela glória, queridas amigas, que essa viria tarde e nem todos estão para fazer os mesmos fretes do Saramago (que até se presta a ser nome de rua!), mas pelo cacauzinho que aquilo dá. Era uma velhice feliz a que me esperaria se o dito prémio do mister Dinamite me caísse no regaço...
Desculpará V.ª Ex.ª esta divagação mas por ela verá o aflitivo estado das minhas finanças que tantos engulhos causam ao organismo que V.ª Ex.ª superiormente dirige. De facto, não passo de um paisano, mais um!, aposentado. Só num país esdrúxulo, como infelizmente é o caso, poderei ser classificado na classe média alta. E tratado, consequentemente, como um provável evasor fiscal!
De facto, parece que a minha declaração de IRS contem um tenebroso truque. Mencionam-se lá cerca de 500€ aplicados em “PRP”. Foi o meu banco quem me convenceu a tão admirável poupança, foi a empresa de contabilidade, a quem entrego esse martírio que é a declaração de impostos, quem o mencionou no quadradinho competente. Parece que os aposentados não podem ter benefícios fiscais desse género de aplicações! É pelo menos o que consta num minúsculo nº 10 de um artigo de que desconheço pai ou mãe. Houve uma altura em que isso era permitido mas o estado miserável das finanças do Estado já não permite tal dedução.
Portanto, e voltando à vaca fria, eis que me dirigi ontem ao meu bairro fiscal. Surpresa: o bairro já lá não estava. Anunciava-se em grandes letras azuis que se alojaria hoje noutro prédio. Entretanto, os cidadãos cumpridores ou aflitos, poderiam ir levar as suas amarguras, os seus medos, as suas eventuais falcatruas a um bairro fiscal próximo. Foi o que fiz.
Surpresa! Também esse bairro se estava a alindar. Todavia, condoído da sorte dos pagantes, informava que recebia as vítimas, digo, os cidadãos, num acanhado primeiro andar. Uma centena de presumíveis relapsos amontoava-se escada acima, no corredor e nas exíguas divisões onde um par de funcionários esgotados tentavam: a) respirar, b) ouvir o que se lhes dizia, c) resolver o irresolúvel.
Perante este quadro revelador da situação actual do Estado, achei melhor deixar para hoje a discussão do meu caso. Ainda por cima, em casa nova, a coisa deveria poder resolver-se depressa e bem, sem atropelos.
Em má hora o decidi e em má hora o fiz. A nova casa situava-se numa zona que nada tem a ver com as duas freguesias que constituem o meu bairro. Mas havia estacionamento, pago, mas estacionamento. Puxei duma moeda de 1 euro para honradamente pagar o lugar. A máquina não aceitou. Verificando melhor a máquina só aceita moedas de 50 cêntimos ou inferiores! Ou seja a máquina é uma optimista (como a minha amiga Guilhermina!) que julga que uma dúvida fiscal se resolve no tempo de estacionamento correspondente a 50 cêntimos.
Tive de ir tomar um café para obter uma moedinha. A ideia até nem foi má porquanto muni-me do jornal. Já trazia dois suplementos literários (do El País e do ABC) mas à cautela achei que um suplemento de leitura não me faria mal.
Entrei nas novas e faustosas instalações. Uma zona de atendimento para dez pessoas ao mesmo tempo, ecrã avisador do nosso número (apagado) e dois funcionários a atender. Cadê os outros oito? A verdade é que os computadores ainda estavam a ser instalados pelo que aquilo funcionava não a meia velocidade mas a um quinto. O público, algumas vinte pessoas (às 9:15 da manhã mirava os que chegavam com o ar abatido de quem além de perder a manhã poderá perder muito mais.
Ao fim de meia hora e meio jornal lido até ao sabugo, verificando que a fila não andava nem para trás nem para a frente, comecei a protestar e exigi o livro amarelo das reclamações. É que ninguém explicava aos cristãos ali reunidos, na altura já seriam uns cinquenta, o que se passava como é que se processava o atendimento (havia seis ou sete tipos de senhas, ao que julgo).
Lá apareceu o negregado livro transportado por alguém que depois percebi ser o director da chafarica. O homem desculpava-se: os TLP deveriam ter começado a dar sinal para os computadores ás 9:00 de segunda mas só o tinham feito às 2 da madrugada de hoje. Ele e quase todos os funcionários tinham estado ali todo aquele tempo. Estavam esgotados, irritados, o quadro não estava completo, havia gente em férias e ainda nem sequer tinham rebido uma qualquer formação para usar mais alguns maquinismos perversos próprios para nos limpar o sebo e a massa duramente ganha.
Retorqui-lhe que aos funcionários ninguém pede milagres, muito menos horas e horas extra sem pagamento mas tão só alguma criatuvidade. Faltam computadores? Que se criasse um pequeno serviço de rastreio dos problemas de modo a poder despachar quem fosse por lana caprina deixando os casos mais sérios para os computadores que pouco a pouco se iriam pondo em marcha. O homem olhou-me e disse que já tinha uma pessoa a distribuir senhas porque a máquina das mesmas ainda nem funcionava. Para ele esse o máximo que se poderia fazer. Uma pessoa cansada e com sono não raciocina. Expliquei-lhe ao que ia. E acrescentei que de certeza me bastaria exibir os documentos para me poder pôr a mexer dali para fora sem incorrer nas iras e nos vexames anunciados no papelucho registado e com aviso de recepção que me tinham enviado. Foi aí que se fez luz. O chefe do bairro olhou para o meu dossier foi lá dentro e voltou pesaroso a dizer que sendo eu reformado não poderia pedir deduções por um PRP. E que voltasse depois de férias que daí não viria mal ao mundo.
Estou convicto que 90% dos preopinantes que ali estavam (e nesta altura eram já quase 100!) estaria nas minhas condições. Merdices sem importância a que o fisco se dedica com zelo enquanto deixa fugir o peixe graúdo. Só que não havia quem lhes dissesse o mesmo. Também não houvera quem protestasse até eu achar que o que é demais é demais.
Vejamos, todavia, este ponto dos PRP. O virtuoso Governo da Nação passa a vida a avisar os súbditos (porque é assim que somos tratados: como súbditos inconscientes e marotos) que convém poupar, gastar apenas o que se tem, preparar o futuro, pensar numa reforma formada de várias parcelas, sendo que entre elas sempre avultaram os PRP. Porque é que um cidadão reformado, com esperança de vida de mais um largo par de anos não pode poupar para mais tarde? Digamos para daqui a cinco ou dez anos, por exemplo. Assim pouparia ao Estado esse famoso complemento da treta com que o Senhor Primeiro Ministro e os seus acólitos na imprensa obediente enchem a boca. A dedução é risível e não afoga nem afunda o Estado. E diminui a massa monetária em circulação. E eventualmente diminui a inflação.
O Estado acha que não. Está no seu direito, desta vez um pouco torto. No caso em apreço, os serviços do IRS poderiam ter escrito uma cartinha a dizer mais ou menos isto: V. quer deduzir um prp. Está reformado e por isso não pode. Vamos considerar nula tal dedução e v pagara o IRS como se a dedução não existisse. Em caso de desacordo tem “x” dias para vir cá discutir. Não vindo considera-se que concorda.
Simples? Simplex? Mas quem disse que o Simplex (raio de nome!) era para nos facilitar a vida? E que uma coisa destas evitaria gente ansiosa, amedrontada (O fisco é como Fafe: com ele ninguém fanfa!), carregada de papeis, amontoada numa repartição que obviamente ainda os não poderia receber, horas a fio à espera que os chamem, numa confusão de gritos, suspiros, discussões e o que mais se verá.
Já agora: as Finanças não terão quem planeie a instalação de serviços em época baixa de modo a evitar as cenas caricatas e aberrantes que vi, e que provavelmente se repetirão por mais uns dias.
E não haverá quem diga aos desgraçados (e mal afamados) funcionários que dão ali o litro extra que os problemas estruturais não se resolvem com truques conjunturais, como esse de estar até às tantas da manhã a tentar resolver o que uma empresa privada e monopolista não foi capaz de resolver?
E os patetas dos comentadores, dos governos, da deputadagem e assimilados não são capazes de perceber que para fazer omeletas é preciso ovos, ou seja, não é enviando funcionários para a mobilidade especial, reduzindo os quadros, recorrendo a trabalho precário que se anda para a frente e se serve quem afinal tudo paga, isto é o povo, nós todos?
Ouvi algures que neste 1º semestre o Estado pagou por trabalho externo ou algo parecido quarenta milhões tendo poupado em salários de trabalhadores da FP (por saída ou mobilidade) dezoito milhões. Bom negocio!
Senhora directora de não sei quê: passe V.ª Ex.ª muito bem. E o mesmo desejo ao seu ministro, ao chefe dele e a quem mais quiser.
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28 julho 2008
Diário Político 90
minoria étnica...
Não! De facto, não queria. Mesmo que só pagasse cinco euros pela casa, ou nem pagasse e ficasse a dever. A Câmara Municipal, a senhoria, é rica. Gastam dinheiro em coisas bem menos úteis, e cinco euros são cinco euros. Sempre dão para a entrada de uma televisão a plasma, ou de uma play-station para os miúdos. Já viu o que é ser um miúdo de minoria ética e ver na televisão os outros, todos os outros, com play-stations? Então as play-stations são só para os ricos? Para os ricos e para os brancos?
Deixemos isso, que é coisa de menos. Um gajo não é minoria étnica porque quer. É porque sim. Porque é preto. Porque é castanho, em país de azuis. Ou árabe em país de judeus. Ou judeu em país anti-semita. Ou cigano, em quase toda a parte.
E quando se é minoria étnica, normalmente não se tem grande futuro no mercado do trabalho. Há sempre alguém com menos estudos, menos capacidades, menos inteligência que, ao ver-se preterido, dirá que os da minoria étnica são como os emigrantes. Andam a roubar o trabalho dos indígenas! Bem, indígenas, não. Indígena é preto. Ou índio. Ou malaio. Ou outra coisa qualquer, maori, tasmaniano (tasmaniano não porque já desapareceram todos. Parece que os exterminaram como exterminaram os dodots, uns passarocos que não sabiam voar. Um pássaro que não sabe voar e que é grande e gordo acaba sempre na panela de uma qualquer verdadeira, ou falsa, maioria étnica...).
Há uns anos, bastantes, passou por aí um filme chamado “Feios, porcos e maus”. Mostrava como estas três qualidades (se é que são qualidades) se dão melhor em meios pobres, excluídos, marginais. Como a tal Quinta de não sei quê, em Loures.
A propósito da dita Quinta correm rios de tinta. E chovem ainda tiros a esmo. Sempre os mesmos mas tiros de qualquer modo. Já agora, por onde é que andam os rapazes que pensavam que eram o bando de Al Capone no dia de S. Valentim?
Não é por nada, mas apesar de não viver na tal Quinta, não gostaria de me ver metido num tiroteio do mesmo género, um destes dias. Quem anda aos tiros pode acertar em alguém. Se os polícias não podem andar aos tiros quer-me parecer que os paisanos também não. Daí achar que, mesmo no caso de tudo aquilo não ser mais do que o resultado de umas cabecinhas quentes, conviria retirar-lhes as armas, e o calor, recolhendo-os em sítio onde não corram o risco de acertar num quiddam e envolver-se numa série de aborrecimentos que podem mesmo levar à cadeia...
Mas voltemos ao princípio. A televisão mostra umas maquinetas aos miúdos. E eles querem-nas. É natural. A televisão, ou outro meio, mostra casas, piscinas, montes alentejanos, restaurantes de luxo, hotéis em Zermatt, lugar na primeira fila no concerto de ano novo em Viena ou no festival de Salzburg e há cavalheiros que já não são crianças, sequer adolescentes e querem essas pequenas comodidades. Também querem dinheiro no banco, consideração social, prestígio e não sei que mais.
Ao contrario das crianças do bairro problemático, não têm pais que possam ficar a dever cinco euros à Câmara Municipal. Têm de ser eles mesmos a tratar de arranjar essas pequenas coisas que, como o caviar, preenchem a vida, de uma pessoa de bem. E que são caras. Demasiadamente caras...
Como no caso da Quinta de não sei quê, recorrem a meios pouco ortodoxos, ou francamente heterodoxos, para satisfazer os seus humanais apetites. Há mesmo quem lhes chame “corrupção”, feio nome para uma coisa tão simples quanto o realizar um sonho.
E os sonhos, sejam eles de ciganos, pretos, juízes, deputados banqueiros ou crianças são todos feitos da mesma matéria. Em alguma coisa havíamos de ser iguais, que raio!
Algum leitor dirá que isto não tem pés nem cabeça, que isto é um texto descosido e que não se percebe onde é que o autor quis chegar. Tem toda a razão. Todavia correndo o risco de me repetir, repetindo uma frase imortal do meu Mestre, o Cavaleiro de Oliveira, sempre direi: É preciso dar força à Razão para que o acaso não governe as nossas vidas.
Talvez valesse a pena usar essa máxima nos comentários sobre a Quinta não sei quê, em Loures. E pensar que há ciganos bons e ciganos maus, câmaras virtuosas e outras nem por isso, que ser minoria não justifica tudo, não desculpa tudo nem permite que se diga tudo contra ela.
E, já que se está com a mão na massa, avaliar se a armazenagem de excluídos, emigrantes pobres e marginais em bairros específicos é sempre má, ou só às vezes.
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Estes dias que passam 119
A recente aprovação (com os únicos votos do PS) de uma comissão ridícula e inútil (e dependente) conseguiu juntar o país numa gargalhada tristonha se é que me entendem. Com isso as pessoas diziam ao PS que não levavam a sério o seu afã legiferante sobre corrupção e que isso era apenas a verificação da exígua vontade do partido no governo de combater a corrupção.
Interrogado pela televisão, o engenheiro Cravinho disse o mesmo ainda que em termos relativamente suaves.
O dr Alberto Martins, deputado também, ex-militante de um partido a que Cravinho também pertenceu, conotado antigamente com o “sampaísmo” de que Cravinho é assumidamente uma das principais figuras, veio dizer no seu estilo pomposo que “o PS não recebe do eng. Cravinho lições sobre combate á corrupção”. Curiosamente, desta vez não acusou Cravinho de “tremendismo” palavra de que Martins particularmente gosta ainda que se duvide que ele saiba o que ela, de facto quer dizer (dá-se-lhe uma pista? Pois não! Literatura espanhola do post-guerra...). Seria um progresso no discurso fatigado de Martins se, ao verificar melhor, não víssemos que ele tem razão.
O PS não recebe lições de combate à corrupção de ninguém. Nem disso nem de coisa alguma. Nem de combate, acrescente-se. Melhor dizendo, o PS não combate a corrupção. Se calhar é porque acha que ela não existe. Ou que existe em quantidade negligenciável e daí a comissão que propôs.
O público, nós, é que está enganado. Aquilo a que prosaicamente chamamos corrupção não o é. É bom governo, boa gestão dos negócios públicos e privados, água limpa da fonte ou nem isso: água destilada!
Martins, com esta expressão arrisca-se a passar por pateta ou por patético. Ou até pelas duas coisas ao mesmo tempo. É que pode ocorrer que amanhã, o eng. Sócrates diga que Cravinho é um vulto incontornável na democracia e no socialismo português (se já o disse de Alegre porque não o há-de dizer de Cravinho?) ou outra banalidade idêntica e lá temos Martins a fazer o pino.
Mas há mais: a época eleitoral aproxima-se e começa a ser urgente apresentar cara lavada aos eleitores. Mal ou bem, estes têm Cravinho na conta de homem sério, que sabe do que fala, mesmo que, do meu particular ponto de vista, devesse ter recusado o exílio dourado para onde o despacharam (como Ferro aliás, diga-se de passagem).
Ao aceitarem cargos no exterior estes cavalheiros deixaram que sobre eles planasse uma dúvida. E na dúvida, dizia um velho mestre de bridge, paus por baixo. Ou seja: não se aceitam as prebendas que nos dão a título de consolação. Vem na “Eneida”(II, 49) a grande frase de Laoconte: timeo Danaos et dona ferentes. Com isso queria dizer que se arreceava dos gregos mesmo quando estes davam presentes. No caso, o presente era um cavalo enorme de madeira. O resto da história é conhecido. Tróia foi destruída e Ulisses reconhecido como o mais ardiloso dos heróis.
Deixemos, porém, os nossos clássicos, e voltemos ás nossas encomendas. Corre insistentemente, na nossa sociedade, o rumor de que há uma farta quantidade de políticos nacionais, regionais e locais corruptos até ao tutano. De vários apontam-se fortunas escandalosas, enriquecimentos súbitos, divórcios milionários (alguém teria dado à ex-mulher, meio milhão de contos, ou seja dois milhões e meio de euros, para a senhora se aquietar e permitir ao ex-chefe de família um futuro radioso com uma qualquer secretária ou similar com vinte anos a menos e paciência para os achaques da velhice que aliás podem ser suprimidos com a famosa cantárida azul da pfizer), vidas de estadão e o que mais se verá. Mais dia menos dia, estas historietas atingirão os media, quiçá alguma autoridade mais distraída e as ligações perigosas surgirão resplendentes à luz baça do dia.
Um político inteligente, e era isso que se deveria esperar de Martins, teria criticado Cravinho sem aquele arroubo definitivo e ultramontano. Convém ao PS, conviria a Martins, ser mais humilde, que o forno não está para bolos, como dizem os nossos vizinhos espanhóis. E mais elegante, se é que isso se pode exigir ao partido e ao seu coordenador parlamentar. É que a elegância não paga imposto mas dá dividendos. Ao contrario da verborreia e da desqualificação gratuita...
*a gravura foi roubada do blog macroscópio que parece de boa leitura. Obrigadinhos...
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24 julho 2008
missanga a pataco 58
Vem tudo isto a propósito do recurso que umas senhoras procuradoras apresentaram no caso apito dourado. Um juiz entendeu que a senhora Carolina Salgado mentira quanto a um telefonema de que se dizia testemunha. E mandou extrair certidões. E ilibou o senhor Pinto da Costa. Segundo os autos a senhora Carolina estava em Gaia na altura do alegado telefonema feito por Pinto da Costa no Porto. Ora a Sr.ª Procuradora entende que das duas, uma: ou PC contou o telefonema à testemunha Carolina, ou esta conseguiu vir de Gaia ao centro do Porto num ápice ouvindo assim o telefonema. Eu tenho o maior respeito pela Sr.ª Procuradora mas permito-me lembrar que vir de Gaia num pulinho até ao centro do Porto (e resta ainda determinar que centro) é milagre de Fátima desses de tornar Carolina beata ainda mais depressa que Santo António de Lisboa (ou Pádua para as leitoras italianas, se é que as há). Depois, acreditar que Pinto da Costa, galo velho, e com esporões, contaria à amásia os seus telefonemas é forçar uma história. Nos autos, que saiba, nunca Carolina, perdão a senhora Carolina, afirmou que o telefonema lhe fora contado. Ao que se sabe, ela disse que o ouvira em primeira mão ou primeira orelha. Ou seja, a senhora Carolina nunca disse que lhe tinham contado aquela treta.
Mas há esta obsessão por Pinto da Costa a mendigar favores arbitrais depois de ter um campeonato no papo. É caso para se dizer que o diabo do homem pode ser pinto mas é burro. Então, mesmo sem precisar de favores, vai arejar uns tostões só por amor à arte? Para que precisava ele de comprar um árbitro, num jogo que não só já era a feijões mas que sobretudo parecia fácil para o FCP? A Senhora Procuradora terá pensado nisto, na lógica disto, no estranho que é acreditar piamente (na beata Carolina) numa criatura que anda à porra e à maça com Pinto da Costa, e não acreditar no homem, na evidência futebolística e geográfica?
A justiça, desculparão as Senhoras Procuradoras (e aqui o plural vai por via da Drª Maria José Morgado que terá conseguido "descodificar" o telefonema sempre com a ajuda inestimável da Senhora Carolina) não terá mais em que se entreter? Não conviria andar para a frente, por exemplo: investigar outros telefonemas de outros dirigentes para outras personalidades a pedir um árbitrozinho? Ao que parece não faltam casos. E confessados publicamente alto e bom som pelos seus (ir)responsáveis. Será que por não serem do Porto os autores, a corrupção já não é crime? Eu, por mim, estou por tudo desde que as excelentíssimas autoridades assim mo cominem.
Um amigo meu sugeriu-me que pôr em causa a palavra da senhora Carolina é prova de exacerbado machismo. Retorqui se não seria feminismo aceitá-la apesar das incongruências. O meu amigo, sábio e matreiro, mandou-me ler Simone de Beauvoir e declarou que no actual momento histórico o politicamente correcto é aceitar como bom tudo o que for contra o FCP e como mau tudo o que prejudicar outro qualquer clube português.
Sendo um navalista (da Associação Naval 1º de Maio) antigo e exclusivo e detestando por igual os chamados três grandes (enfim o grande e os dois crescidinhos) perguntei se não se poderia mandar o clube da minha terra para a Champions em vez destes já que, assim como assim, tanto vale estar a vinte e tal pontos do primeiro como a trinta ou quarenta. O meu amigo, portista dos quatro costados ameaçou: se persistes nesse mau caminho peço ao Santana Lopes para voltar para a Figueira.
Perante esta ameaça definitiva e crudelíssima, retiro tudo o que se disse acima, entregando-me de baraço no pescoço à piedade indesmentida das Senhoras Procuradoras a quem desde já beijo a fímbria do vestido ou das calças consoante apareçam vestidas. E arrenego do juiz que pôs em causa as declarações da senhora Carolina. Para trás, Satanás!
Vai esta para o meu querido camarada JCP, portista fervoroso, que anda arredado destas lides. Ó homem apareça e diga coisas. Olhe, explique este imbroglio às leitorinhas, V que sabe tudo destes futebóis. Um abraço
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23 julho 2008
ENXOTAR CIGANOS
Se os ciganos tivessem um príncipe real poderiam deitar mão do instituto da Aposentadoria Real e enxotar os escribas dos seus aposentos, para neles se instalarem, até virem melhores dias.
Como não têm um príncipe real nem santo que os proteja, têm que se valer de outros expedientes para encarar a vida, que os enxota de um lado para o outro, sem fim que se veja, apesar de todos os programas de reinserção, que nem matam a fome nem estimulam a trabalhar.
Por isso, de modo deliberado ou não, a palavra choque da notícia é a que deveria ser. Na verdade, a política de integração tem passado por enxotar a gente portuguesa cigana de um lado para o outro, sem glória, diga-se, para nenhuma das partes.
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22 julho 2008
Missanga a pataco 57
Acabo de ver um episódio do CSI. Dá-me para as fitas policiais sobretudo quando estou irritado. E hoje estava mas explico depois. De todo o modo o CSI distrai e faz menos mossa do que as mesas redondas da televisão. E muito menos do que os programas de análise desportiva onde se vêm uns tipos muito enfatuados a “cagar sentenças”c sobre futebol. É demais: eles ainda por cima são regiamente pagos para irem dizer umas burrices supinas que disfarçam mal os apetites e lógicas clubistas. É uma gente que não discute. Diz umas coisas a abater mas se repararem depois do paleio de chacha o que fica é o clubezeco a que votaram uma fidelidade canina e sem limites.
Deixemos isso e vamos ao que interessa. Estas séries estrangeiras que são o pão nosso de cada dia são traduzidas com os pés. Com os pés? Com as patas! Anda para aí um bando de tradutores, uma máfia calabresa que não sabe português, não sabe outras línguas e que também tem uma cultura geral digna do actual programa do ensino secundário, a menina dos olhos da senhora ministra (desculpem mas de repente falha-me o nome da criatura).
Hoje um criminoso em série despachava criaturas nova-iorquinas com um versículo do Levítico gravado. Tomava-se por Caronte, o barqueiro. A querida televisão ou quem paga ao tradutor deve desconhecer que não existe em português nenhum Charon em língua portuguesa. A menos que o actual ministro da Cultura (impagável! Inenarrável!) tenha inventado um novo dicionário para suprir a falta dos que ele inocentemente desconhece. Charon en ingliche é Caronte em portuga. Até novas ordens!
Poderia desfiar um rosário de bojardas ouvidas as mais das vezes nos canais temáticos. Mas não vos quero maçar e maçado já estou eu.
Há dias falei aqui numa “venda de livros” que terão sido de um intelectual decente e digno que quis deixar a sua biblioteca a Famalicão. Uma ex-mulher dele deve ter pensado que isso era um desperdício. Vai daí organizou uma venda. Havia gente, ingénua, que pensava que a freguesia escassearia por saberem das vontades últimas do referido intelectual. Parece que não aconteceu a dita escassez. Um bando de urubus leitores (ou nem sequer isso) precipitou-se sobre os livros em saldo e foi um vê que te avias.
Que lhes faça bom proveito. Á barriga, claro, porque cabeças indiferentes não fazem cidadãos cultos.
2 notícias boas de hoje: no país basco caiu o comando "vizcaia" e o sérvio croata Karadzik foi apanhado. Ainda faltam alguns terroristas espanhóis e alguns criminosos de guerra croatas, sérvios ou bósnios. Mas a coisa vai...
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Estes dias que passam 118
As leitoras que ainda me aturam hão-de ter reparado que eu nem sempre sigo a actualidade. Deixo essa tarefa aos jornais. E aos bloggers que se investiram na missão de comentadores do imediato. Diga-se que nada tenho contra esses colegas sempre na crista da onda. Aliás até os invejo. Eu, que sou um preguiçoso, dos quatro costados, é que não tenho pedalada para isso.
Só assim se explica que hoje, logo hoje, venha falar (com pinças!) no dr. Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos advogados. Da minha ordem, infelizmente. E digo infelizmente porque não me parece que, apesar de todos os nossos pecados (reparem que apesar de não exercer há já muitos anos não tiro o cavalo da chuva) não merecíamos uma criatura tão vociferante, tão tonitruante, tão esbracejante.
O dr Marinho de facto parece um moinho de orações tibetano. Está em todas, sempre a abrir, não deixa pedra sobre pedra. Arreia forte e feio em tudo o que mexe, seja juiz (e deus sabe que há alguns que precisam de quem lhes cante missa e sermão) procurador, advogado, estagiário ou de um grande escritório e, eventualmente, os funcionários judiciais.
O dr Marinho ou sofre de dispepsia ou está zangado. Zangado? Zangadíssimo! Ou, então é a dispepsia, doença maligna que tem vítimas ilustres mesmo entre licenciados em Direito, Eça, por exemplo. O distinto escritor que sofria de algo infelizmente bem pior, queixava-se constantemente da dispepsia. Mas no fundo não acreditava nela. Por isso, quando criticava – e que certeiro era – não procedia como o dr E Pinto. A opinião pública apoiava-lhe as filípicas e as vítimas mortificavam-se amarfanhadas pela ironia do autor d “Os Maias”.
Os alvos do dr Marinho não só não se impressionam com a desfocada verve do bastonário mas até já terão fundado um club aristocrático onde só entra quem mostrar patte blanche: um ataque do dr Marinho. Sem isso, nada feito. Eu, que estou retirado das lides tenho de recorrer a este texto numa tentativa de atrair o dr Marinho para me criticar a barriga, o humor melancólico, a competência profissional, ou o meu imoderado gosto por Rossini (ou tudo junto) a fim de com uma zagunchada do dr E Pinto poder bater à porta do club a pedir a inscrição sem receio de bolas pretas.
Todavia não sei bem como agir: é que eu nada tenho contra o dr E Pinto. Nada! Não o conheço, nunca o vi sem ser em baças fotografias de jornais (que provavelmente não lhe fazem justiça...) e dele só sei o que vejo escrito por ele. E isso, essas catilinárias de faca e alguidar, essa permanente novela avinagrada, pouco me diz. Ou diz-me apenas que o dr Marinho parecendo ter uma alta opinião de si próprio, deve de facto ter uma baixíssima auto-estima. Ele agita-se porque não lhe ligam, porque não lhe reconhecem qualidade (ou a qualidade que ele tem ou julga ter), porque o acham uma mera figura na paisagem, uma espécie de telonero (telonero é em Espanha o artista local que está encarregado de fazer um par de facécias enquanto o artista propriamente dito não chega), um verbo de encher.
Há quem diga, já mo juraram, que o dr Marinho não existe. Assim, sem mais nem menos. É apenas uma invenção malvada dum par de ex-bastonários que zangados com a classe, resolveram inventar uma criatura feita de retalhos de uma larga cópia de personalidades para aterrorizar os adversários e voltar ao poder como salvadores da classe e da profissão.
A coisa tem alguma lógica mas, apesar disso, eu creio que o dr E Pinto existe. A teoria frankensteiniana é uma invenção doentia da pobre da Mary Shelley (que, além de filha de uma feminista, era vegetariana e sofria com as leviandades do marido poeta e mulherengo) e apesar da fortuna que o mito tem tido, não merece grande crédito. O dr Marinho é, pelo contrario, muito concreto, visceral, genuíno como as iscas de fígado ou a jeropiga. Numa palavra gasta depois de Miguel Torga: é telúrico. Existe para nos lembrar de que neste recanto de terra sáfara entre um mar agressivo e uma montanha inclemente e rude a vida é rude. Como o pilriteiro dá pilritos, o dr Marinho dá sentenças. É o azorrague dos infiéis e dos maldosos. Veio para salvar se não o mundo pelo menos a classe dos advogados em vias de extinção. Ou pelo menos, será isso que ele pensa.
Durante algum tempo, pensei que ele apenas queria sair na fotografia. É humano. Um advogado de província tem poucas hipóteses de aparecer na Caras ou na Lux, para já não falar no Diário de Notícias ou no Expresso. A menos que seja um desses leões da Metro, um “barrista” famoso, um desses milagreiros do direito penal, que arrancam criminosos empedernidos das garras da vindicta policial. Não duvidando das incomparáveis capacidades profissionais do dr E Pinto tenho por mim que ele não teve nesse campo a merecida atenção dos media. E portanto, o meio (notaram esta? Media e meio, hem?... é para que saibam!) azado para o reconhecimento público terá sido esta cruzada que, apoiada na dignidade de bastonário dos advogados, promete levar à casa da justiça o ferro e o fogo salvíficos que expulsará uma vez por todas os vendilhões do templo.
Eu deveria estar a ouvir um debate televisivo em que o dr Marinho provavelmente esmagará os contraditores. Mas, vocês conhecem-me: no Mezzo passa ao mesmo tempo um concerto de violoncelo de Bach a que se seguirá um outro de Brahms pela Filarmónica de Berlin, dirigida por sir Simon Rattle. Que E Pinto me desculpe mas Bach é Bach e eu tenho um facataz pela malta de Berlin e pelo Rattle. Não me hão-de faltar oportunidades para me penitenciar, assim Marinho continue.
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21 julho 2008
Responsabilidade social (também) é isto
É claro que os sindicatos procuram logo extrapolar para outras situações e caiem até no exagero de dizer, como a CGTP, que a Impresa “não fez mais que a sua obrigação”. Mas é um gesto aparentemente genuíno de uma gestão, liderada por Francisco Balsemão, que dá um sinal aos colaboradores com funções mais simples de que eles também são fundamentais para a organização e de que a sua recompensa merece ser ajustada em função do contexto difícil que se vive. A Impresa de Balsemão semeia, deste modo, para colher a lealdade dos seus colaboradores e o seu comprometimento com projectos futuros.
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20 julho 2008
Diário Político 89
Há um trecho de Eça que descreve a primeira visita dele a Fradique Mendes. O dia estava caluroso, era o menos que se pode dizer. Eça terá galgado escadas sobre escadas do hotel até chegar aos aposentos de Fradique. Este, se me recordo, mas posso estar a misturar tudo, está reclinado numa otomana a pescar morangos de um recipiente que os manteria gelados. Naquele cenário imponente e esplêndido, Eça limpando o suor com um lenço não terá conseguido dizer senão “Está de derreter os untos”...
Assim vai o dia. Com esta calorina, não há ideia brilhante que se aguente. Há que raspar na caixa dos repetidos, tentar ressuscitar algum apontamento cujo conteúdo na altura não mereceu o imprimatur do escriba.
E comecemos por essa curiosa criatura que dá por Paulo Teixeira Pinto. Agora que se descobrem as manobras do BCP, toda a gente fala (e com razão) do engenheiro Jardim Gonçalves mas conviria perguntar como no poema de Brecht (“César conquistou a Gália. Não teria ao menos um cozinheiro?...) se o ilustre membro dessa contra-maçonaria que se chama Opus Dei, estava sozinho. Não estava. Havia até uma figura bojuda que dava por PTP. Dizia-se que, além de reaccionário, era um fervente membro da “Obra”. Entre estes dois cavalheiros au dessus de tout soupçon e mais um bom par de comparsas giravam milhões de milhões. E o banco nem por isso era invulgar ou especialmente atento aos pequenos depositantes como este vosso criado. Por essas e por outras logo que abriu aqui uma agência dum concorrente transferi o que tinha para os novos.
Mas voltemos ao senhor dr Pinto. Retirou-se da “obra” e do banco. Dir-se-ia que renunciara a toda uma vida. Nem por isso. A generosidade do Senhor, cujos caminhos são ínvios, e do banco, idem aspas, proporcionaram ao nosso artista uma cómoda (é um modo de dizer: com metade já eu cantaria de galo) reforma apesar da idade. Deve ser horrível ser tão novo e ter de se reformar por invalidez. Doença terrível decerto. Só assim se percebe a reforma quando se vê por aí gente mais velho e cheia de doenças ser considerada sã como um pêro e mandada regressar à actividade.
Retirou-se e agora dedica-se ás artes em geral. Só lhe fica bem, apesar de, daqui, deste canto, ter vontade de o prevenir que as artes são, as mais das vezes, malasartes. E trazem com elas um perfume capitoso que disfarça a peçonha do inferno. E à edição. A edição está definitivamente na moda. Depois da LEYA ,temos o renascimento da Ática e da Guimarães editora que andava um pouco sonolenta. Isto agora vai ser um fartote. Vamos ter livros bons, óptimos, a bom preço, bem encadernados, melhor traduzidos, enfim, isto vai ser a biblioteca de Alexandria rediviva.
Mas mantenho: então o banco? Será que alguém vai aparecer como responsável ou estaremos perante mais um filho sem pais, coitadinho do banco?
Num país em que o primeiro ministro se desfaz em elogios a Angola, em que um condenado, (com pena suspensa) convicto de várias tropelias pelos fatigados juízes que lhe aturaram a bizarria e a grosseria, anuncia que vai continuar na política activa, tudo pode ocorrer. Como se disséssemos: tout passe, tout casse, tout lasse...
Dito isto, convirá aproveitar estes comentários, que nem refrescantes são, para mergulhar de chapa na grande discussão da temporada: o optimismo e o pessimismo nacionais. A coisa é simples: quem critica os poderes fácticos ou instituídos é pessimista. Com sorte também é estrangeirado. Estrangeirado é, desde os tempos do meu antecessor o senhor Cavaleiro de Oliveira, um insulto. Essa gente que frequenta os pedreiros livres (os antigos, não a cópia carnavalesca de hoje) e a democracia é perigosa. Põem em questão as eternas verdades lusitanas e o imobilismo atávico que as recobre. Portugal que, para o “brigadeiro” Chagas, era um torrãozinho de açúcar não deve, nem pode, ser posto em causa. E quem diz Portugal, diz a santa religião dos portugueses, o cozido à portuguêsa, o bacalhau com todos, o carnaval de Ovar, o fado e mais um par de coisas todas genuínas e muito nossas.
Se o Senhor Primeiro Ministro não estivesse no poder mas na oposição (credo!, cruzes!, canhoto!) poderia cair na tentação do pessimismo e nesse caso a Drª Ferreira Leite acusá-lo-ia do nefando hábito de frequentar gente pouco recomendável. Felizmente não é assim. As mulheres, desde Eva pelo menos, é que têm ligações ao Maligno. Os homens não. Sobretudo estes, desta nova geração, vermelhos por fora e verdes por dentro, capazes de elogiar os novos sobas do petróleo agora alcandorados à categoria de gente frequentável. E optimista, claro. Com a massa que lhes vem ás mãos até eu era optimista. Aliás, e como disse, meia reforma do dr. Pinto já me fazia feliz. E optimista.
Nota: Clara Ferreira Alves no Expresso de hoje toca em vários destes temas. Com qualidade, humor e a habitual inteligência. Apesar de este texto estar já quase todo escrito quando li o dela, há demasiadas semelhanças. Para salvaguarda minha, ponhamos que esta é uma glosa fraquinha do texto de CFA. É o Verão. E o calor.
d'Oliveira que vai a banhos muito em breve. Boas férias!
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18 julho 2008
Farmácia de serviço 45
Sugestões para um Verão preguiçoso
Ora comecemos pela livralhada entretanto saída.
“Istambul” de Pamuk. Para este vosso criado, uma das melhores obras dele. Acaba de sair a tradução portuguesa, não há desculpa.
Os amadores de história pátria e que provavelmente pouco sabem das guerras peninsulares que estejam descansados. Voltou a ser reeditado o primoroso José Acúrsio das Neves, “História geral das invasões francesas...” que Vasco Pulido Valente (Ir para o Maneta) tanto enaltecia.
A rapaziada mais dada à política pode escolher entre uma embevecida hagiografia de um primeiro ministro de oiro ou a palavra de um homem de bronze: Flausino Torres: “diário da Batalha de Praga”. Vão por este, que mais seguro. A obra foi anotada e coligida pelo neto, o Paulo Torres Bento. Os amigos da Marcela e do Zé Bento (e são ainda tantos) que como eu viram o Paulo ao colo dos pais bem que se podem babar. O miúdo tem a quem sair e sai mesmo.
Quem não tiver caído para o lado com as loas primo-ministeriais à cleptocracia angolana pode começar a tentar perceber a história daquela desgraçada colónia. E pode começar pela biografia do Viriato da Cruz que, até como poeta, era infinitamente melhor do que o finado presidente Neto A obra é coligida por Edmundo Rocha, ele mesmo um velho combatente angolano.
E dois poetas para terminar: Nuno Júdice: “Geografia do caos” e Alberto Pimenta: “Imitação de Ovídio”.
Para os ouvidos delicados das leitorinhas gentis nunca é demais propor um Sinatra (“At the Sands”) ou mais gravemente uma jóia de Gesualdo (fourth book of madrigals for five voices) ou até “secular vocal music” de um certo Sigismondo d’Italia, cavalheiro que viveu entre 1580 (?) e 1624. Ambos os discos são, obviamente, da “brilliant classics”.
Estes tipos da “brilliant classics podiam pagar-me uma avença dada a propaganda que lhes faço. Mais duas colectâneas, desta feita de jazz: “Kind of Baker” e “Kind of Getz” respectivamente do enorme Chet, trompetista de primeira água e do não menos brilhante Stan, saxofonista generoso e leal. Qualquer das colectâneas traz 10 (dez!!!) discos. O preço? Uma surpresa agradabilíssima. Nem é preciso ser rico como um português para os comprar. A “brilliant” é assim.
E uns dvd para amenizar as noites sem programa?
Se os leitores são daqueles que já estão fartos de filmes muito modernos, uma passagem pela amazon ou alapage impõe-se. Essa malta descobre filmes que mais ninguém descobre: “Été violent” (Zurlini) publicado por “les grands classiques du cinema italien”, “L’année derniere a Marienbad (Resnais), “Universal”, “A double tour” un Chabrol demasiadamente esquecido, tanto que só se consegue a referência via internet sob o nome de Belmondo e finalmente “La Chair” seguido de “L’audience” ambos de Marco Ferreri na colecção “les films de ma vie”.
Obviamente poderia indicar outros porventura mais famosos mas justamente por isso dou-vos estas dicas. Valem a pena e sempre se sai dos caminhos mais que batidos.
Incidentalmente, para ver clássicos do cinema ninguém, hoje em dia, precisa de equipamentos pesados e caros, como uma cinemateca prometida para o Porto. Vai uma aposta em como não a fazem? Ou fazendo-a não será uma cinemateca mas apenas um vago entreposto de fitas em saldo. Não será assim que se conseguirá essa coisa simples e eficaz que é (ou era) um bom cineclube. Como o do Porto. Abandonado por todos: espectadores e poderes públicos, ainda que estes últimos sejam os menos culpados. Nesta história o que mais impressiona é a generalizada ignorância dos peticionários e a incrível petulância de quem só agora despertou para as angústias cinéfilas da cidade. Há eleições à vista...
* na gravura: fotograma de "Verão violento" Trintignant e Eleanora Rossi Drago! Que bonitos!
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A CRISE
Crise mesmo foi o que o Governador do BP e outros especialistas descobriram há alguns dias e com isso sobressaltaram o país. O Governo, entretanto, também deu pela crise e vai daí começou a tomar algumas medidas para esbater os efeitos.
Claro que lá fora o fenómeno já se manifestava há mais de um ano. Mas por cá nada de especial acontecia. O crédito fácil, os anúncios a incentivar férias em paraísos, a troca de carro e de casa prosseguiam (prosseguem) como se tudo fosse fausto, riqueza e facilidades.
Agora que os tempos também não correm favoráveis para a banca, a crise tornou-se mais nítida. O desemprego aumenta e a inflação também. A euribor vai galopando e as pessoas deixam de cumprir os seus compromissos com a banca, que lhes fica com os bens e desata a fazer leilões sobre leilões. Bom, isto já é crise. Concluem os sábios.
É neste contexto que os liberais se calam. Podiam continuar a falar para reconhecer a falência do mercado e continuarem a defender o não intervencionismo do Estado na economia. Mas calam-se.
É a hora dos governos darem a mão à Banca e os Fundos. Para tanto criam as chamadas linhas de crédito bonificado, que, em boa verdade, constituem o seguro de vida do próprio sistema bancário, na medida em que dessa forma podem continuar a manter a respectiva política de concessão de créditos, tendo como co-pagador o próprio Estado.
É a hora dos governos comprarem participações de capital nas grandes empresas (Fundos) ou mesmo de Bancos, evitando a sua insolvência.
Afinal o intervencionismo do Estado na economia, apesar de contrário ao princípio “menos Estado melhor Estado”, até é aceitável pelos neo-liberais, desde que se trate de injectar recursos públicos para salvaguardar o seu bem-estar e emprego. Só pode ser esta a razão para deixarem de exigir que o mercado funcione e cumpra o seu desígnio.
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Missanga a pataco 56
Quando acabei de farejar as novidades, fui pelo livro chegado. Era um livro que eu já tinha seguramente há vários anos. “arterosclesose?”, perguntei-me assustado. Ó Fernando eu já tenho este livro. - Mas Você pediu-o. Tenho aqui o impresso do pedido. Esmagado por mais esta mostra da velhice galopante, saquei-lhe o papel da mão. Era um pedido com onze anos!
Aliviado, passei ao ataque num discurso longo e florido, todo em ponto cruz a gozar com uma livraria que no curto espaço de onze anos satisfazia os pedidos da clientela.
Mas o Fernando, batido nestas e noutras, raposa velha, limitou-se a responder que a livraria Leitura nunca desistia de satisfazer um pedido de um cliente demorasse o tempo que demorasse.
Ora ontem, resolvi passar pelas “Zenoficinas”, alto lugar do restauro de quadros, imagens, documentos, tudo. Se os da Zen, especialmente o Senhor Campos, não souberem, ninguém sabe.
Ia por uns diplomas do meu trisavô Ernst Richard Heinzelmann. O velho senhor, nascido nos alvores do século XIX licenciara-se em Medicina em Berlin, na Universidade Frederico Guilherme aí por 1820. Emigrara para o Brasil onde o Imperador D Pedro lhe concedera em vistoso documento uma “verificação da licenciatura”, com fita verde e branca pendente e selo em caixinha de prata. Isso e dois documentos esfarrapados da “alma mater” berlinense eram os tesouros que mandara restaurar.
O senhor Campos lembrou-se logo. Ah, uns diplomas em latim... Estão aí numa gaveta. Às vezes penso neles mas como ninguém reclama vou-os deixando para trás.
Pois considere a reclamação feita e em tom de ameaça mortal. Essa papelada está cá há um par de anos, retorqui-lhe com ar severo.
Encontrámos os papeis ainda dentro da capa que eu fizera para os guardar. O Senhor Campos jurou-me que os tem prontos antes do fim do mês. E como prova de boa fé e promessa entregou-me o canhoto da encomenda que eu buscara em vão na desordem horrível dos meus papeis. A data de encomenda? 8 de Setembro de 1992!!!
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17 julho 2008
O leitor (im)penitente 38
Como quem vende botões a retalho
Não costumo frequentar este comércio de enganos e pequenez. Também é verdade que parece que a minha falta não lhes causa qualquer mossa. Raras vezes, quase nem me lembro de alguma, me solicitam para estas negociatas.
Mesmo naquilo que é a minha paixão (e perdição), a livralhada, sou pouco de feiras-do-livro e embustes semelhantes. Para ter 10% servem-me as livrarias que frequento, mormente a “Leitura” de que sou freguês depois de cinquenta anos.
Volta e meia, ao comprar mais um livro, penso no que sucederá à minha biblioteca, reunida com carinho, gosto e sacrifício. Há muito que tenho o projecto de entabular conversações com a Biblioteca Municipal Fernandes Tomás, onde entrei aos oito ou nove anos pela mão da Tia Néné e onde li centenas de livros, desde os Vernes (os que não tinha) até aos Salgaris, os Burroughs, os Twain enfim tudo o que o bibliotecário Sr Santos entendia que podia ler. Eu mesmo percorria as infindáveis vielas entre estantes, alvoroçado como um pardal em Maio, à procura de um livro. Nada mais natural do que devolver, se possível com juros, à biblioteca o que de lá tirei em alegria em conhecimento.
Não imaginam quanto me custa entrar (como hoje) num alfarrabista e dar de caras, na mesa das novidades, com uma pilha de livros que parecem vir de uma mesma e única estante. De quem seriam? Quem os vendeu? Seguramente algum herdeiro apressado e cobiçoso que espalha por um par de tostões uma fortuna, muito amor e muitas horas de leitura, de sonho, de vida.
Por isso mesmo, estou decidido: amanhã mesmo vou falar com os da Biblioteca, dizer o que tenho e propor um legado sem encargos nem condições. Eles ficam com os livros, juntam-nos aos que lá há, e os leitores que descubram as velhas publicações surrealistas, a pacientemente juntada bibliografia sobre a Expansão, a poesia do último meio século, toda em primeiras edições, o teatro, a ficção, o Borges e tantos outros no seu original castelhano, os franceses ou os italianos. Ficaria contente, se alguém, um dia, descobrisse com os mesmos maravilhados olhos o meu Quijote ou os poemas de Ritsos ou Rilke. Ou os policiais de Chandler e Camileri...
Vem tudo isto a propósito de um estranhíssimo mail recebido que me anuncia uma venda garden-party lá para as bandas da linha dos Estoris e Cascais, da biblioteca do meu velho amigo E.
É que logo que ele morreu, eu soube que as pessoas mais chegadas, desde a filha à companheira, tinham resolvido cumprir a última das suas promessas, oferecendo à cidade de Famalicão a biblioteca dele. Era, ao que sei, uma velha promessa dele, do E., movido sei lá por que (boas) razões. Os livros, terá estipulado, vão para perto dos surrealistas que lá pairam. E para perto do Camilo, já agora. E assim se fez. A biblioteca local viu-se enriquecida com uma excelente escolha de livros, alguns acabados de chegar, ou chegados já E. estava enterrado e pagos pelas doadoras (enfim pelas representantes legítimas do verdadeiro doador).
Ora agora, aparece-me, casa adentro, sem eu sequer me poder opor, um convite para uma venda de livros do E. (vem lá o nome dele, raios!).
Primeira pergunta: ignorará quem vende (cujo nome não refiro para não me irritar e ter de lavar as mãos logo a seguir) as vontades do morto e enterrado E.?
Segunda pergunta: sendo certo que a criatura agora negociante de livros & similares, não me conhece de parte alguma, nunca me terá visto, até, como é que a minha humilde direcção, aqui na província, lhe chegou à pata avara e concupiscente?
Como é que se atreve?
É que isto, o convite, a venda, a negociata com ou sem garden, com ou sem venda, ofende-me. O simples facto de alguém pensar que eu iria, sôfrego, comprar livros (eventualmente interessantes que o E. era um tipo que sabia ler –assim tivesse o mesmo tino para as companhias femininas..., mas isso são outras fantasias ) que deveriam, se houvesse respeito ou, pelo menos, inteligência, estar com os irmãos nas estantes de Famalicão?
Eu era, já o escrevi, aqui e noutros sítios, amigo do E. Amigo há mais anos dos que me apetece lembrar. Dias antes da sua morte, esteve aqui mesmo em casa, a conversar durante um par de horas, cheio de projectos. Bem nos rimos, então. Ele farejou com ares de perdigueiro entendido o cafarnaúm da minha livralhada espalhada por salas e quartos, sopesou uns tantos, invejou outros e discutiu a utilidade de algum.
Agora que está morto e apodrece nobremente, alguém vem de mansinho e à socapa vender livros que dele seriam, pelo menos é o que se alega, espalhar aos quatro ventos, o que terá sido ajuntado com amor, alguma fantasia e seguramente muita inteligência.
Que lhe aproveite! E lhe cause engulhos!
Obviamente a direcção da emitente deste mail foi cuidadosamente guardada no junk do correio. Assim, não corro o risco de ler as parvoejadas que decerto escreverá nem de ter de lavar o olho envelhecido e cansado de cada vez que um correio idêntico me entrar portas adentro sem sequer ter o cuidado (e a educação) de se anunciar. Como Camilo alguma vez disse, certeiramente: “a carta de V. foi directamente para o ventre da mãe terra pelo esófago da latrina!”. Como esta da vendinha.
* na gravura: mais uma da série "biblioteca procura casa onde caiba"
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Furacões
Vale a pena ler os comentários a esta notícia - “Não são apenas os maiores empresários, empresas e bancos do país que estão envolvidos na Operação Furacão”.
Com defensores tão sonantes percebe-se melhor a importância da coisa… e o desfecho esperado.
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tornar-se
a pétala desdobra
sua canção acetinada
e rubra
contra o sol
a nascer dentro dela
torna-se uma rosa
quando me toca os olhos
silvia chueire
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Coincidências
Desta vez foi a propósito de, supunha eu, declarações de Vítor Constâncio. Ouvi essas declarações na TSF, aliás ocupou todo o tempo de notícias de um intercalar. Pensei na altura, mas a que propósito o Governador de Portugal se lembra de lançar esta questão… de novo? Afinal não foram declarações por iniciativa própria, supostamente, mas sim em resposta a uma pergunta de um jornalista. Todavia, como as declarações desencadearam um amontoado de reacções e reflexões e um tempo de antena assinalável, isto fez-me pensar se não teria sido “cozinhada” a pergunta. Má-língua? Talvez. Não sou propensa a pensar o pior das pessoas à cabeça mas quando as coincidências são tantas dá para desconfiar.
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16 julho 2008
Au Bonheur des Dames 132
Há uma pequena casa de pasto em Matosinhos onde de há anos a esta parte como peixe. Um peixe fresquíssimo, a bom preço na companhia de amigos. De longe em longe, encontrava lá um velho amigo, o Pimentel, figueirense como eu, estudante em Coimbra nos idos de sessenta. Olá, como estás, duas rápidas a abater, e até à vista.
Até que, há um par de semanas comecei a vê-lo integrado num grupo, numeroso e bem disposto que, vim a saber, era constituído por ex-militares na Guiné.
Sou pouco dado a grupos festivos, sobretudo a grupos festivos militares. Há demasiada dor, demasiada injustiça, demasiado sangue, atrás disso. Todavia, estava lá o Pimentel e isso contava. E conta.
Hoje, o João Pimenta resolveu ir comigo ás sardinhas. Chegámos ao restaurante e lá estava o mesmo grupo, barulhento e bem disposto. Por fas ou por nefas, o Pimentel soube que o João também estivera na Guiné. Em dois minutos, o João estava adoptado pelo grupo que o obrigou a beber do vinho que traziam, um vinho de Santa Marta de Penaguião, uma “pomada” no dizer de alguém.
Subitamente, um dos convivas dispara: nós conhecemo-nos. Era para mim. Confessei que talvez nos conhecêssemos e começou a ladainha das tentativas. Nada. Tiros na água. Às tantas pergunta-me se eu tinha estado em Nampula. Afirmativo! No colégio-liceu Vasco da Gama? Afirmativo! E o nome. Quando me identifiquei, deu um salto. O meu pai fora professor dele. E jurava que me tinha “topado” desde o primeiro momento. Raio de memória! É que se passaram 52 anos entretanto!
O grupo de ex-combatentes começava a ser um grupo de antigos conhecidos. E se bem começou, melhor acabou. Conversa puxa conversa, vim a saber que aquele ruidoso e esdrúxulo bando de “rapazes do meu tempo” se reunia semanalmente. E que agora era uma espécie de ong. Ou seja, reuniam coisas úteis, máquinas, alimentos, livros, roupa e volta meia ia tudo para a Guiné. Ou melhor, as coisas iam num contentor de muitas toneladas e eles, aquele bando de pardais reformados, ala que se faz tarde: em carrinhas, camiões e até de mota ia tudo numa revoada via Marrocos, Mauritânia, Senegal e Gâmbia rumo à Guiné encontrar antigos inimigos, antigos soldados negros que tinham servido com eles para se verem, confraternizarem e fazerem a entrega de bens preciosos recolhidos com afinco, com sacrifício, com tenacidade, com alegria. E era uma festa.
Amigas leitoras e leitores amigos: juro-vos que fiquei emocionado. E invejoso. Desta amizade, desta solidariedade, desta simplicidade. Este grupo que junta ex-milicianos e ex- soldados profissionais, desde magalas a coronéis, esta gente que se trata toda obrigatoriamente por tu, são a honra de uma tropa e de um país. Fizeram a guerra, viram morrer camaradas, mataram, perderam oportunidades e anos de vida, passaram privações e medos, sobreviveram com um par de cicatrizes no corpo ou na alma. E agora, tantos anos depois, ei-los que se empenham em ajudar a terra onde terão passado o pior da sua juventude. Com os adversários de ontem, com a esperança de hoje.
O Pimentel contava-nos estas história e já propunha ao João, voluntário no Banco Alimentar ajuda e troca de informações e experiências. A guerra dele e dos seus companheiros é agora outra: contra a fome, a escassez de tudo, pela vida. A guerra deles é agora a paz de todos.
Fiquei a pensar que este punhado de homens, todos à roda dos sessenta, fazem mais pelo nome de Portugal no mundo, ou pelo menos naquela recôndita parte de África, que dez governos pomposos e cem discursos idem.
E tendo no grupo, pelo menos dois antigos colegas de liceu, confesso que me sinto orgulhoso. De ser desta geração, dos nossos longínquos anos de juventude, da Figueira e de Nampula, deste modo de ser português.
A guerra, dizia-se no belíssimo filme que dá título a esta croniqueta, acabou. E o mundo começa de novo. Eventualmente melhor.
“la guerre est finie” Alain Resnais, argumento de Jorge Semprun. Com Yves Montand e Ingrid Thulin. 1966
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11 julho 2008
Au Bonheur des Dames 131
Todavia, não é desta manhã húmida que vinha falar mas apenas das primeiras críticas ( e elogiosas!) ao trabalho da Filipa César: “Le passeur”, instalação actualmente em exibição na “Ellipse Foundation” (cfr abaixo dois outros textos sobre o tema). Como disse, faço parte do filme juntamente com o Manuel Simas Santos, outro membro da tripulação do “incursões”. Mais do que isso, faço parte do “inner circle” familiar da Filipa. Sou amigo antigo, antiquíssimo, dos pais, os escultores Elsa César e Jaime Azinheira. Vi a Filipa (e os irmãos) crescer, acompanhei de longe a sua carreira, sou uma espécie de tio avô da Rosa L, a filhita nascida em Berlim a quem desde sempre associo o “Lied” “Röslein auf der Heiden”. Foram aliás essas as razões esdrúxulas que me fizeram aceitar ser filmado.
Sobre estas questões antigas, a batalha contra o salazarismo, o ter sido eventual “passador” de fronteira, durante os dois ou três últimos anos do famigerado Estado Novo, sempre pensei que o melhor era ser discreto. Já basta de tanta gentuça a pavonear-se por aí, pendurada num anti-fascismo as mais das vezes imaginado e silencioso. Os heróis do dia 26 de Abril sempre me pareceram mais rápidos do que o Lucky Luke, o cow-boy que disparava mais depressa do que a própria sombra.
Porém, a Filipa insistiu e insistiu. Em boa hora o fez, os deuses sejam louvados, que o resultado está aí para ser visto por quem se quiser dar ao trabalho de ir até à fundação já citada. E a merecer quase três páginas no “ípsilon”, suplemento cultural do “Público” de que já aqui disse algum mal (eu não entendo como é que num mesmo suplemento se junta tudo a trouxe-mouche, ornando a leitura penosa, complicada e sobretudo, porque o espaço é escasso, deixando muita coisa de fora. No entanto, desta vez há o milagre de duas criticas ocuparem o melhor de 3 páginas!...) que ao meu jornal favorito não perdoo nem uma gralha.
Confesso que me comovi ao ver o filminho (são 34 minutos, uma cagagésima parte do que nós quatro debitámos diante de uma camera atenta, sensível, encorajados pelo ar doce da Filipa e, no meu caso, pela frenética actividade de duas gatas novas para quem aquele estendal de fios era uma tentação absoluta): 2 ecrãs, num o rio corre alegre e inocente sem desconfiar dos dramas que se desenrolavam nas suas margens. Aquele riacho conheceu contrabandistas de café, refugiados da guerra de Espanha e dezenas de jovens portugueses que passavam a salto para fugirem à polícia, á guerra ou ás duas coisas ao mesmo tempo. No outro quatro pessoas de meia idade (uma mulher e três homens), contam tranquilamente a sua implicação cidadã e modesta na aventura de apoiar, proteger, transportar estes fugitivos desde o Minho até à Galiza. Ou, num contado caso, até Bilbau. A realizadora captou-lhes um “brilhozinho no olhar”, muita nostalgia, muita cumplicidade e – atrevo-me – alguma tranquilidade de quem cumpriu um dever de cidadania. Mas, eu estou lá dentro, não consigo ter distância. Se fosse apenas o facto de conhecer a autora, a dificuldade não seria grande. Exerci de crítico as vezes suficientes para não me deixar vencer por amizade, mas desta vez a coisa fiava mais fino. Muito mais fino. Felizmente, duas críticas, que não conheço de parte alguma, permitem-me romper o silêncio. E garanto-vos que isso me faz um bem danado. Estou feliz por mim, pelos meus amigos e, sobretudo, cela va sans dire, pela Filipa. E pela Rosinha, Röslein Röslein rot auf der Heiden...
Este texto vai para Cândida Laurinda Alves Simas Santos, “passadora” de fronteiras que hoje faz anos. Que os repita por muitos e bons.
Na gravura: ilustração de Christine Künzel sob o poema de Goethe que, aliás, está musicado por Schubert. Bons padrinhos, Filipa, bons padrinhos...
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Uma a favor de Rui Rio (e dos portuenses)
Conhecedor de que um novo empreendimento imobiliário ia nascer nas imediações de minha casa, senti o impulso de ir à Câmara tentar consultar o processo. Tarefa difícil, pensei eu. Que não, responderam-me do Gabinete de Munícipe. Disseram-me por telefone que enviavam o modelo de requisição de consulta de processo por e-mail, o qual teria depois de ser entregue no Gabinete de Munícipe, acompanhado de um documento que comprovasse a minha residência. Assim fiz e no dia 1 de Julho entreguei essa requisição no referido Gabinete. No dia 7, estavam a telefonar-me para avisar que já podia consultar o processo, coisa que fiz ontem, dia 10 de Julho, num espaço reservado do Gabinete de Munícipe, com todo o à vontade.
A simplificação administrativa e o acesso franqueado a documentos oficiais que importam para a vida das pessoas são condições imprescindíveis para a afirmação dos direitos de cidadania. Além disso, este exemplo da Câmara do Porto, que acredito seja acompanhado por muitos outros pelo país fora, ajuda a construir uma relação de confiança dos munícipes com a administração local e com o sistema político no seu todo. O que não é de somenos.
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07 julho 2008
Au Bonheur des Dames 130
Cá na casa, o velho “inc”, sabia-se que a Kami, vulgo Liliana Palhinha, andava há que tempos a pensar arejar uns tostões. Estava farta, diz-se, de profissões sérias, respeitáveis, muito nove horas, enfim, estava farta de aturar juízes, advogados, colegas do Ministério Público, putativas/os magistradas/os em flor lá pelo CEJ...
Vai daí, herdou uma casinha lá prós lados de Faro, ou seja bem dentro da cidade, no seu miolo, para sermos mais precisos, arranjou aquilo tudo e fez uma livraria, uma galeria e sabe-se lá mais o quê. Deu-lhe a doida, é o que é: resolveu abrir uma coisa em forma de assim num país onde o sonho plausível é uma praia quente, cheia de nórdicas em top less, marmanjolas locais a fazerem-se ao piso das ditas cujas, como um tal Lélé ou coisa que o valha que lançou um instrutivo livrinho a contar como é que as “sacava” à ganância e lhes fazia conhecer os delírios do priapismo primitivo do macho ibérico em todo o seu apressado esplendor.
Na dita cuja praia, de higiene nem sempre irrepreensível há-de haver uma cadeira onde o indígena se recoste de boca aberta á espera que lhe caia dentro, e certeira, uma banana, já sem pele e cortada em rodelas. Enfim, o paraíso versão lusitana...
Pois foi nesta paisagem saturada que a dona Kami resolveu assentar arraiais para mostrar que nem todo o velho Garb é Allllgarve, que nem tudo aquilo é alllarve, que nem todas as banhistas são só plástica, vip de trazer por casa, políticos duvidosos e empresários pecaminosos.
Que aquilo, aquelas praias, aqueles montes, aquele céu azul, aquela luz mágica e marítima, aquele ar doce que vem da serra com o perfume das laranjeiras e do medronho, é compatível com um pouco de sombra, com um livro, um disco um quadro, quiçá um copo (assim seja!).
E vai daí inaugura dentro de dias, mais que um sonho, uma necessidade, mais do que um espaço cultural, uma paragem sombreada, um caravanserail, uma gruta de Ali Babá, um pequeno jardim secreto, onde ela pôs alma, vontade, o seu grão de loucura, o seu toque de aventura.
Lá estarei, assim os deuses invejosos mo permitam, à boleia da Guilhermina e do Joaquim, dois muito desta casa, ou de comboio se houver impedimento de última hora.
Kami, rape desses cafundós uns figos temporãos, uma garrafinha de medronho contrabandeado, daquele que não tem marca, do que vem directo da Serra, pãozinho e azeitonas que com pouco se faz uma festa.
JAB espera-se do seu humor proverbial e da sua curiosidade perversa um 007 como os de dantes, do tempo do cinema com intervalos, de grandes salas escuras onde o público de olho arregalado “passava as do Algarve”, à rasca, à rasquíssíma receando que o herói apanhasse um tiro ou que a loira boazona fugisse com o mau da fita.
Leitorinhas gentis, leitores amáveis, se passarem por Faro, não hesitem: batam à porta da Kami que os da casa são de confiança. Da máxima confiança.
Até ao dia 12! E um abraço
mcr, ex-editor (Centelha), ex-livreiro (Erva Daninha), escritor esdrúxulo (sicut Francisco Bélard), leitor impenitente e ajuntador de livros. E roído de inveja (benigna!)
na gravura: um canto do escritório, refúgio de surrealistas & assimilados, da colecção "biblioteca procura casa condigna e suficiente"
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Novo director artístico para a Casa da Música
Acresce que a nomeação de António Jorge Pacheco, num momento em que já se perfilavam vários nomes estrangeiros para o lugar, vem também demonstrar que há valores nacionais que podem desempenhar cargos para os quais durante muitos anos era comum recorrer-se ao estrangeiro. Serralves já tinha dado o exemplo ao nomear João Fernandes, meu contemporâneo na Faculdade de Letras, e agora é a Casa da Música a apostar num homem da casa.
Postado por jcp (José Carlos Pereira) 0 comentários
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As minhas incursões a Sul
Aos que não puderem estar nesse dia, um apelo para que venham noutro… em muitos outros! Estamos abertos de 2ª a Domingo, a partir das 10h00; encerramento: de 2ª a 3ª - 20h; 4ª, 5ª e Domingo - 21h00; 6ª e sábado - 23h00
LOCALIZAÇÃO e ACESSOS:
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Postado por Kamikaze (L.P.) 4 comentários
06 julho 2008
Estes dias que passam, 117
E por falar nisso, em foices, searas, horizontes vermelhos et alia, eis que o triste partido comunista português me oferece uma de primeira. Então aquela rapaziada, sempre pronta a azucrinar os ouvidos do povo (que não é sereno) com a falta de liberdade em Paços de Ferreira ou em Birmingham, Alabama, entendeu não saudar a libertação de Ingrid Betancourt porque isso poderia subentender um apoio ao regime de Uribe (por acaso eleito democraticamente, por muito que nos custe as suas convicções políticas)... Isto, é o grau zero da política e o grau cem da estupidez. Por quem nos toma o PCP? Será que esta gente não cora quando arreia uma giga deste tamanho? Tomam-nos por parvos, ou são de facto parvos, tontinhos de atar?
Até aquele tiranete de pacotilha da Venezuela, o ex-golpista Chávez, que o PCP elevou à categoria de padroeiro dos pobres e oprimidos, se congratulou e telefonou ao negregado Uribe!!
Mas o PCP não! O PCP não verga, não se desvia do justo caminho, do justo “sendero” fosforecente por onde prossegue a sua heróica caminhada para o abismo. Estes tipos parecem lemmings suicidas, e se calhar são...
Deixemos o PCP e vejamos o que se passa por outras bandas. Agora que um grupo de soldados colombianos, infiltrados até aos altos comandos da guerrilha levou a cabo uma operação notável de inteligência e de eficácia, toda a gente se põe em bicos de pés. Todos ajudaram, todos fizeram, todos estiveram na selva, todos... É evidente que não há milagres (excepto em Fátima e na Federação Portuguesa de Futebol) e que o exército colombiano teve quem lhe fornecesse material, quem o treinasse. Todos os exércitos o têm. Mas à vista desarmada parece-me que foram uns magalas colombianos que se embarcaram nos helicópteros, que desembarcaram, que distribuíram bacalhoada entre os torcionários de Ingrid e dos seus companheiros. Foram colombianos que imitaram a voz do chefe da pandilha criminosa que dá por FARC, aliás ninguém está a ver franceses e americanos sequer israelitas a falar o espanhol colombiano com os tiques das FARC, pois não?
Foram estes tipos que arriscaram o coirão, são estes tipos que morrem nos combates, são os familiares deles que são raptados, mortos ou feridos. Impunha-se pois, um pouco de respeito, menos paternalismo, menos paleio.
Isto aplica-se também ao senhor Sarkozy, presidente da França. Ninguém lhe nega (ou a Chirac seu antecessor e curiosamente um modelo de contenção neste episódio) o interesse que manifestou, as iniciativas um tanto ou quanto canhestras que tomou, o apoio aos filhos de Ingrid, o avião emprestado. Todavia, estou em crer que os Estados Unidos, muito menos loquazes, terão feito muito mais. Custa-me admitir isto, sobretudo quando me lembro de Bush mas “amicus Cato sed magis amica veritas” (ou seja em portuga corrente, amigo de Platão mas mais da verdade).
Agora, pôr-se em bicos de pés, dar a entender com a brutal candura que usa que tudo (ou quase) passou pela França é ridículo. Mesmo se o senhor Barroso, essa nossa desgraçada exportação para Bruxelas, se tenha apressado a falar primeiro de Sarko do que de Uribe.
Eu não conheço o senhor Uribe de parte nenhuma, não gosto do ar da criatura e menos da sulfurosa fama que o acompanha. Todavia, desculpem lá qualquer coisinha, Uribe é o único na fita que foi coerente até ao fim. Recusou negociatas, percebeu que neste momento, a única hipótese é dar com força na FARC enquanto ela anda atordoada com as mortes, naturais ou não, dos seus dirigentes, com as suas derrotas no terreno (mesmo que seja no Equador...) com a multiplicação das deserções e com a condenação internacional. E Ingrid Betancourt bem o percebeu e claramente o disse. Por ela, que estava a ferros na selva (seis anos, quatro meses e não sei quantos dias) as conversas moles tinham-se traduzido apenas em mais dor, mais sofrimento, mais tempo. Vê-se bem que os partidários da linha soft nunca estiveram presos. Um preso está-se nas tintas para os processos, o que quer é ser solto e quanto antes. E, a certa altura, está mesmo disposto a arriscar tudo para se salvar. Foi o que sucedeu com Ingrid que apesar de saber o risco que corria tentou evadir-se três vezes. Percebem, ou precisam de um desenho?
Já agora: o parlamento português entendeu na sua gigantesca clarividência apresentar um voto de satisfação. Pena é que durante meses, alguns dos mais conspícuos deputados tenham achado natural que se vá até à Venezuela dar palmadinhas nas costas de um figurão que objectivamente esteve sempre do lado da FARC, que chegou a pedir que a retirassem da lista das organizações terroristas, que telefonava ao senhor Marulanda, que lhes permitiu ter quartéis de inverno em território venezuelano e que, segundo tudo indica, terá ajudado financeiramente os grupos criminosos, como parece deduzir-se do que já se sabe dos registos de computador do número dois da FARC.
Ainda me lembro, de há poucos meses, sermos uma pequena minoria, aqui na blog-esfera a proclamar a nossa solidariedade com Ingrid Betancourt. Cito, de memória o João Vasconcelos Costa, o João Tunes, o Rui Bebiano, o Luís Carlos Januário entre outros bloggers (e perdoem-me os que omito). E não cito, porque me envergonha, um homem que me habituei a respeitar, que apoiei politicamente quando sozinho se lançou á conquista da Presidência da República, contra tudo e contra os prognósticos. Fica mal, muito mal, aquela conversa xoxa e desastrada com Chávez. Há gente com quem não se deve sequer falar e muito menos elevá-la à categoria de pessoas respeitáveis. Presta-se um mau serviço á democracia, á causa da liberdade e ao socialismo democrático. Um péssimo serviço.
Postado por M.C.R. 2 comentários
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