Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
(Carlos Drummond Andrade)
31 dezembro 2008
Receita de Ano Novo
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30 dezembro 2008
pulp fiction dancing
Um bom ano de 2009!
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Bom Ano Novo
Este diferendo político entre o Presidente e a maioria que suporta o Governo, alargado neste caso concreto aos restantes partidos que não se opuseram ao Estatuto, faz antever um ano pleno de tensão, na justa medida em que teremos três disputas eleitorais – europeias, autárquicas e legislativas. A que devemos acrescentar a recessão económica e as respectivas consequências sociais.
Um ano em cheio, portanto, propenso para o debate e o confronto de ideias.
Um Bom Ano Novo para todos!
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29 dezembro 2008
Diário Político 95
Até onde se pode ir numa luta de “libertação nacional”? Em tempo de guerra será lícito recorrer a todas as formas de luta, incluindo nestas o terrorismo, a tortura ou o assassínio selectivo de dirigentes políticos, de líderes sindicais ou de personalidades que, de um modo ou de outro, simbolizem a Nação aos olhos dos seus concidadãos?
Sem respondermos a estas questões que, na minha pobre e modesta opinião, são essenciais, não vale a pena determo-nos no conflito israelo-palestiniano.
Mesmo se entendermos (e eu faço parte desse grupo) que Israel vive em democracia, será que a defesa natural das fronteiras, da vida e bens dos seus cidadãos (judeus, árabes, drusos e outros) passa por castigar duramente os lançadores clandestinos de rockets artesanais?
Por outro lado, será lícito que, em nome de uma pátria palestiniana (e eu faço parte do grupo de pessoas que entende que deve existir, com as mesmas garantias internacionais de Israel um país palestiniano, governado por palestinianos, sem tutelas de qualquer espécie, mormente as actuais) se possa bombardear a terra do “inimigo sionista” com foguetes que não conseguem mais do que um percurso errático e por isso caem em qualquer sítio, matando indiferentemente militares ou civis, árabes ou judeus, homens ou mulheres crianças ou velhos?
Claro que, na conturbada história dos últimos noventa anos (isto é da história que acompanha as migrações massivas de sionistas (uso a expressão no seu exacto e histórico sentido sem a carregar de semânticas recentes e injuriosas) para a Palestina transformada em mandato britânico, podem reconhecer-se variados movimentos terroristas judeus (“Stern”, “Irgun”) que infligiram numerosas baixas quer às tropas da potência mandatária quer a cidadãos árabes indefesos. Não é menos verdade que, desde que começou a emigração judaica para “Eretz Israel” (em consonância com a famosa “Declaração Balfour” que nada mais era do que uma promessa ilegítima e ilegal de um governo imperial que dispunha de terras alheias como se de próprias se tratasse), houve resistências desencontradas por parte da população árabe. Desde o famoso “mufti” de Jerusalém até aldeãos despossuídos ou ameaçados ameaçaram e tentaram atacar o que consideravam como invasores. A Palestina não era uma terra vazia. Estava habitada, tinha instituições políticas tradicionais, herdadas do império turco e, há que salientá-lo, sempre permitira a existência de comunidades judias mesmo que durante séculos tais comunidades fossem escassíssimas.
É aliás falsa a ideia de que houvera uma expulsão massiva e praticamente total dos hebreus pelos romanos. Houve efectivamente pequenas deslocações forçadas de parte das populações da região mas nada que permita dar à diáspora esse significado apocalíptico que nos séculos XIX e XX foram propagandeadas.
Boa parte, senão a imensa maioria, dos judeus europeus não tinha raízes médio-orientais, não eram semitas e a fé que professavam derivava sobretudo de conversões ocorridas na alta idade média. Por outro lado, é sabido que em todos os países do médio oriente existiam sólidas populações de religião judaica (Iraque, Irão, Marrocos para não ir mais longe). Sabe-se também que durante esse longuíssimo período as relações inter-comunitárias foram pacíficas. De resto, foram os países de tradição muçulmana os maiores (e melhores) acolhedores dos judeus expulsos da península ibérica. Muito mais do que a Holanda, por exemplo.
É verdade que há uma oração, ou um refrão judaico “para o ano em Jerusalém” que se usou em toda a Europa e que adquiriria particular sentido dramático durante os pogroms de leste e as perseguições no ocidente. Todavia, esse pio desejo, nunca foi acompanhado, até ao segundo decénio do século XX, por migrações significativas para a terra de Israel.
Entretanto, há que reconhecê-lo, desde que o Estado de Israel foi proclamado, nunca mais houve paz na região. A primeira guerra, ocasionada, é verdade, por uma desorganizada e heteróclita invasão de tropas árabes, teve como resultado não só a derrota desses invasores mas, sobretudo a expulsão de dezenas (quiçá centenas) de milhares de civis palestinianos. A operação de expulsão (eventualmente genocida) chamou-se “Vassoura de Ferro” e e tinha por objectivo táctico limitar o avanço dos invasores e por finalidade estratégica a limpeza étnica de territórios atribuídos a Israel.
São os descendentes desses expulsos, criados em campos de refugiados, que constituiram e constituem a maioria dos candidatos a guerrilheiros, a terroristas, a suicidas. E isso também tem de ser tido em linha de conta.
Israel, de 48 até hoje, alargou ilegitimamente as suas fronteiras, ocupou e ocupa territórios ilegalmente, muniu-se de armas atómicas e criou o mais forte exército da região. E se é verdade que tem cidadãos árabes não menos verdade é que estes se sentem cidadãos de segunda. Por todas as razões mas sobretudo porque não conseguem deixar de observar o que se passa nos territórios ocupados, na agressividade dos ultra-ortodoxos, no movimento das colónias de povamento, que paulatinamente transformam a Transjordânia num xadrês de povoamento judaico que torna impossível a vida dos anteriores habitantes.
O Hamas é uma caricatura miserável das verdades reveladas no Corão. É uma associação criminosa que alimenta o ódio contra o judeu enquanto tal muito mais do que a ira contra o ocupante. Pior: tenta transformar uma população relativamente laica numa outra rigorista e islamizada até o extremo. A sua política militar é aventureira, não olha a meios, despreza a vida dos cidadãos que pretende defender, aceita a monstruosa teses dos mártires pela liberdade, doutrina crianças e adolescentes para o sacrificio supremo. O lançamento de foguetes é uma provocação estúpida e perigosa sobretudo num momento em que os israelitas se preparam para eleições ao mesmo tempo que a inação americana natural num país que se prepara para mudar de presidente muito em breve faz prever uma resposta contundente. E pior que isso: a acção descontrolada do Hamas pode modificar os previsiveis resultados eleitorais israelitas, ajudando o regresso da direita pura e dura ao governo. Como se a ideia fosse: quanto pior, melhor!
É isto, ou é também isto, que está em jogo.
d'Oliveira
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27 dezembro 2008
estes dias que passam 134
Os dias que medeiam ente o Natal e os Reis são uma espécie de silly season. Toda a gente se apressa a “dar testemunho” da sua escondida predisposição para a bondade e a garantir que fará todos os esforços para tornar o nosso futuro ainda mais radioso.
Todavia, não é o cronista quem está a tentar fazer fogo de qualquer fagulhinha brejeira mas os acontecimentos que o forçam a sair do sério e, abandonando rabanadas e roupa velha, a vir chatear as leitorinhas. E se calhar até vos faz bem: esquecem por momentos os dois quilos com que as festas vos brindaram e que vão demorar semanas a desaparecer…
E vamos á vaca fria (isto é uma velha expressão idiomática portuguesa e não qualquer espécie de menção a quem quer que seja adiante citado(a).)
Umas criancinhas já com barba rija entenderam, numa sala de aulas, durante o que era suposto ser uma aula, apontar uma pistola a uma professora exigindo uma nota positiva. Supondo que a pistola (falsa) se parecia com a uma arma verdadeira, parece natural ou mesmo admirável que a professora sem se intimidar tenha primeiro recorrido a algumas advertencias e finalmente abandonado a sala e apresentado queixa.
As criancinhas, adolescentes retardados mas com barba no meio da acne devem ter-se rido à gargalhada e, para estarem em consonância com a quadra, mandaram o filme dos acontecimentos para o You Tube. Lá terão pensado que se eles se divertiam seria egoísmo não partilharem com o mundo que vê tais alarvidades a sua sã alegria adolescente.
Claro que o escandalo rebentou. A escola já está atarefadíssima a inquirir, diz-se que os rapazinhos terão pedido desculpas à “sôtora”, que esta as aceitou, mas que o inquérito prossegue.
A primeira declaração que me deixa perplexo é da sempre surpreendente directora regional de educação do Norte, aquela mesma que mandou borda fora um funcionário por este, num momento de ócio, ter chamado nomes à mãe do senhor presdiente do conselho de ministros.
A senhora dirigente, de sua graça Margarida Moreira, disse, e cito, que o episódio não passou de “uma brincadeira de mau gosto que excedeu os limites do bom senso”. Analisemos: será que há brincadeiras de mau gosto que não passem os limites do bom senso? Será que há bom senso no mau gosto de certas brincadeiras? Será que uma pistola falsa mas em tudo ou quase igual às verdadeiras não assusta um qualquer mortal? Será que quando nos apontam uma pistola devemos agarrarmo-nos à barriga, romper numa gargalhada e até, para mostrar que apreciamos o humor da situação, convidar o atirador a disparar, como em tempos remotos um francês burro e temerário fez (messieurs les anglais tirez les premiers, terá dito numa batalha que, obviamente, perdeu. Os bifes não se fizeram rogados e limparam logo o sebo a uma boa quantidade de inimigos...)?
Será que isto era só uma brincadeira? Será que trazer a pistola, ameaçar a professora, mandar o filme para o éter é apenas um gracejo de mau gosto, uma pequena judiaria que dada a época natalícia debe ser descontada na ração de rabanadas e bolo rei dos jovens graciosos?
Suponhamos que a professora tivesse tentado tirar a arma ao menino rabino. Teria este entregado a arma ou, à cautela e com um safanão, tentaria frustrar os impetos guerreiros e auto-defensivos da professora? E o resto dos hilariantes coleguinhas? Teriam continuado a filmar, ou pôr-se-iam virilmente do lado do pequeno pistoleiro?
É para isso que servem as aulas mesmo num bairro tão problemático como o do Cerco no Porto?
Agora a senhora presidente do Conselho Executivo, de sua graça Ludovina Costa, ao mesmo tempo que com uma mão manda instaurar um inquérito disciplinar vem com a outra mãozinha “desvalorizar o caso considerando que aquela turma é de miúdos simpáticos”. Ou seja para a dona Ludovina o mau gosto que excede (Jesus! Ninguém ensinará esta gente a falar português?) o bom senso não merecia tanta maçada. A chatice é que isto se sabe cá fora e portanto há que ffingir um inquérito para daqui a dias se saber que na tal escola está “tudo como dantes, quartel general em Abrantes”.
Porque é isso que vai acontecer, não tenham quaisquer dúvidas. Esta gente sempre pressurosa a cascar nos que dizem piadas sobre as autoridades legítimas, acha que os “meninos” mesmo se grandinhos são anjinhos de Rousseau, nada se lhes deve levar a mal. Ou quase: a idade e a “escola inclusiva” perdoam tudo, justificam tudo.
A senhora directora da educação do norte (sublinho este ponto porque esta educação tem pouco a ver com a outra a do dicionário, a que costumamos a ssociar à preparação para a cidadania, para a vida adulta, para o conhecimento, cultura e progrsso humanos) reforça, como aliás se esperaria, o clima natalício de indulgencia plenária. OS miúdos já foram reguilas mas agora, integrados num curso de Desporto (tiro ao alvo?) recuperam do insucesso escolar.
Eu não quero que fusilem as criancinhas, mesmo com armas de plástico, que os condenem ao degredo, sequer que os expulsem da escola. Todavia, estas desculpas que vão condicionar (ou anular) o presumível inquérito apenas servem para evidenciar a cobardia moral e cívica com que se encara o permanente estado de indisciplina nas escolas.
Claro que a grande batalha dos boys e girls que estão amesendados na Educação é outra: quebrar a espinha aos professores, demonstrar que se há indisciplina é porque são estes com a sua insensatez congénita e “corporativa” quem fomenta a ignorância de educandos, a incúria das famílias e o desastre da educação.
Nos intervalos vão fazendo “carreira” e com aplicação e esforço poderão abichar um lugarzinho melhorado (deputado, assessor ministerial) que se for levado a cabo com a mesma dedicação abrir-lhes-á as portas da administração de empresas boas, bancos mesmo, já se viu mais bizarro e ninguém protestou.
É desta farinha que se fazem igualmente os dirigentes do aparelho tal como ( e para não sair do Porto) aquele senhor que vai pescar um transfuga do Marco de Canaveses, indiferente ao facto da dita criatura ter sido o braço direito (ou o esquerdo, não discuto pormenores sórdidos) do ora arguido Torres.
As leitoras, ainda empanzinadinhas com a desbunda gastronómica natalícia, perguntarão se eu não exagero. Não queridas amigas, não exagero. Provavelmente peco por defeito. Faço, tão só, a crónica destes dias tumultuosos. É que, como dizia o Eduardo Guerra Carneiro,é assim que se faz a história: “pois da história se trata. E dos que a fazem. Por vezes pouco seguros de si próprios. Mas com a certeza do que está certo. A história anónima[…] A que nós fazemos. Agora sentados ao sol, á mesa do café.”
O Eduardo, como numa crónica belíssima dizia o Jorge Silva Melo, foi “o poeta que se atirou para as estrelas”. Cansado de muita coisa, da vida, de amores, mas muito, muito de tudo isto. Do quotidiano mesquinho e insuportável que é, queiramos ou não, o quotidiano deste país. Que parece sonhar com o regresso a uma idade cinzenta, com um chefe e muitos súbditos. Com respeitinho e partido único. Sem ideais mas com o lugarzinho assegurado a quem se portar bem. Um país onde os homens se medem pelo que valem em votos, à boca das urnas. Já um brasileiro político famoso dizia no seu manifesto. “Ademar rouba mas faz!”. Ora aí está um belo mote de campanha.
* “É assim que se faz a história” Assirio & Alvim, Lisboa, 1973.
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26 dezembro 2008
Vidas (des)perdi(ça)das ?
Após muitos anos,volto à Cadeia. Estranho ambiente! Tudo muito calmo, como se nada fosse diferente. Espero... e muito. Não sabem do detido; é preciso encontrá-lo, Paciência... nada a fazer. Afinal, é preciso que o preso solicite à Direcção que quer ver o advogado. Parece que tem havido problemas. Apenas aviso que sou oficioso e que o homem nem me conhece.
30 anos, 3 filhos para criar, nunca trabalhou, 8 anos cumpridos,mais alguns por cumprir e processos por resolver. E, no entanto, aparentava tranquilidade, como se tudo fosse comum.
Vim a pensar nas vidas perdidas, desperdiçadas, na ausência de perspectivas, na impossibilidade de mudança.
E o Natal?
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23 dezembro 2008
Diário Político 94
Entre todas, esta é a árvore da paz, da abundância, a árvore durável por excelência, a árvore que mata a fome ao pastor que junta um punhado de azeitonas ao naco de pão, ao viajante que nesse mesmo pão barrado de azeite junta uma cebola ou um tomate e segue o seu caminho e, já agora ao cliente do restaurante sofisticado que lhe serve, a preço de ouro, um pires de azeite onde se molha uma fatia de pão.
Uso ainda o nome de um certo Cavaleiro de Oliveira, esse mesmo que chamou a Lisboa “fremosa estrevaria” e que, quando foi queimado em efígie pelos poderes públicos portugueses, anotou no seu diário que “nunca sentira tanto frio como nesse dia”. Também é certo (se não erro) que nesse dia estava na Moscóvia acolhido à protecção de Catarina a Grande.
Dele tento ainda usar o lema: “é preciso dar força à razão para que o acaso não governe as nossas vidas”.
Isto tudo dá-me pretexto para desejar a todos quantos acompanham este blog um ano de 2009 sob a égide da árvore sagrada. Da árvore de ramos retorcidos que resiste ao tempo e ao vento e nos presenteia com o azeite que, com o vinho, é a metáfora verdadeira da civilização que penosamente vamos erguendo: fraterna, luminosa e exigente. Assim seja.
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Au Bonheur des Dames 161
Eu sei, e de há muito tempo que o sei, que qualquer comentário sobre a quadra soa a caturrice ou, pior ainda, a snobismo. Todavia, não retiro nem uma palavra embora acrescente outra que não é minha, é bem mais antiga e reflecte um pouco o que algum leitor terá percebido sob a farpa. Parece que numa certa altura, num outro país, numa outra realidade, ou na realidade a que aspiramos, um anjo apareceu e disse Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.
Deixo a glória a quem pertence mas desejo muito vivamente a todos os que me aturam e à tripulação desta “barquinha que vai para Belém”, paz e alegria, paz e serenidade, paz e paciência, paz e um mundo melhor. Desculparão a insistência na palavra paz mas olhando em volta desde Bilbau a Bogotá, do Kivu a Caxemira, das terras antiquíssimas entre Tigre e Eufrates até à miserável faixa de Gaza, paz, paz verdadeira vale mais do que pão, do que oiro, do que saúde. Vale tanto quanto a liberdade. E a dignidade. E o amor, porque sem ele a vida não tem sentido.
Se isso puder traduzir-se por Feliz Natal que assim seja, senão voltem ao princípio destas mal traçadas regras e pensem alto na palavra paz. E na palavra amor. E na palavra liberdade.
* a gravura roubei-a a um mail do Fernando António Almeida, poeta, ficcionista, historiador, amigo antiquíssimo e leal que me mandou a ilustração com o subtítulo de Éluard La terre est bleue comme une orange.
** os que não desertaram completamente do território da infância reconhecerão a toada da linda barquinha que lá lá vem... E o Natal, o verdadeiro, mora muito por aí
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Feliz Natal
A todos os incursionistas - colaboradores, comentadores e demais leitores - desejo um Feliz Natal, na companhia de seus familiares e amigos.
Um abraço
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BOAS FESTAS
Quanto ao novo ano, tanto quanto sei, continuará a não ser proibido sonhar, nem penso que venha a ser decretado o cortar de asas a esses sonhos para que não se tornem realidade. Por isso, desejo a todos um ano 2009 magnífico, com a concretização dos projectos que mais desejem.
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22 dezembro 2008
Au Bonheur des Dames 160
Bom, deixemos a cristologia para quem a quiser estudar e voltemos a este baixo mundo. O Natal e o circo que se monta. Este ano a coisa até parece pior porque ninguém se esquece da crise que paira, do ano que aí vem. Os comerciantes deitam mãos à cabeça, adiantam ilegalmente os saldos, o público balda-se, substitui a prenda cara por uma barata ou nem isso. Cá em casa, enfim, na casa onde me reúno com familiares, alguém teve a abençoada ideia de propor a eliminação de prendas entre adultos. Ficam para prendar apenas os desprovidos de rendimentos. Claro que não vou ser assim tão radical mas deitei abaixo um par de presentes que me davam cabo da cabeça e que provavelmente não melhoravam a vida dos prendados.
Não deixa de ser curioso como a festa que celebra o nascimento de um pobre, entre os mais pobres, dê ocasião a tanto gasto. Eu que nunca fui de pouco pedir (pedir não custa) apenas queria o dinheiro que se gasta em papel de embrulho, fitinhas e lacinhos. Só.
Uma coisa que não pedi foi que o engenheiro Sócrates (esperavam que me esquecesse?) e os seus rapazes me viessem acenas com uns empréstimos para tratar dos dentes ou do meu enterro. Esta deliberação governamental (que aliás pouco mais é do que juntar uns serviços sociais que já existiam) apenas vem dar razão à exigencia sindical de salários acima da tabela proposta.
Sempre achei que o ordenado havia de ser anual (e dividido em doze partes), sem subsídios avulsos como a miséria do almoço. Ao empregador de grandes massas de individuos caberia garantir cantinas normais e decentes. Isso sim, seria o ideal. Agora fingir que se come com o que dão pomposamente como subsídio de refeição é ridiculo e tem servido (e bem!) de engodo. Dirão que a culpa é dos sindicatos que aceitam toda e qualquer migalha. É verdade. Mas como nos casos de corrupção há sempre um corruptor activo e um passivo, pelo que o Estado também não se salva enquanto empregador. Alguém dirá igualmente que os subsídios de Natal e de de Férias dão muito jeito. Eu não proponho a sua eliminação mas apenas que se dividam em doze prestações mensais que acrescem ao ordenado. Quem quer fazer férias que vá poupando. Quem quer pôr prendas no sapatinho que vá comprando durante o ano…
Eu sei que alguém virá mansamente repreender-me, dizendo que esta simplificação remuneratória poderia ter mau resultado: em chegando as férias pode não haver dinheiro para a praia e no fim do ano o dinheiro das prendas não aparece. É verdade. Mas o Estado não deve, nem pode, ser o tutor dos cidadãos. É por estas e por outras (muitas) que não chegamos à maioridade cidadã. Como também não chegamos com esta política de empréstimos que o Governo tirou da cartola. Que, ainda por cima, ninguém lhe agradece!
Quem também não agradece é um dos figurões da Educação que, referindo-se a um abaixo-assinado com sesenta e tal mil assinaturas, sempre foi dizendo que “isso não são métodos”. Como, acrescentou “ a ameaça de greve não é método”. O homem é totó ou simplesmente fascistoide? Então agora o levantar a hipótese de fazer greve é um insuperável obstáculo à negociação? Então, quando num país civilizado, que manifestamente a criatura não conhece, como, v.g., nos Estados Unidos, ainda há bem pouco, os guionistas de Hollywood aguentaram uma greve de meses enquanto negociavam melhores condições salariais com as majors, estávamos perante um atropelo bolchevista e gulaguiano?
Diz-se que o poder corrompe. Eu acrescentaria que o poder esparvoa…
Deixemos, todavia, estas deprimentes criaturas. Para chatear o indígena já basta a fúria compulsiva da quadra. Demasiada comida, os eternos mesmíssimos filmes na televisão, o trânsito e, sobretudo, desculpem-me leitorinhas gentis, a longa fila de ausências na mesa de consoada. Que Deus proteja os presentes e lhes dê um bom ano mas nada apaga os meus amados fantasmas, um pai, uma avó, tios, um sogro e uma sogra e tantos mais. Raios partam o Natal que mos torna tão tragicamente presentes e me faz sentir (mais do que nunca!) que se nascemos e morremos sós, também a vida nos vai tornando cada vez mais sós.
* A estampa: Nazareth de Rouault, um pintor fauviste e profundamente religioso que admiro desde uma longínqua exposição no Ateneu do Porto vai para mais de quarenta anos. quem tiver dinheiro e o bom gosto de ir até Paris poderá ver uma boa exposição dele na Pinacothéque de Paris.
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A varapau 4
Pouca memória e menos vergonha
Tudo leva, pois, a crer que a ideia luminosa da luminária que dá por Renato Sampaio, seja verdade. Surpresa? Nem por isso: o PS está como está, o desespero nunca foi bom conselheiro e a Sampaio esta jogada de alto malabarismo terá aparecido como a vera resolução do 3º mistério de Fátima.
Eu sei quepor aí ainda andarão pessoas que ao saberem disto se sintam aflitas. Até eu e já vi coisas praticamente identicas. Ainda há um par de anos, em Esposende, o PS foi buscar um rapazinho que até poucos dias antes fora o nº 2 (grande força tem este algarismo!) do presidente eleito do PSD. O rapaz ambicionava subir para a presidencial cadeira mas tantas terá feito que o relutante presidente que lhe entregara por algum tempo a gestão camarária, entendeu fazer das trias coração e recandidatar-se. A criaturinha escafedeu-se para o PS que o aceitou com vivas e hossanas. Perdeu, obviamente as eleições porque os eleitores não são poarvos nem gostam de passar por tal. E o PS continua num sólido jejum nesta amável praia.
Poderia citar outros casos, conhecidos, mas a quadra natalícia manda que não se mexa demasiadamente na bosta.
Fiquemo-nos pois neste enredo marcoense que, a ser verdadeiro (do que não duvido) e a manter-se (coisa que espero que não ocorra) mostra bem de que farinha se fazem alguns próceres socialistas nesta invicta cidade. Estão felizmente (para eles) mortos os Cal Brandão, o António Macedo, o Eduardo Ralha ou o José Luís Nunes, fundadadores do PS portuense e nacional. Já não terão de corar perante esta parvoejada eleitoral que duvidosamente terá resultado positivo (isto é ganho de eleição) porque estou em crer que as gentes do Marco por muita simpatia que sintam pelo PS não comerão um Ferreira Torres de 2ª via.
E agora digam-me que passo a vida a embicar com o virtuoso partido socialista…
d'Oliveira que se sente como a pessoa a quem sai a fava do bolo rei
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20 dezembro 2008
Adolescência
Esta coisa de se ser mãe, ou pai, de um adolescente é uma tarefa que nunca foi fácil. Lembro-me bem que não fiz a vida mole aos meus pais. Mas actualmente parece-me que as coisas estão bem mais difíceis e os desafios são muito maiores. As saídas nocturnas, por exemplo, mais concretamente a ida às discotecas. É que não há discurso que resista quando o argumento, que sabemos verdadeiro, é que todos vão. Quem não alinha fica fora do grupo. Depois é a hora de regresso a casa. Outra difícil negociação. Há ainda a ter em conta outra vertente do problema: como se faz o regresso a casa. A nossa opção é de ir buscar. Apesar de parecer um pouco idiota esta situação de ficar a fazer horas e depois ir engrossar a fila de pais nas respectivas viaturas, à espera, perto da discoteca. É duro apesar de me parecer a melhor forma de acompanhar minimamente.
A adolescência tem apenas uma fase realmente boa para os pais… é quando acaba.
Claro que se pode dizer que é um desafio, que é uma fase estimulante para todos. Até é verdade. Mas que às vezes é cansativo… é.
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19 dezembro 2008
BARBRA STREISAND (Memory)
Esta canção é especialmente dedicada a todas as corajosas e corajosos que enviaram fotos dos vintes anos para o nosso companheiro do Incursões Coutinho Ribeiro no Anónimo. Bonitas fotos recheadas de memórias.
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Suspensão da greve na TAP
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18 dezembro 2008
Cobranças mais Eficazes
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A solução para as SAD.s
O ministro das Finanças disse ontem no Parlamento que o Governo está disponível para permitir que o Estado entre no capital das empresas privadas, com a finalidade de garantir a sua reestruturação e viabilidade. Deste modo, o Estado passa a ser sócio dessas empresas, o que pressupõe que passe a intervir na gestão das mesmas.
A ser assim, pode estar encontrada a solução para os problemas estruturais da Boavista SAD (Sociedade Anónima Desportiva) e para a Estrela da Amadora SAD.
Apesar de ainda não serem conhecidos os contornos da operação, que conduzirá à entrada do Estado no capital das empresas, parece recomendável que os respectivos Administradores comecem a formalizar os respectivos pedidos, antes que se esgote a verba: 750 milhões de euros.
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17 dezembro 2008
O CIRCULO
Declarou-se disponível e uma grande vontade de ocupar a residência municipal, com direito a cama, mesa e roupa lavada. Ainda se notaram alguns indícios de resistência, por parte de alguns confrades. Mas não havia hipóteses. Santana Lopes sabe como estas coisas se fazem. Passo a passo, lá foi construindo o caminho, uma palavra aqui, uma deixa acolá e, pronto, o fim só poderia ser este: candidato, de novo.
Santana Lopes é sobejamente conhecido. Sabemos quem é, o que vale e o que se pode esperar dele, pelo que nada há para analisar ou a aventar expectativas. A visibilidade que a televisão lhe deu e dará, mais o contributo do pessoal “descomprometido” da comunicação social constitui forte aconchego para os seus objectivos. Acresce que os actuais tempos de crise não devem aconselhar mudança nos protagonistas, razão para entender o comentador Marcelo Rebelo de Sousa, quando diz, com o ar sério, próprio das pessoas sábias, que, na situação actual, Santana Lopes é o melhor candidato do PSD à Câmara de Lisboa.
Marcelo deveria querer dizer que, para o caso, Lisboa pouco conta, porque Santana Lopes é uma pessoa bafejada pela sorte. Basta-lhe existir e mostrar-se, para que as coisas lhe aconteçam. É daquelas pessoas que bem pode dizer: não faço nada, falo, e tudo me vem ter às mãos.
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A mudança de foco
Quando a crise se tornou evidente para todos, os governos mexeram-se imediatamente para salvar a banca com medidas concretas e não ouvi falar de “análise de risco”.
Quando se tornou evidente que a economia chamada real não estava a ser apoiada pela banca começou-se a avançar com acções concretas mas que, em Portugal, passavam também pela banca como intermediário e o único critério conhecido foi a “análise do risco”.
Agora que se tornou evidente que a banca continua a fazer o papel que sempre fez, que é tratar exclusivamente dos seus interesses, eis que começa a verificar-se quer nos Estados Unidos quer na Europa uma mudança de discurso a visar a economia real.
De uma coisa estou certa, não é com discursos nem do primeiro-ministro nem do ministro das finanças que a banca vai começar a actuar de forma diferente. Daí a questão: porque não apoiar directamente as empresas? Ou, numa outra hipótese, porque não através da CGD? Porque foram escolhidos o BPI e o BCP para servirem de intermediários entre o dinheiro dos contribuintes e as empresas?
Gostava muito de ter respostas para estas questões.
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O gato que pesca 4
às exmas gatas Bê e Lucy (chez Manuel António Pina) pelas suas congéneres Kiki de Montparnasse e Ingrid Bergman( chez mcr)
Caras amigas
Somos as gatas hospedadas por mcr, admirador incondicional do vosso hospedeiro Manuel António Pina. Por solilóquios vários do nosso hospedeiro soubemos que o vosso projecta editar “apenas para amigos” um livrinho de poemas.
Grande sacana!, murmurava o mcr, a gente nunca se vê e o tipo é menino para se esquecer de mim.
“Quem?, perguntou a CG, hospedeira nossa e nossa especial manicure, cabeleireira e massagista. O Manel Pina, um tipo que é poeta e que conheço desde sessenta e tal. E é bom?, Bom?, é óptimo. O gajo sabe da poda como poucos, quase nenhum.
Poda, pelo que conseguimos perceber deve ser o mesmo que poesia, só que em puro, limpo, directo, luminoso, sem rodriguinhos nem narizes de cera. Uma coisa, esta é da Ingrid, quase tão especial quanto uma gata. A Ingrid é muito selectiva neste capítulo da classificação dos seres vivos. Dos humanos só aproveita um senhor chamado Mozart, um outro chamado Joyce, um tal Borges e uns (quem seráo?) Rabelais e Voltaire. E o Fernão Mendes Pinto? Esse vem na segunda lista, divisão A, superior.
Ora, como verificam, este nosso hospedeiro, que é bom tipo, com suas manias, nunca se esquece de partilhar o fiambre do pequeno almoço comigo (Kiki dixit) anda com as vísceras alanceadas. E se o Manel esgota os livrinhos antes que o pilhe? Telefone, propõe a CG. Sei lá se o tipo tem telefone... os poetas são assim, comunicam por outros meios, por telepatia ou, no mínimo através dum tal alfabeto homográfico que era uma coisa que se fazia com bandeirinhas na mocidade portuguesa, uma estafadeira tão inútil quanto o resto e meia pateta, respondeu, sombrio o mcr. O homem é um nocturno, um cabouqueiro da noite, ninguém o apanha a horas decentes.
Foi por estas e outras razões que, enquanto o mcr está na livraria leitura com um par de jarretas da mesma idade (às quartas feiras é certinho: juntam-se na livraria, bebem café, chateiam os empregados e dizem mal do Saramago) fomos ao computador que está na nova sala dos livros e zás, atirámo-nos às teclas e aqui está: uma carta para vocês colegas e patrícias desta classe superior da Criação. É uma cunha que vos metemos: convençam o vosso hospedeiro a guardar um livrinho para o mcr. Ele merece, apesar de tudo. E tem todos os livros de Manuel António Pina. Ou quase, pois pode haver algum contrabandeado só para amigos de que não há notícia. Valeu?
* o gato que pesca é uma série que começou sob a égide de Puff von Heinzelmann, gato que morreu demasiado cedo e que tinha uma pecha pelo quartier latin. Agora é redigido por duas gatas mas mantém-se o masculino em homenagem ao primeiro redactor e à rua imortalizada por Yolande Foldés
**a fotografia que enriquece este post, o blog, e a internet é das autoras quando teriam seis meses.
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16 dezembro 2008
A varapau 3
O dr Mário Soares não pára de me surpreender: então agora, acha que se está a viver uma crise do tamanho de um elefante? Que os banqueiros são isto e aquilo? Que a Grécia está próxima? Que o desemprego alastra? Que o descontentamento é forte? Etc…. Etc..?
Mas eu, e vocês também, decerto, ouvi-o há poucos dias testemunhando um fervoroso apoio a uma das pessoas que mais tem contribuído para a imagem de crispação, ao partido governante que nos caiu em sorte, desqualificando uma reunião política que só existiu porque as coisas estão como estão, sem resposta adequada, sem uma estratégia perceptível pelos cidadãos, que já não percebem o que é que a auto-proclamada esquerda faz pois o que se vê é, sem apelo nem agravo, uma receita envelhecida e descaradamente de direita.
Seis cavalheiros do CDS “desvincularam-se” do ajuntamento que o dr Paulo Portas pastoreia. Seis, são só seis, dir-se-á. Seriam, não fosse dar-se o caso, de naquele partido seis serem quase uma multidão. O dr Portas, com a habilidade que se lhe conhece, desvaloriza: só fazem falta os que ainda não entraram no CDS! É bonito mas não convence uma criança que ainda acredita no Pai Natal. O CDS, aliás PP, é um esquife que navega ao sabor do vento e das doses de brilhantina que o dr Portas eventualmente usa para fixar aquele cabelo que mais parece uma peruca.
Tem, porém, razão num ponto. Quando um deputado resolve desvincular-se, deve desvincular-se de tudo. Foi de boleia para o parlamento e só o nome do partido é que o conseguiu levar lá. Sem a entrega da cadeirinha qualquer discurso soa a oco.
Continuam a aparecer nomes na lista dos banqueiros acusados. Aquilo toma proporções de enxurrada. De enxurradas: de acusações e de ordenados gigantescos. De ordenados que roçam a pura e simples indecência.
O Presidente Bush tem um poder de esquiva impressionante: evitou dois sapatos voadores lançados com notável pontaria por um jornalista chiita. Lembremos, sem nos pronunciarmos quanto ao mérito, que os chiitas foram, com os curdos, os principais beneficiados pela invasão americana. E que a “al qaeda”, inexistente no Iraque à altura da invasão, é de inspiração sunita. Só para evitar confusões.
Parece que o jornalista será acusado de delitos puníveis até dez anos de prisão. Cinco por sapato. Devem ser sapatos caríssimos…
Os panificadores lisboetas terão combinado preços. Que novidade! Correm o risco de terem de pagar um milhão de euros por “cartelização”. Estou cheio de pena deles…
Os petroleiros portugueses não se conluiaram quanto a preços. Ou, pelo menos, é que um cavaleiro veio dizer na televisão. As subidas e descidas de preço não foram simultaneas nem do mesmo exacto valor. Também se fossem quem é que não os acusaria? A minha sábia mãe diria que qualquer cavalheiro ligado aos petróleos sabe isso há cem anos e que se caisse na tentação de cartelizar evitaria as burrices dos panificadores.
d'Oliveira
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Au Bonheur des Dames, 159
A propósito do Natal, este incréu, ofereceu-se a si mesmo um IPod! Um IPod a sério, nada dessas mariquices de meia duzia de gigabites. Aliás, o último IPod de 160 giga!!! Ora tomem lá, que é serviço! Ainda por cima, por ser o último estava em “saldo”, enfim, com um preço enternecedor. Traduzindo: com um preço menos abusivo do que é costume.
Eu devo, todavia, explicar esta aventura. A CG andou durante mais de uma semana, murcha: uma constipação pertinaz (mas não o suficiente para a impedir de fumar uns cigarros que ela agora faz com o auxílio de uma maquineta …) deitou-a por terra. Aliás, na cama. Dores, tosse, olho pingão, enfim o trivial para a época. Ainda tentou acusar-me de lha ter pegado, por via de dois espirros que dei mas não teve êxito: precavido, avinhei-me, abifei-me (por acaso apeixei-me…) e abafei-me e sobrevivi, glorioso e resplandecente, aos miasmas com que ela empestava a casa. As gatas também sobreviveram, vê-se que são bichos com muita capacidade. E com um sólido apetite…
Chegou, porém, o dia abençoado em que a maleita retirou zangada provavelmente com os antibióticos e demais mezinhas com que a CG se enfrascava. Foi no passado sábado. Com a notória má fé das convalescentes, a CG anunciou-me, em tom imperrial e imperativo que “isto não é vida” que estava farta de estar em casa (como se eu fosse o responsável…) e que tinha de ir urgentemente às compras. Ao sábado?, murmurei, lembrado das multidões ululantes que atragantam centros comerciais e drivados. Hoje, repontou a ex-doente, sábado ou não sábado é hoje, e pronto.
Leitoras, desculpem-me, mas uma mulher que sai duma gripe e entra numa de compras é como um tsunami. Não dá hipótese. Consegui evitar várias hipóteses tenebrosas mas do “corte inglês” é que não me salvei. Do mal o menos, pensei. Sempre se almoçam umas tapas e há vários recantos para tomar o café e ler os jornais.
Uma vez dentro daquele bazar, consegui carta de alforria e, no caminho para o café passei pelo balcão dos computadores & restante parafernália. Convém dizer que a aparelhagem do meu carro dera o triste pio e um pesaroso electricista anunciara-me que não me convinha comprar um novo leitor de cd com caixa para dez discos. Porque se estragam com facilidade, porque já não fabricam, porque sei lá que mais. E que o que estava a dar era aparelhagens preparadas para mp3. Com a vantagem de poder caber muito mais música (óperas, disse-me ele como se adivinhasse esta minha debilidade por Rossini, seja ele musical ou em mero tournedó). E há aparelhos com entrada para IPod?, claro, respondeu-me e logo ali se consertou a compra de um desses maquinismos.
Mas o IPod será para mais tarde, preveni-me a mim mesmo. A época é de crise, a malta tem de ajudar uns bancos, coitados, que andam por aí a gemer, e umas seguradoras, e mais não sei quantas empresas, senão o país cai de cú.
Mas o homem põe e o Deus dos mercadores dispõe. Estava eu a olhar para a maquinaria exposta e alguém solta: olha um IPod dos de 160… E a preço de saldo, interveio o vendedor melífluo. Se eu não tivesse já um até comprava, retorquiu o primeiro. Compro-o eu, e é para já!, disse uma parte de mim suficientemente alto para o vendedor se dirigir a este vosso criado com um sorriso de predador que vê uma presa inocente e nédia (o que aliás também é verdade…)
Foi assim que em meia hora fiquei proprietário orgulhoso de um IPod, da respectiva “dock”, que também estava com “preço especial”. E o vendedor blandicioso sussurrava: compre em doze meses que não paga juros…
Um homem não é de pau, como decerto saberão. E os tais doze meses davam, de facto uma mensalidade aprazivel (menos de quarenta euros!) que, enganando-me a mim próprio, traduzi logo: são dois livros que não compro…
E regressei a casa, carregado de novidades tecnológicas, receando a leitura informe de tremendos livros de instruções que sempre me pareceram escritos em serbo-croata antigo e na voz perifrástica, seja isso o que for.
Ora, é aquí, leitoras subtis, que o milagre das rosas ocorreu. À uma consegui logo transferir do computador 3697 horas de música, traduzidas em óperas, concertos de jazz, enfim um escândalo de música que já começou a ser ouvido na aparelhagem do carro! Consegui montar a “dock” que neste momento já mostra garbosa, as horas, toca tudo e até já pré-programei estações, enfim uma estação, a antena 2.
Mas há mais: embriagado por estes triunfos, descobri que uma simples pen também se pode carregar com música (o que já fiz depois de brevíssima explicação) e ser ouvida no aparelho maravilhoso do carro que também funciona perfeitamente.
Em suma, as coisas têm corrido de tal maneira que talvez me resolva a estudar este fim de semana toda a teoria quântica. Quem consegue mexer no IPod, na dock e no resto não deve ter receio de afrontar essas minúcias. E depois do Natal entro na topologia. A menos que o frio me impeça.
* alguém dirá que a ilustração não tem nada a ver com o texto. Homessa! E por que raio havia de ter? E para já até tem. E eu gosto do Tati
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Aprender com a História
Estamos pobres, somos ignorantes, vivemos na corrupção e no aviltamento, …, a legalidade tornou-se um impossível, a acção governativa insolúvel.
Dir-se-ia, ao considerar tudo isto, que somos de uma origem diferente dos outros povos da Europa. Que inertes no meio do movimento do mundo civilizado, que nos cerca por todos os lados, …, somos os últimos descendentes de um povo mais caduco que os outros povos da Europa; … Dir-se-ia que o problema que nos agita é o mais complicado de todos os problemas; que interesses opostos umas contra as outras classes da nossa sociedade; que presenciamos a luta de raças inimigas, que mutuamente se destroem, e entre as quais não há repouso e conciliação possível.
E, todavia, nada há de mais falso. Não há país na Europa em que o problema político seja mais simples; em que as classes da sociedade sejam menos separadas por interesses inimigos; em que as opiniões dos diversos partidos políticos sejam menos divergentes, e mais conciliáveis.
…………………………………………………………………………………………..
A questão portuguesa, …, é uma questão simples, fácil e de solução realizável: é puramente uma questão económica e administrativa. É a questão de sabermos … se os capitais do país hão-de continuar a esterilizar-se no giro improdutivo da agiotagem, em vez de serem fontes de produção e de riqueza pública; …; se os ministros hão-de ser pagos pelo Estado para trabalhar em favor da nação, ou subsidiados pela agiotagem para favorecer os seus interesses; se há-de haver um Governo independente, ou se havemos de ficar enfeudados aos agiotas; se hão-de governar os homens mais probos e inteligentes dos partidos, ou alguns parvenus insolentes que se enriquecem à custa das concessões… .
Esta é a verdade. A nossa questão não é política nem social. É essencialmente económica e administrativa.
Alexandre Herculano/1851
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A chamada sociedade civil deu uma ajudinha
Finanças recuam e anulam multas aos contribuintes a recibos verdes que entreguem declaração em falta até ao final de Janeiro
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DIREITO À INDIGNAÇÃO – II
O título que Mário Soares dá ao seu artigo de opinião, publicado no DN, é deveras elucidativo: A CRISE E OS MILHÕES. De facto, com milhões e milhões anunciados todos os dias é difícil de entender o avolumar da crise. Só para a banca: 20 mil milhões para aval do Estado à banca. 800 milhões de injecção no BPN, 400 milhões para o BPP, 1,4 milhões para linhas de crédito às pequenas e médias empresas, etc.
Os representantes dos pequenos e médios empresários queixam-se que a banca não concede crédito e querem saber como foram usadas as linhas de crédito que o Governo criou para as PME.s.
É neste quadro que o Ministro das Finanças e o Primeiro Ministro se mostram indignados e pedem, apelam à banca que atenda aos pedidos dos empresários. O problema é que a banca já disse que não gosta de ser pressionada para emprestar às empresas. Perante este quadro só nos resta acompanhar a indignação do Primeiro Ministro.
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15 dezembro 2008
"QUEM MORRE?"
Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que
conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
Pablo Neruda
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14 dezembro 2008
Manuel Alegre
Qualquer uma das hipóteses é possível mas duas delas desembocam na formação de um novo movimento ou, mais seguramente, um partido/coligação. Ele é livre de fazer o que bem entende, entendo isso. O que não compreendo é porque ele opta por pôr ovos em vários cestos, na mesma altura. O que me pareceria decente, para alguém que defende valores tão válidos, é que saísse do PS e depois sim, cavalgasse em todos os descontentamentos que entendesse.
Votei no Manuel Alegre nas presidenciais mas não me revejo nesta duplicidade.
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Salvem os ricos II
A intervenção do Governo no apoio à banca é de tal modo gravosa, para os contribuintes, que não pode nem deve ser branqueada, seja de que modo for. É por isso que se deve manter o tema e acrescentar tudo quanto possa contribuir para mostrar o erro desta política e a inércia das autoridades.
Entre os críticos do Governo pelo apoio dado à banca aparece agora Belmiro de Azevedo, que diz, inclusive, que “se caíssem dois ou três bancos em Portugal não se notava”. Henrique Ganadeiro, Presidente da PT, alinha pelo mesmo diapasão e diz: “ não entendo a intervenção na banca”, considerando um mau sinal a intervenção no BPN e incompreensível a ajuda ao BPP.
Quanto mais se vai sabendo sobre a actividade da banca mais se adensa a nebulosa teia. Apesar de ninguém ainda ter dito das razões que obrigaram João Rendeiro a deixar a Presidência do BPP, soube-se, agora, segundo o Expresso, que um grupo a clientes vai apresentar uma queixa crime contra Rendeiro e o BPP, por burla, peculato e favorecimento de credores.
Mas estas acções também parecem não ser novas e muito menos novidade para o Banco de Portugal. É que a autorização para criar o BPP foi dada contra um parecer/auditoria que aconselhava o Banco de Portugal, em1996, a não permitir a abertura do BPP. Contudo, António Sousa, então Governador do BdP, não deu importância a tal auditoria e lá concedeu a licença que João Rendeiro pedia.
Entretanto, António Sousa terá ocupado muitos outros cargos importantes e agora, tantos anos depois, ninguém lhe vai perguntar o porquê der ter concedido a licença do BPP quando uma auditoria desaconselhava tal decisão. Pouco tempo foi necessário para o Banco de João Rendeiro ser confrontado com uma denúncia pela prática de fraude e manipulação de mercado, conforme Público de 12/12. O Ministério Público instaurou o correspondente processo, que acabou por ser indeferido por decisão do Tribunal de Instrução Criminal.
O que tudo isto mostra é que o Governo se dispôs a salvar quem sempre andou do outro lado da lei e que, plagiando Belmiro de Azevedo, não viria grande mal para o país se deixasse esses senhores (e quem apostou neles), que tanto êxito tiveram nos negócios, levarem o seu risco até ao fim.
O que os factos conhecidos nos mostram é que ano após ano retiraram consideráveis mais valias, que resultaram de práticas irregulares e que prejudicaram o próprio Estado, mas no momento em que se pôs a nu as falcatruas, em vez de obrigar a assumir o risco, o Governo abriu as portas do cofre e deixou sair o dinheiro que até aí ninguém sabia que existia.
Os factos e a prática governativa mostram a justeza da canção “Salvem os Ricos”.
Os problemas da Banca não param, a mostrar que o Governo entrou onde não deveria entrar. No BCP as coisas não continuam lá muito católicas. Negócios em paraísos fiscais e outros podem levar alguns ex-administradores do BCP a terem de responder perante as autoridades.
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13 dezembro 2008
12 dezembro 2008
Estes dias que passam 133
Um bom dia para Portugal
Os islamistas, terroristas ou suspeitos como tal, eram uma espécie de “Nacht und Nebel” moderno. Não iam direitos para o forno crematório, não, nada disso, iam apenas para uma terra “de ninguém”, fora dos Estados Unidos e fora do mundo, onde as leis normais não têm existencia. Eles não eram reus, não eram presos políticos, não eram presos militares, eram apenas “inimigos combatentes” fora do alcance de qualquer convenção a começar pela de Genebra.
Sabendo o que se passava em Abu Grahib não parece dificil julgar que lá nesse Guantánamo extra-terrestre, as coisas deviam ser ainda mais espantosas.
Agora, diz-se, que a libertação desses presos a quem se nega julgamento, a quem se nega a lei, a quem se nega a humanidade, pode ser perigosa para eles próprios. É que são cidadãos de países onde a lei também tem um significado aproximativo. É provavel, diz-se, que uma vez na pátria o prisioneiro o deixe de ser e passe dessa transitória categoria a outra mais definitivae socegada. A de cadáver.
Bom, seja como for, Portugal, pela voz do MNE (que já aquí terá ouvido algumas)está disposto a receber esses presos, alguns deles, garantindo-lhes assim a vida e seguramente uma vida mais digna e menos injusta do que a não vida de Guantanamo.
O Governo português está de parabéns, e de parabéns estamos todos quantos, resignada mas democráticamente, aceitamos este Governo. Fez po que lhe competia, dirão. É verdade. Mas fê-lo rapidamente, dignamente antes de outros que por tradição, história e importância já se deveriam ter oferecido.
Aos governos apenas se pede que façam o que devem fazer, a tempo, e bem.
Apareceram, consta-me, alguns sussurros. O Presdiente da República terá ficado melindrado por só agora o vir a saber, e a Oposição queixa-se do fait accompli sem lhe ser dado cavaco (esta saiu-me assim e não pretendia ser irónica, convenhamos que não saiu mal…).
De facto, nada obrigava o Governo a dar conhecimento antecipado desta posição honrosa e digna que tomou. Nada ou quase: há umas regras não escritas, não direi de educação, mas pelo menos de fair play, que aconselhariam um telefonemazinho sobre o assunto. Não era por dar conhecimento a meia dúzia de pessoas que o gato ia às filhozes, que diabo…
Nem acredito que o Presidente ou a leader do maior partido da oposição pudessem dizer outra coisa senão “amen”, palabra que ambos devem usar com frequência.
Mas a falta de informação não empana a dignidade do gesto embora a diminua ligeiramente. De todo o modo, o dia, hoje, está para dizer com alegria e convicção, que o Governo de Portugal mostrou grandeza e dignidade. Num mundo cão como o actual isto, que parece pouco, é muito.
Bravo, senhores governantes.
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A Banca, as PME e a crise
Para as ajudar as PME a ultrapassar a crise, o Governo disponibilizou em Julho deste ano 750 milhões de euros. E que PME tiveram acesso a essa linha de crédito e como? Simples e eficaz: “seleccionadas pela banca, em função do risco”. A primeira tranche foi um êxito, esgotou em menos de um mês pelo que o Governo avançou com uma nova tranche de 400 milhões que também esgotou em menos de um mês.
O que se sabe dos resultados? Que inúmeras empresas foram abrangidas, segundo palavras do Ministro da Economia. É pouco, muito pouco. Deste processo que envolveu 1 150 milhões de euros dos nossos impostos sabe-se que foram disponibilizados através dos bancos, de acordo com os critérios que estes criaram ( e todos sabemos como são os critérios da banca) e que esgotaram em pouco tempo… mais nada. É pouco, muito pouco.
Fica a dúvida legítima: esta linha de crédito foi para ajudar as PME a ultrapassar a crise ou para apoiar, mais uma vez, a banca?
Entretanto foram tornados públicos os resultados do primeiro semestre deste ano da banca a operar em Portugal: lucraram 1,075 mil milhões de euros, ou seja, 5,9 milhões por dia.
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11 dezembro 2008
Extraordinário centenário!
Oliveira comemora cem anos a filmar “Singularidades duma rapariga loira”, uma adaptação de um conto de Eça de Queiroz. E há mais projectos em carteira. Como se o mundo não acabasse nunca para si. Pelo menos a vontade de viver não cessa, o que é de aplaudir. Como há 66 anos, quando filmou “Aniki Bobó”, a sua primeira longa-metragem.
O nome de Oliveira é hoje reverenciado um pouco por todo o mundo. Os elogios vêm de todo o lado. Pela obra, pela singularidade, pela energia, pela arte que sai da sua câmara de filmar. Oliveira faz cem anos e Portugal deve-lhe uma homenagem sentida. Até pelo incentivo que o seu exemplo pode constituir para os menos novos.
Podemos discutir a sua obra, podemos gostar mais ou menos dos seus filmes, mas quem venceu os mais importantes prémios do cinema europeu, quem teve como protagonistas dos seus filmes actores como Deneuve, Mastrioanni ou Malkovich, para além de alguns dos melhores intérpretes portugueses, terá sempre um lugar ímpar na nossa cinematografia.
Ao fim de cem anos, só falta a reconciliação com a sua cidade. Oliveira negou receber as Chaves da Cidade, porque diz que não foi ouvido pela autarquia. Creio, no entanto, que o arrastado folhetim da Casa-Museu que deveria ter o seu nome, um edifício construído e desocupado há vários anos, onde aliás Oliveira nunca entrou, contribuiu sobremaneira para essa atitude. Será que Rui Rio vai desaproveitar mais uma das suas bandeiras internacionais?
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Casa Pia
Advogado das vítimas pede condenação de todos os arguidos ao pagamento de indemnização. Ler aqui notícia e comentários
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10 dezembro 2008
A varapau 2
O dr Mário Soares resolveu fazer um apelo. Um apelo à unidade. Diz o excelente senhor que numa situação destas (presume-se que se refere à economia, apesar da calma olímpica de vários responsáveis governamentais) não se deve andar em “guerrilhas” políticas. Deve haver unidade. À volta do Governo, presume-se.
Parece que o dr Soares entende que a política deve ir para férias por uns tempos. E a democracia provavelmente também. Como se a crise fosse outra coisa que não política. Como se a economia fosse algo que é independente da política.
O dr Mário Soares não é como o vinho do porto. Envelhece mal. Então descobriu agora que o apelo à unidade, usado por tudo o que foi regime fascista, é o ideal para combater a crise. Esquece que durante os muitos anos em que andou na oposição, o governo da altura o criticava por ele andar em guerrilhas esquecendo que o país estava a braços com uma, duas ou três guerras na África.
O apelo à unidade, feito desta maneira, diz tudo, infelizmente, do pensamento cadaveroso de alguma elite política portuguesa. Claro que o dr. Soares tem uma desculpa. Do outro lado está Manuel Alegre. E ele, Soares, que jura não falar disso, só fala disso, mesmo quando silencia. Não engoliu a derrota eleitoral.
Também fez umas declarações curiosas sobre coragem política. Poderia, mesmo tardiamente, atribuir à drª Ferreira Leite a mesma coragem que hoje reconhece numa sua sucessora. Porque Ferreira Leite tinha na altura a mesmíssima razão que a sucessora hoje tem. Mas provavelmente o dr Soares acha que a tempos diferentes (mesmo que próximos) deverão corresponder apreciações diferentes.
E tem razão: votei nele duas vezes e fiz mesmo parte do núcleo duro dos seus primeiros e escassos apoiantes. Depois preferi Alegre. E senti-me bem. Muito bem. Mas continuei a ter ternura e respeito pelo “velho senhor”. Custa-me vê-lo a dizer o mesmo que os mais alucinados apoiantes de Salazar. Quando se tem uma biografia há que respeitá-la, como disse um dirigente bolchevique que instado a confessar “crimes anti-partido” num processo de Moscovo para salvar a vida, preferiu não o fazer. Foi condenado e executado. E ainda hoje é recordado. E respeitado.
Postado por d' Oliveira 8 comentários
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Au Bonheur des Dames 158
Parece que um belo grupo de representantes do povo resolveu baldar-se à reunião plenária de sexta feira passada. Convenhamos que a tentação era forte tanto mais que a segunda feira era feriado. Ou seja, as luminárias que passeiam a sua alta importância por S Bento e adjacências (sobretudo as adjacências) também sentem “l’apell du large” quando a um fim de semana se sucede um feriado. Ou mesmo uma ponte. Sobretudo uma ponte.
E para que querem Suas Excelências esses dias? Para ir passar um fim de semana longo com a legítima, filhos, eventual ilegítima, amigos, familiares, a um qualquer paraíso (fiscal, por exemplo)? Para dormir três dias seguidos, dado o frio, o bom e salutar habito de hibernar, para descansar das canseiras parlamentares (por exemplo: levantar e baixar o dito cujo durante as votações, estar sempre de olho atento na mão imperiosa do chefe, nos sorrisos do chefe, nos esgares, no ar de enfado que o chefe põe quando fala um adversário – que chatice os adversários poderem falar...), para fazer “trabalho político”?
É engraçado esta obrigatoriedade do “trabalho político” cair sempre perto do fim de semana. Parece que a política se arrasta langorosa e etérea desde segunda a quinta mas, depois, à vista do fim de semana, ei-la que desperta alvoraçada e zás!, toma lá que já bebes.
Mas isto é apenas um mistério “gozoso” dos muitos que enxameiam os corredores do parlamento, perdão da assembleia.
Convém, portanto, voltar à vaca fria, isto é, ao mistério do desaparecimento de uma boa fatia de deputados. Não ignoro que neste campeonato os vencedores são os cavalheiros do PPD. Foram vinte e tal os desaparecidos. Todavia, convirá lembrar que no partido do governo também estavam em parte incerta alguns eleitos do povo. Aliás, não fora os votos dos cinco deputados socialistas (não me parece que durem muito, ou melhor, não creio que boa parte deles volte a S Bento) e provavelmente a medida em votação não teria tido vencimento. As maiorias absolutas, como esta permitem sempre uma folga.
Já sei que alguém vai dizer que estou a misturar alhos com bugalhos. Que as faltas de uns não se devem comparar às de outros como se a responsabilidade da oposição fosse maior do que a da situação. Não é.
Sabemos, e desde há muito, que a tentação de ir dar uma volta ao bilhar grande é habitual entre os senhores deputados. Coitados, também eles são humanos, que diabo.
Aliás, basta ver as maldosas imagens televisivas do plenário para se notar que “aquilo” deve ser uma seca do catorze. Os cavalheiros telefonam, lêem a imprensa (a Lux?, a Caras?, o Diário Económico?, vá lá saber-se) telefonam, retelefonam, parece que nasceram com o aparelho acoplado, ou então fizeram uma plástica, é o que é. Ainda há minutos, via eu, uma vez sem exemplo, o noticiário da RTP1 e enquanto a oposição se esgalgava em declarações veementes contra a recessão, um dos senhores deputados da maioria mesmo ao lado do encarregado de responder murmurava coisas seguramente patrióticas e definitivas ao telemóvel.
É claro que eu não quero acabar com o parlamento, perdão, a assembleia, mesmo que por vezes me apeteça descrevê-la como uma “fermosa estrevaria” (velha expressão cujo autor não recordo, mas que desde já dou por alheia). A mim bastava poder mudar-se o sistema de eleição. Em vez de eleger uma molhada (e aqui no Porto, cabem-me um quarteirão e tal) eu, quando fosse pôr o papelinho na urna, escolhia só um deputado. Ao fim de quatro anos, logo se veria se o cavalheiro tinha feito “trabalho político” que se visse ou se a dita actividade fora outra, lícita ou ilícita, peculiar ou normal.
Vejo porém, que um cavalheiro estrangeiro (ou isso parece) propõe uma medida diferente. Para ele, o ideal era fechar S Bento à sexta. Encerrado para desratização. Fechado para obras. O espectáculo segue dentro de momentos.
Eu falei em estrangeiro pois consta-me que o senhor deputado da Madeira que teve mais esta ideia genial está no Parlamento, perdão na Assembleia, com o aval do senhor Jardim, esse mesmo que nos confunde com cubanos, que nos chama colonialistas, que gasta o dobro do que aqui gastam os seus pares, que se ri de tudo e de todos e continuamente nos ameaça com a independência. Por favor independentize-se, homem. Tem o meu voto. Como nunca vi o deputado, de cujo nome, como Cervantes, não quero sequer recordar-me, desmentir o soba da sua ilha, presumo que esteja de acordo com as suas posições.
Já agora, e de raspão. O senhor bastonário da Ordem dos Advogados, pôs o dedo na ferida: parece que há um nutrido grupo de deputados que, incansáveis trabalhadores!, nos intervalos da sua ingente tarefa ainda advoga. Estes homens são de ferro! Dão um exemplo de amor ao trabalho a essa gentuça sindicalizada, a essa professoragem destemperada, a esses militares ameaçadores, a esses magistrados burocratas, enfim aos portugueses em geral. E já nem falo das assessorias (mormente camarárias...) de que um número importante de deputados é detentor, prova provada que são gente com capacidades variadas, gente com queda para tudo, é o que é, gente sem a qual nenhuma câmara andava para a frente. Um que outro invejoso garante que tudo isso não passa de “arranjinhos políticos” cozinhados nas concelhias e distritais do partido, cujos dirigentes entendem controlar com o pau e a cenoura os indivíduos que mandam para Lisboa. Se calhar é esse o “trabalho político” de que se falava há pouco. Outro invejoso garantiu-me, contudo, que apesar da câmara que ele conhece bem ter dois deputados avençados, nunca os viu por lá. Nem à semana nem ao domingo. Se calhar telefonam, retorqui-lhe. Só se for com chamada paga no destino, respondeu-me o difamador.
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Farmácia de serviço 47
Diria, aliás, um dos mais importantes compositores do século XX. Mundiais! Pela novidade da sua obra, pela clareza dos seus propósitos, pela força das suas convicções musicais e outras.
O boticário que estas vai ajuntando não é um especialista em música contmporânea, não é, de resto especialista em nada, mas muito menos em nesta música. A orelhinha nasceu-lhe tarde e a más horas para a música contemporânea e tem certa dificuldade em ouvir e perceber obras posteriores aos primeiros anos do século passado. Todavia, consegue comover-se com a música deste grande "kantor devant Dieu", com o seu profetismo e a sua fé exarcebada.
E não podia, não podia de modo algum, não deixar constância do seu respeito e admiração pelo autor do "quatuor pour la fin du temps" concebido, escrito e dado em primeira audição num campo de concentração militar em 1940. Aí acima está o programa. Mas é mais do que um programa, ou melhor é um verdadeiro programa: uma aposta na vida contra a morte, na liberdade contra a opressão, na paz contra a guerra.
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09 dezembro 2008
Para evitar as faltas dos deputados
Evitar as faltas dos deputados foi a razão invocada pelo deputado Guilherme Silva para avançar com a proposta dos plenários da Assembleia da República se realizarem apenas de terça a quinta. Invoca que os deputados são provenientes de todo o país e, há que ser humano, seria de todo compreensível que lhes fosse dado espaço para conviverem com as respectivas famílias.
À partida, essa ideia parece um bom exemplo da tendência de se corrigir um erro com outro erro. Mas, no caso presente, rapidamente se conclui que é mais um bom exemplo da tendência dos deputados de extraírem benefícios a partir de um erro o que, em boa verdade, é coisa só reservada a eleitos…
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Preocupação Essencial
O líder parlamentar do PS, Alberto Martins, mostrou-se preocupado com “a promiscuidade entre as esferas pública e privada”. Não sei há quanto tempo dura a preocupação do lider parlamentar, mas pelo que li parece ser uma preocupação recente.
Contudo já que o líder parlamentar do PS revelou que agora “o PS tem uma disponibilidade total para reavaliar o regime de incompatibilidades”, então, não deve perder a embalagem para rever o Estatuto dos Deputados, que permite que os ditos exerçam muitas outras profissões em acumulação com a actividade (pelos vistos mais ou menos secundária) de deputado.
Segundo o Diário Económico 20% dos Deputados exercem a advocacia, sendo esta a profissão mais representada no Parlamento. Com tantos juristas nas bancadas da A.R como entender a má produção legislativa, a fazer fé no que se vai ouvindo (magistrados e juristas não parlamentares). A resposta até pode ter a ver com o facto dos Senhores Deputados-juristas andarem tão ocupados com os seus clientes que não têm tempo para estudar os projectos-lei, que votam seguindo as instruções do líder parlamentar.
Assim, no actual regime, o primeiro conflito de interesse púbico e privado tem por sede o Parlamento. Em conclusão, Alberto Martins bem pode começar por atacar o problema da “promiscuidade entre as esferas pública e privada” que convive e é inerente ao exercício da função de Deputado.
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The3tenors-Carreras-Domingo-Pavarotti--Nessun Dorma
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06 dezembro 2008
Diário Político 93
Mas há, de facto, umas criaturas, certamente movidas por um impetuoso desejo de servir a pátria, que juram que as pessoas estão fartas das lutas “estéreis” da “corporação” dos professores. Fora o facto de não saberem o que é uma corporação, e muito menos o que são direitos profissionais, devem estar cheias de razão. Ou não fossem opinion makers... impolutos e rigorosamente neutros...
Todavia, como parece haver um reduzido número de irredutíveis aqui vai mais uma acha para a fogueira.
A senhora ministra, com a argúcia e sentido de oportunidade que se lhe reconhecem, entendeu declarar em pleno parlamento que para o ano está disposta a rever tudo, absolutamente tudo mas que este ano a avaliação é o que está a dar. Ou seja: uma pessoa avaliada este ano pode, se novas normas (previsíveis) vigorarem, ficar altamente prejudicada por obedecer a uma lei que já é a prazo.
Chama-se a isto uma burla. Um gracejo, uma troça canalha a quem sofre os abusos de um poder que não sabe sê-lo nem se auto-limita.
Eu sei que amigos meus, camaradas desta viajem bloguística entenderam em seu tempo dar o seu honrado aval a esta ministra. Agora que ela mesma subverte as regras do jogo e dá o dito por não dito estes meus amigos ficam descalços. Claro que poderão continuar a achar exactamente o mesmo que achavam mas se por acaso formaram a sua opinião no argumentário ministerial devem estar um pouco atrapalhados. Como eu próprio estaria, devo dizê-lo, porquanto sempre entendi que toda e qualquer actividade (incluindo a política, sobretudo a política...) é passível de passar pelo crivo da avaliação. Deve passar por esse crivo. Só que...
Só que as regras que hão-de presidir a essa acção devem ser claras, justas, perceptíveis por todos e úteis. Não devem, por exemplo, servir para poupar uns miseráveis euros ao Estado como parece poder depreender-se da cuidadosa separação profissional e remuneratória entre professores titulares e o resto.
Um empresário pode começar por trabalhar só e terminar com dez mil empregados. Nada se opõe ao seu esforço e à sua subida. Basta-lhe trabalhar, ter sorte, saber vender o seu produto e recrutar os melhores para o cadjuvar. Não há nenhuma lei que limite o número de empresários de sucesso a 5, 10, 20 ou 50%.
No caso dos professores, basta ler, pelo que não vale a pena perdermos aqui tempo a falar disso. Aliás a regra que se aplica aos professores tem equivalências em diferentes corpos da função pública. De facto, se é certo que a percentagem de bons e muito bons profissionais é reduzida nada permite que se estabeleçam números fechados. Imaginem se isso ocorria na actividade privada...
Com um ponto de extrema gravidade. Desde há uns anos a esta parte, os cargos de chefia na função pública caíram inexoravelmente na escarcela do partido no poder. Os chamados concursos (e há uma lei que os contempla) ainda não ocorreram e duvida-se que alguma vez se concretizem. E mesmo que alguma vez algum se realize conviria saber quem entra no júri, quem estabelece as regras, como é que serão avaliadas as candidaturas. Ou seja, é esta gente, sem mandato que se conheça que avalia os restantes. Estão a ver?
Mas deixemos estas minúcias. Voltemos a pobre ministra que caminha com os olhos brilhantes e em alvo rumo ao matadouro. Desde há meses que tem sofrido consecutivas derrotas que apimenta com comentários que seriam patéticos se não fossem ridículos. Está a prazo, não há quem o negue. Nem ela, aliás.
Perguntar-se-á: então porque é que ainda lá está? Não causará desgaste na imagem do governo? Não se corre o risco de perder eleitores (e os professores, sabe-se, são votantes naturais do PS)?
A resposta a estas questões é infeliz e desgraçadamente simples: é a crise. A crise que alastra, os empregos que desaparecem, a deflação que avança, o marasmo, a quebra do consumo, o desinvestimento etc... etc...
Enquanto os portugueses estiverem entretidos neste rodeo, não olham à sua volta. E á sua volta as coisas complicam-se. E complicando-se (e nem se fala nos fretes ao BPP) complicam as hipóteses até há pouco triunfais de uma nova maioria forte senão absoluta. Os jornais, os maus, claro, já falam das estranhas parcerias de certos implicados nos escândalos com altas personalidades socialistas. E a procissão vai no adro. Com um pouco de paciência chegará a vez a outros, a muitos outros. E com um pouco de sorte nossa, nem o espesso manto, que a luta dos professores tem sido, abafará o escândalo. Cá estaremos para ver, ouvir e pasmar.
Ora é nesta dupla perspectiva, a da crise geral e a da queda provavel de alguns mitos domésticos, que se deve perceber o facto desta ministra continuar a passar por tal. Politicamente está finada, falta-lhe a certidão de óbito, mesmo que isso possa ser adiado para as calendas. A Educação, que passa o seu pior período de sempre, nunca foi uma prioridade pese embora a propaganda em sentido contrário. A crise não é de hoje, estava instalada, e isso tem feito com que as verdadeiras reformas se fiquem por um aligeirar da exigência, por uma extraordinária facilitação, pela redução dos programas á expressão mínima e por um devolver de responsabilidades à escola pública e aos seus agentes, os professores.
Quando se governa para a galeria e para os amesendados e protegidos há que encontrar um bode expiatório para as dificuldades que foram adiando enquanto puderam. O processo correra bem com os magistrados, razoavelmente com os funcionários, grupo heterogéneo com interesses divergentes, minado pelas entradas massivas ocorridas as mais das vezes por favor político ou por razões familiares (é conhecida a endogamia sistemática de centenas de repartições) para as quais não há concurso que valha. Pelo menos enquanto foram feitos no seio das instituições com júris caseiros e sujeitos a todas as pressões. Outro galo cantou com os médicos e outro galo começa a cantar com os professores. Não se fala dos militares, basta ler as notícias: bandeirinha branca e aumento já na calha.
A ideia era que os professores, classe em nítida perda de influencia social, maioritariamente constituída por mulheres (eventualmente mais dóceis!...), poderiam ser batidos recorrendo a alianças espúrias quais sejam a de bom número de associações de pais que vem a escola como um vazadouro diurno de filhos que se deve substituir á família no que toca á transmissão de conhecimentos e valores. Correu mal. E vai correr pior.
Ou seja: Vai correr melhor para todos quantos acreditam nos valores constitutivos da democracia e da responsabilidade cívica.
É mais algo que ficamos a dever aos que tem por dever educar.
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