28 fevereiro 2006

Pedro Homem de Mello e a Mística Portuguesa


O postal do Rui do Carmo, ao tratar daqueles belos lenços, obra do saber ancestral do nosso povo, saber esse que muitos “pós-modernos” rejeitam como algo de reaccionário ou ultrapassado, fez-me recordar esse poeta e estudioso do nosso folclore, das nossas danças e cantares que foi Pedro Homem de Mello. Um grande Poeta com efeito, com obras como “Caravela ao Mar”de 1934, “ Nós Portugueses Somos Castos” e o maravilhoso “Há Uma Rosa na Manhã Agreste” de 1964. Já viram a beleza do título?! E livros editados (aqueles que eu tenho) pela “Edições Ática”, infelizmente desaparecida.

Foi um homem cuja Alma estava em sintonia perfeita com o povo e a sua cultura (esse mesmo povo que, à época, ainda não tinha sido “estragado” pelos “reality shows” e pelas telenovelas…).

Aliás, Júlio Dantas definiu-o como “poeta de alta estirpe”. José Régio considerou-o “um dos mais verdadeiros líricos da nossa tradição poética”. E João Gaspar Simões afirmou que ele tinha sido “um mestre, mestre no sentido em que são mestres os que abrem caminhos de poesia”.
Mas quem exprimiu, de uma forma tão comovedoramente bela, a obra de Pedro Homem de Mello, foi outro poeta, Vasco Graça Moura:

“Em Pedro Homem de Mello concretiza-se uma das nossas mais belas poesias da transgressão, “numa tensão entre angústia, o remorso, a consciência do pecado, a culpa e a vertigem erótica que é indissociável do êxtase ante a beleza humana e o prazer físico, da explosão dos sentidos, do pulsar do sangue, da memória dos efémeros momentos vividos nessa entrega e da trágica solidão que a ela se seguiu”.

Vou deixar aqui um poema que se insere na misticidade de Pedro Homem de Mello, celebrizado por Amália.
Povo que Lavas no Rio
Povo que Lavas no Rio
Povo que lavas no rio
Que vais às feiras e à tenda
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Há-de haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida não!

Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!

Fui ter à mesa redonda,
Beber em malga que esconda
Um beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida não!

Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!

Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!

Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seios...
Mas a tua vida, não!

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso.
Mas a tua vida, não!

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrada,
Mas a tua vida, não!

(Aqui fica este poema, em homenagem à nossa ultramarina Sílvia, tendo em atenção os seus românticos poemas, ela que anda muito silenciosa…deve ter “sambado” muito por estes dias… )

Em tempo: lembrei-me agora que as "nossas" graças aqui são três! São as nossas "santas" cá de casa! ( ai o que eu fui dizer...). Bem, então, a poesia, romântica e apaixonada de Pedro Homem de Mello, toda ela aqui dedicada às musas do blog...)

dlmendes

LENÇOS DOS NAMORADOS

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Vale a pena dar uma olhadela aos Lenços dos Namorados de Aboim da Nóbrega e visitar a exposição permanente do Eco-Museu.

Drag queen no Parlamento Italiano


Estamos necessitados de um breve momento de "relax". Pois aqui vai:
Diz-nos a "nossa" CNN International:
Drag queen says she's a serious politician

Italian will be Europe's first 'transgender' member of parliament if elected


“Italian transgender election candidate Vladimir Luxuria gestures during a news conference at the Foreign Press Association in Rome February 22, 2006. The 40-year-old from Italy's main communist party is a candidate in the country's general election in April.”

(da CNN.com International, com a devida vénia…)


Pois é. Ao menos na Itália a política até pode ser divertida.
Chegado a casa, começo a ler os últimos postais dos nossos amigos. Só tristezas, com efeito. E depois dizem os antropólogos, psicólogos e demais “ólogos” que Portugal é um País de deprimidos! Pudera! Ele é só problemas! É só dramas por tudo! E a resolução de carências básicas da sociedade vai sendo adiada…

Pois então vejam a sensação que vai ser daqui a algum tempo este, perdão, esta deputada no Parlamento Italiano:

Nascido Wladimiro Guadagno, o antigo organizador da PARADA DO “GAY PRIDE" em Roma, considera-se ele próprio nem macho nem fêmea, mas veste-se como uma mulher e prefere ser tratado por “ela”…

E depois dizem que a Europa não está decadente…

Assim sendo, sempre seria preferível a neta do Mussolini...

Os inimigos comuns


As coisas começaram com o processo da Casa Pia. A notícia do alegado envolvimento de destacadas figuras da política e a forma pouco hábil como o assunto foi tratado pela justiça e - percebo agora - os sintomas de uma suposta promiscuidade entre alguns da justiça e alguns da política, veio criar uma crise sem precedentes entre os dois mundos.

Não me parece, pois, que tenha sido por acaso que este Governo abriu uma frente contra os "privilégios" da justiça. E não me parece também que seja por acaso que, em resposta à redução dos "privilégios", as corporações da justiça reajam com greves e greves de zelo mais ou menos camufladas, tudo com o propósito último de demonstar, estatisticamente, que as mexidas não resolvem o problema que, supostamente, o governo visava atingir: uma maior celeridade da justiça.

Ora, esta é uma disputa que não vai levar a lado nenhum. Desde logo, porque não vai durar muito. É que há um ponto comum nos interesses da política e dos magistrados: a comunicação social. Os jornalistas parece que passaram a ser o inimigo comum. A política está a preparar o maior atentado à liberdade de imprensa de que há memória no Portugal democrático, com alterações ao regime de segredo de justiça que, em rigor, não mais visam do que impedir que se noticiem facos de processos judiciais antes do final do processo. Por sua vez, a justiça, com a apreensão dos computadores de jornalistas, criou um precedente que tem um inegável cheiro de intimidação e vingança.

As coisas não tardarão, pois, a chegar à normalidade entre a política e justiça. E os jornalistas que se cuidem. E, sobretudo, não baixem os braços.

É que, neste caso, o atentado não é contra qualquer privilégio dos jornalistas. Por muito que alguns teimem em não perceber, o direito de informação não é, sobretudo, um direito dos jornalistas - este é um direito funcional que visa o superior direito dos cidadãos a serem informados. E este é um dos pilares básicos da democracia.

O que leva a questionar: quem quer matar a democracia?

Aromas e sabores de Espanha

Em trabalho no reino dos Algarves nos últimos dias, aproveitou este incursionista, militante mas absentista, o fim-de-semana para dar um salto à vizinha Andaluzia.
Hoje, com a Via do infante e a Autovia do Centenário concluídas, é um saltinho de qualquer ponto do Algarve até Sevilha. Depois, seguindo um pouco mais para sul, sempre em auto-estrada, em menos de uma hora estávamos em Puerto de Santa Maria, para almoçar.
Estive na dúvida entre uns mariscos no Romerijo ou uma carnita no Méson del Assador e acabei por optar por este último. Depois do jamon ibérico, dos morrones assados e da salada, veio para a mesa um pequeno fogareiro, com brasas, para que o próprio cliente possa grelhar o chuleton de buey a seu gosto. A carne estava óptima, tal como os entrantes e as sobremesas. Em vez do vinho, talvez um Rioja, que seria certamente melhor companhia, teve este comensal que se contentar com umas cañas, uma vez que a viagem haveria de prosseguir e não seria interessante qualquer encontro com a Guardia Civil.
O méson estava à cunha e com vasta fila de espera mas, estranhamente, o aroma dominante era o da carne grelhada. Faltava ali qualquer coisa que, às primeiras impressões, não era identificável. Bem, só no final da refeição me apercebi que ninguém fumava na apinhada sala. Era essa, de facto, a grande diferença. A seguir, numa pequena pastelaria onde fomos tomar o café, e que também estava apinhada de gente, a mesma sensação agradável: cheirava apenas a café e bolos e não a tabaco. Aí, em local bem visível, um cartaz chamava a atenção para a proibição de fumar em locais públicos. Ah grande Zapatero, pensei. Quando será que o Sócrates segue os bons exemplos, em vez de se entreter com fogo-de-vista ? É verdade que também me lembrei do nosso Carteiro e de um seu post sobre a liberdade de fumar, mas neste aspecto não tenho qualquer hesitação: proibição do fumo em lugares públicos, Já !
À noite, no hotel em Marbella e, no dia seguinte, às portas da Mesquita-Catedral de Córdova (de que nos falava num post recente o nosso prestimoso Marcelo), a mesma agradável sensação do cheiro a comida nos restaurantes. Aqui, na cave sem grande arejamento do Rafaé, mesmo para quem, como eu, detesta o cheiro a fritos, o aroma tornava-se agradável, pois cheirava a chipirones, a boquerones, a pimentos del piquillo, a gambas al ajillo e a outras coisas boas, e não a tabaco, alcatrão ou nicotina.
Parece que a lei, antes de entrar em vigor, em Janeiro deste ano, foi muito contestada e havia quem vaticinasse que nunca seria cumprida. Dois meses bastaram para demonstrar que, pelo menos aparentemente e pela curta amostra que me foi dada ver, a lei está a ser cumprida, sem grandes sobressaltos e com manifesta vantagem para a saúde de nuestros hermanos.
Vamos lá ver se, como diz o ditado, os bons exemplos frutificam.

Da liberdade, hoje

«Está em marcha uma avançada do poder do Estado em nome da nossa protecção. [...] Mas quem nos protege dos danos causados pelo Estado?
A querela do momento (ou a de sempre?), dentro e fora de portas, é a dos limites da liberdade e da segurança. O episódio dos ‘cartoons’ inflamou o debate que já estava em curso, com a particularidade de revelar que muitos dos que defendem acerrimamente a liberdade de expressão na arena internacional são os mesmos que se têm confessado compreensivos com medidas de limitação individual na ordem interna dos Estados Ocidentais.
Em Inglaterra, pátria de John Locke, o Governo de Blair prossegue a sua batalha parlamentar para que seja introduzido um bilhete de identidade nacional obrigatório para todos os cidadãos, ao mesmo tempo que aprova a proibição de fumar em todos os locais públicos, incluindo todos os PUBs e clubes privados. Por cá, se a regra em relação ao fumo continua a ser relativamente liberal ou em alguns casos simplesmente a não ser cumprida, em matéria de registo central dos indivíduos ninguém nos dá lições. Se a burocracia vigente nos inferniza a vida, crie-se um documento único para cada cidadão. Se a constituição proíbe expressamente que nos codifiquem, qual produto de prateleira no supermercado, com um número único, o Governo propõe então um único cartão com vários números.
Agora, segundo foi amplamente noticiado, a Unidade de Missão para a Reforma do Código Penal, coordenada por Rui Pereira, prepara-se para apresentar uma proposta de alteração ao Código Penal, de forma a punir os jornalistas por “crime de perigo” dos danos eventualmente causados por divulgação de matérias em segredo de justiça. Não querendo ficar atrás, o Bloco de Esquerda, pela voz de Ana Drago, anunciou que vai propor a “punibilidade dos órgãos de comunicação social pela violação do segredo de justiça”, para que a responsabilidade recaia sobre as empresas de comunicação social e não sobre os jornalistas. Sem querer entrar na disputa, e com a devida vénia, apenas poderemos classificar as duas propostas como de igualmente insensatas e perigosas. Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos e, ao que diz a História, o homem que redigiu o texto da Declaração de Independência, resolveu a questão assim: “Se pudesse decidir se devemos ter um Governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último.”
Passados duzentos anos, parece que ainda não aprendemos. Está em marcha uma avançada do poder do Estado em nome da nossa protecção. O Governo quer zelar pela nossa saúde adoptando medidas que visam combater os malefícios do tabaco, sobre o qual cobra impostos, da burocracia, que ele próprio criou, do terrorismo internacional e do mau jornalismo. Mas quem nos protege dos danos causados pelo Estado? Sim, viver em democracia acarreta riscos e ameaças, mas nenhum deles é comparável ao perigo de um Governo com poder absoluto.

Nuno Sampaio, Diário Económico, 28FEV06

estes dias que passam 14

alto e pára o baile!

Eu bem sei que estamos em pleno carnaval e que o rifão diz "é carnaval ninguem leva a mal" mas francamente...
Em Guimarães, cidade a todos os títulos interessante, houve uma homenagem ao Zé Afonso. Como todos os sus antigos amigos, tal facto não só me alegra mas até me enche de orgulho. Que diabo, conheci-o muito bem, bebemos imensos cafés juntos, aqui e ali algums grades de cerveja, foi no "Mandarim" alí pela Praça da Republica (as más linguas diriam no Kremlin em plena Praça Vermelha) que o Jaime Magalhães Lima nos apresentou e logo nesse dia o Zeca tinha escrito os "meninos do Bairro Negro" de que teremos sido os primeiros comovidos leitores.
Sou do Zeca até morrer (como aliás também sou do meu querido colega Adriano -ah se eu soubesse pôr uma fotografia aqui o que vocês se ririam - do Sérgio irmão de leite da minha primeira mulher, do meu companheiro de casa ( a imortal Laura em frente à AAC) Zé Mário, dos estúrdios Salomés, todos em magote (belas noitadas em Lisboa nesses anos setentas e tais, Jesus, Jesus the scenes we have seen) e de mais dois ou três do mesmo calibre que ao longo da minha prolongada mocidade e desregrada vida fui conhecendo.
Para completar: gosto tanto do Zeca que até oiço os fadunchos coimbrões que ele cantou. em erntrando o zé sai a má vontade contra o "coimbrãaa memiiinaaa e móoooçaaa" que sempre me animou.
Agora que alguma gente também zecafonsista me venha gargarejar via "Público" (27 de Fevereiro, pag. 37 ) que este admirável cantor é "melhor do que os Beetles e só comparável a Bach" ( Zeca Afonso é o nosso Bach vociferou um cavalheiro de nome Alípio de Freitas, ex-padre e guerrilheiro, companheiro do Che Guevara" e não sei que mais coisas além de ser professor universitário).
Eu não sei das companhias do Che pelo que estou disposto a acreditar piamente que este cavalheiro tenha sido seu apóstolo. O facto de nunca lhe ter ouvido o nome não quer dizer nada. Nem isso importa. O que interessa aqui é a referencia ao João Sebastião porque longe de erguer o Zeca às alturas de Bach o apouca por ridícula e despropositada. Coitado do Zé Afonso, logo ele que era um tipo modesto! Mas culto, atenção!, se ouvisse alguem referir-se a si como Bach havia de ficar verde de raiva e vermelho de vergonha. Um pouco como a bandeira da ditosa pátria que produz alípios e que os deixa dizer coisas (como aquela famosa prima do Solnado que passou à imortalidade por dizer "pois". Coisa aliás bem mais inócua do que as palavra alipianas.).
O famoso padre Mário da Lixa também meteu a sua colherada e pelos vistos será mesmo o autor de uma nóvel palavra (burrifando em vez de borrifando como aconselha Afonso Praça no seu "novo dicionário do calão" ed. Notícias, Lisboa, 2001, p. 46).
Na sequencia desta linha burrificadora (apud ex-pároco da Lixa ou jornalista Alexandre Praça: eles que dividam os méritos desta descoberta burrificante...) terá havido também quem tenha defendido a grandeza afonsina face aos quatro de Liverpool. Terá sido um anónimo pelo que não o poderemos aqui nomear com grande tristeza nossa, como calcularão os leitores.
Dói ver a que pontos chega a tontice nacional. Eça ria-se de Pinheiro Chagas a quem chamou brigadeiro. Apetecia chamar a estes ínclitos seguidores do nacionalismo a outrance qualquer coisa. Mas brigadeiros nunca. Esta gente mesmo no duvidoso privilégio do assentar praça nunca passariam de cabo, 2º cabo para ser mais preciso. Não que não lhes corra nas veias o sangue dos vencedores da batalha de Ourique, nada disso: apenas porque a vis patriótica é absolutamente superior à capacidade cerebrante de que terão durante um par de dias dado mostras em Guimarães.
Falei por aí em censura. Às vezes quase que sinto saudades dela.

Máscaras

Decidi mascarar a revolta e a irritação, mas sem esquecer a tromba com que ando, e fui ver o carnaval. Levaram-me. Um jantarzinho bem aviado e música a seguir. No "B Flat", em Matosinhos, onde nunca tinha ido, ouvi, muitos anos depois, a música do Carlos Araújo (grandes tempos os do "Splash", pá!, com o Rui Veloso, a Lena d'Água, o Óscar Branco, o Feio e tantos outros e o pessoal dos jornais que fazia horas para que a edição saisse das rotativas...), que, sempre simpático, tinha mandado sms a dizer que estava lá. Não ficámos muito tempo, que a malta é jovem e quer agitação. Daí para onde? Para o "Batô"! Sim, para o intemporal "Batô", em Leça, que está igual ao que era da última vez que lá estive (há 15 anos?), como nessa altura estava igual à primeira vez que lá fui. Não fiz o retrato, que em dias de carnaval é sempre difícil perceber quem está. Mas foi divertido, lá isso foi, mesmo que eu tenha afivelado ar circunspecto de quem pensa nos dias depois do carnaval...

(Vejo que no blog Câmara Corporativa se comenta o meu postal sobre a minha passagem por Coimbra e a minha impureza para ser magistrado. Não percebi se bem se mal. Nem interessa...)

27 fevereiro 2006

Integralismo Lusitano: Quid Novi?


Eis os "rapazes", que sofreram na pele as tropelias de Afonso Costa (a "coisa" passa-se em 1915, aquando de umas ingénuas Conferências da Liga Naval acerca da "Questão Ibérica", tema então muito na moda; da esquerda para a direita, em pé: Ruy Ulrich, Hipólito Raposo, Luís de Almeida Braga e José Pequito Rebelo. Sentados, da esquerda para a direita: António Sardinha, Vasco de Carvalho, Luís de Freitas Branco, Xavier Cordeiro e Alberto Monsaraz.


Perguntou-me hoje o meu amigo MCR o que é isso do Integralismo, nos dias de hoje?! assim "a modos" como quem diz: para que serve isso nos dias que passam?...
Pois é, meu caro, eu tenho a "mania" destas "velharias"...

(adivinho o sobrolho um pouco carregado…que raio! O que é que o homem aí traz hoje de fracturante?

Pois bem, como me dá aliás um grande prazer escrever para os nossos Incursionistas, uma “elite” direi eu! e concordem eles ou discordem, que é para isso que aqui estamos, e independentemente da bondade das ideias, penso que há que trazer à superfície dos dias que passam, temas que fizeram a paixão dos homens pensantes de cada época, temas esses que ajudam a reflectir sobre a sociedade que agora nos é dada a viver, porventura ajudando-nos a melhor interpretá-la ( será esse um dos contributos para os nossos dias, o repensar este tema) e, quanto mais não fosse, dar esses mesmos temas a conhecer a uma geração que por vezes, poucos mais horizontes possui do que o “enter” e o “escape”. (não é mau…)

Mas então vejamos só um pouco desta "matéria":

Segundo o recentemente falecido (2003) Henrique Barrilaro Ruas (andava ele a transcrever as Homilias do Padre Vitor Feytor Pinto, que “pontifica” ali na Igreja do Campo Grande, para as verter em livro – asseguro-vos que são pérolas, de uma dimensão muito abrangente, nada de “beatério”) o Integralismo Lusitano constitui uma visão geral do Povo Português como Nação, vendo o mundo e a vida como uma filosofia coincidente com o que se pode chamar Humanismo Cristão, e fazendo a defesa de uma constituição natural e histórica da Nação Portuguesa, fundamentada na dignidade da pessoa humana e num sistema de instituições organicamente encabeçadas pela Instituição Real.

Ora aí está uma dada visão do Integralismo.

Curioso que antigamente pensava-se…

Hoje vivemos tempos “ pós-modernos” nos quais se pretende desconstruir os nossos “ mitos” (também vivemos deles não é verdade? Olhem, um exemplo: a Nação) os nossos símbolos a nossa História.

Perdoem-me, mas admiro um António sardinha. Vejam este percurso:

Tendo sido um destacado republicano, após a implantação da República deu-se nele uma profunda desilusão com o novo regime. Convertido ao Catolicismo e à Monarquia, juntou-se a Hipólito Raposo, Alberto de Monsaraz, Luís de Almeida Braga e Pequito Rebelo (os nossos rapazes da fotografia) para fundar a revista Nação Portuguesa, publicação de filosofia política a partir da qual foi lançado o movimento político-cultural denominado "Integralismo Lusitano" em defesa de uma "monarquia tradicional, orgânica, anti-parlamentar".

Ai este “antiparlamentar” dá-me hoje um especial gozo!


Durante o breve consulado de Sidónio Pais, foi eleito deputado na lista da minoria monárquica.

Em 1919, exilou-se em Espanha após a sua participação na fracassada tentativa restauracionista de Monsanto e da "Monarquia do Norte".

Et voilá! Não me posso alongar muito mais neste postal, pois a intenção não é maçar-vos mas trazer, praticamente por acaso, um tema que apaixonou uma geração.

A História de Portugal está recheada de deliciosas “historietas”. É destas que se faz uma Nação!

dlmendes

AO GATO E AO RATO

“Os assaltantes estão a usar métodos cada vez mais criativos para o furto de esmolas religiosas. Longe vão os tempos da destruição das caixas de esmolas. O trabalho é agora mais “limpo” ...
No santuário de S. Bento da Porta Aberta, os larápios usaram fio de rede, com um medalhão pesado e envolto em cola de rato, que era introduzido no orifício da caixa de esmolas, trazendo depois notas e moedas do fundo”.
Noticia o Terras do Homem (Amares, Terras do Bouro e Vila Verde) desta quinzena, adiantando que os responsáveis da Irmandade de S.Bento acreditam que “conseguiram já suster a sucessão de furtos nas caixas de esmolas”, não só pelo reforço da vigilância, mas porque “foi colocado um sistema nos orifícios das caixas que, através de dentes de serra, conseguem cortar o fio de sediela quando ele é puxado para cima com peso”.

"F.P.'s" ou a demagogia barata



“Sweet was the song” – é a música que me acompanhou o dia todo, embrenhado que estive em árduas considerações administrativistas...

Este tema é um verdadeiro “lullaby” retirado do CD “O Magnum Misterium”, o qual nos relata os cânticos, cheios de ternura, da Virgem Maria ao seu pequenino Menino Jesus...

Mas, o que me levou agora aqui ao nosso “Incursões”, instância de retemperação, neste final de dia, véspera de um Carnaval que nada me diz, é o desejo de vos aqui trazer este facto curioso, o qual é constantemente propalado: que na Administração Pública não se trabalha, e que se fazem inúmeras pontes!

Pois posso dizer-vos que este pobre escriba andou aqui a labutar todo o (santo) dia com carácter de urgência e, consequentemente, os seus mais altos superiores hierárquicos...

E eu, que ainda há pouco tempo, na televisão, vi o inefável Ludgero Marques a afirmar, para todo o País, a propósito de um feriado e respectiva (anexa...) ponte, que os privados esses não, são uns desgraçados, não fazem pontes. Que os “F.P’s” ( ai o perigo das siglas!) é que são versados na matéria...

Então, porque é que eu encontrei hoje, de manhã, a minha cidade deserta?

Será que são todos “F.P’s”?

Esta demagogia barata...

dlmendes

A Poesia rasga a sombra dos dias...


Há dias tinha aqui falado dele, num comentário ao JCP, e eis que, afinal, renasceu: o "meu" Jirí KYLIÁN vai apresentar, certamente com a sua coreografia tão poética, através da Companhia Nacional de Bailado (CNB) no Teatro Camões, aqui na Capital, entre 17 e 31 de Março e 1 e 2 de Abril, o "Return to a Strange Land". Nome apropriado nos dias que correm...

Missionário


Grunho, xenófobo e racista, porco machista, retrógado e reaccionário. Inculto e politicamente incorrecto. Com uma particularidade: não sou um intelectual, capaz de explicar as coisas com citações a preceito. Não sou melómano (nem megalómano), não visito com a regularidade devida exposições de arte, nem vou à opera. Sou o português comum, o homem que apesar de tudo lê jornais, mas que não toca piano e fala mal francês e inglês muito pior. Não tenho instinto matador, não sou de levar ao tapete o adversário e muito menos de o pontapear quando no chão. Sou um crédulo, advogado com quem é difícil fazer acordos mas, ainda assim, um conciliador de tensões. Sou um tipo que não regateia esforços na defesa do que me parece justo, ainda que, para isso, tenha de afrontar poderosos e deuses ou semi-deuses. E o pior: tenho a mania de dizer o que penso, mesmo quando sei que me vou tramar. Paciência.

O pior, mesmo, é esta tendência para escrever estas coisas. Alguém quer saber disto? Claro que não!

Mas escrever isto retempera-me. Por muito que vozes amigas me digam para estar calmo. E para não dar um passo a mais do que aqueles que dei este fim-de-semana, aqui, nos meus postais abaixo. Vejamos: esta é a minha liberdade de expressão, é a minha vida.

Não sei calar revoltas nem desilusões. Tenho todo o direito do mundo a indignar-me. Por muito que isso doa e me provoque insónias. Nos finais da década de 80, jornalista, pús o país em estado de guerra com uma investigação sobre casos de corrupção na judiciária. Sei que já não tenho o mesmo vigor (quando olho a minha cara ao espelho, continuo a ver um miúdo, mas a pele já não é a mesma), mas, ainda assim, estou aqui aberto a mais um combate. Pela Justiça. Por aquelas coisas todas em que acreditei ao longo de todos estes anos. Aquelas coisas que me fazem acordar de madrugada para pensar em estratégias de defesa. As manhãs pouco coloridas de viagens por esse país fora para chegar a tempo a julgamentos atrasados (como eu o percebo, meu caro, quando fala nos intermináveis julgamentos em quartéis de bombeiros gelados...). As noites em que acordo para ir ao escritório para ver se não falhei um prazo...

Acho que me tornei um missionário.

26 fevereiro 2006

Uma vida de equívocos

A reflexão de fim de semana leva-me a reconhecer que a minha vida tem sido uma sucessão de equívocos. Equivoquei-me em relação a várias pessoas em quem confiei e em relação a alguns dogmas, porque acreditei piamente em certezas absolutas que se revelaram um logro e que estouraram nas minhas mãos como bombas de carnaval. Em todos os casos saí magoado.

A última mágoa é talvez a mais prosaica. Quando estudei direito, nunca coloquei a hipótese de ser magistrado, ainda que o meu pai tivesse gostado que eu fosse. Mas eu achei que não estava talhado. Os meus colegas que apontavam para a magistratura eram pessoas bem comportadas, e eu era um boémio na boa tradição coimbrã. Eles iam às aulas e estudavam, eu ia pouco e estudava pouco (estudei muito depois de acabar o curso). Eles viam livros de direito apenas e eu andava já pelos jornais. Eles fugiam da política a sete pés e eu andava na agitação política. Eles namoravam muito certinho e eu praticava crimes de invasão de lugar vedado ao público (quando entrava nos lares pelas janelas). Em suma: eu sentia que não estava em estado de pureza bastante e que era um miúdo demasiado rebelde para ser o magistrado impoluto, ponderado e inatingível que preenchia o meu imaginário.

Olho para trás. E para a frente. Olho para o país descrente. Olhos todos os dias para os meus clientes descrentes, pessoas que já não olham para os magistrados como uma casta em que se pode confiar cegamente. Tento persuadi-los do engano, não porque sim, mas por convicção. Uma convicção que, dia-a-dia, se vai diluindo. Não porque tenha razão de queixa nos problemas concretos (as excepções são poucas), mas porque, indo por aí abaixo, no blog, vou lendo o que magistrados pensam de magistrados e pela forma como se assume que há promiscuidade entre o poder político e os magistrados. Não sou eu que digo. São os próprios. Pelo menos alguns. E a minha sensação de uma vida de equívocos regorgita.

Afinal, eu era suficientemente puro para ser magistrado (não estou arrependido de não ter ido por aí). Afinal, eu sou é demasido crédulo. E um ingénuo...

(Tudo isto faz-me recordar a minha última conversa com Avelino Ferreira Torres, esse grande vulto da democracia. No outono de 2001, adversários políticos, ele disse-me uma coisa que me aterrou sobre magistrados. Não consegui esconder a revolta. Mas, afinal, ele devia saber do que falava...)

Foro Especial ?

Cita-se:
"Artigo 15º(Foro Próprio)
1. Os magistrados judiciais gozam de foro próprio, nos termos do número seguinte.
2 - O foro competente para o inquérito, a instrução e o julgamento dos magistrados judiciais por infracção penal, bem como para os recursos em matéria contra-ordenacional, é o tribunal de categoria imediatamente superior àquela em que se encontra colocado o magistrado, sendo para os juízes do Supremo Tribunal de Justiça este último tribunal.
Artigo 16.ºPrisão preventiva
1 - Os magistrados judiciais não podem ser presos ou detidos antes de ser proferido despacho que designe dia para julgamento relativamente a acusação contra si deduzida, salvo em flagrante delito por crime punível com pena de prisão superior a três anos.
2 - Em caso de detenção ou prisão, o magistrado judicial é imediatamente apresentado à autoridade judiciária competente.
3. O cumprimento da prisão preventiva e das penas privativas da liberdade pelos magistrados judiciais ocorrerá em estabelecimento prisional comum, em regime de separação dos restantes detidos ou presos.
4 - Havendo necessidade de busca no domicílio pessoal ou profissional de qualquer magistrado judicial é a mesma, sob pena de nulidade, presidida pelo juiz competente, o qual avisa previamente o Conselho Superior da Magistratura, para que um membro delegado por este Conselho possa estar presente."


Pergunta-se: este regime só se aplica a um dos órgãos de soberania ? Porque não aos outros ? E porque não a nenhuns ?

25 fevereiro 2006

farmácia de serviço nº17

Sob o signo do Carnaval sai este conjunto de receitas para viver (ou tentar viver) melhor. E sai dedicado ao senhor LC avisando-o que é tempo de regressar ao blog que fundou. Quem o vir por aí que o avise. Não há (como me parece que havia poucas na altura) razão para não dar um ar da sua graça.

Este boticário que fazem o favor de aturar tem uma confissão a fazer: aqui à puridade, muito à puridade, não suporto o carnaval. Ou pelo menos o carnaval lusitano, pindérico, ridículo, constipado (no duplo sentido) com uns corsos tristonhos, sem imaginação, animados por umas baianas falsas e por umas desgraçadinhas de perna curta mas grossa vestidas de brasileiras sem a graça, sem o dengue, sem o “rebolado” das brasileiras que vemos na televisão. Pior arrepiadas pelo frio cortante de Fevereiro que atravessa tudo mesmo os collants que eles trazem. Em tempos que já lá vão numa muito séria reunião de uma comissão regional de turismo este vosso criado propôs um pequeno subsídio para uma manifestação de teatro popular antiquíssima e interessante. Foi-lhe respondido que não podia ser e que, além do mais, em termos de cultura, já se subsidiava o corso carnavalesco da capital distrital, bem ao norte, por acaso, bem ao frio por exigências da meteorologia. Terminaram aí as aventuras turísticas deste que abaixo se assina. Sem saudades.
Passemos porém ao receituário que motiva esta série.

Sabiam, claro que sabiam..., que Rossini, compôs 5 óperas em um acto? Pois andam por aí numa caixa de oito cd editada pela Brilliant Classics. O preço? Uma barateza.

2 Os juristas que pululam por estas bandas haviam de ler no “le monde” dois artigos muito a propósito: “La garde a vue premier danger” de David de Pas, magistrado em Aix e membro do sindicato da Magistratura; e “Une justice sans controle et sans limites?” de Yves Michaud, filosofo e fundador da Université de tous les savoirs. Deve estar tudo na internet, boys. Ao trabalho...

3 Os bloguistas que hoje se deram ao trabalho de ler o “público” e mais precisamente o suplemento “fugas” não se deixem levar pelo artigo sobre Saint Germain des Prés. O jornalista acha muito “giro” que velhas e célebres livrarias ou lojas de discos tenham sido substituídas por lojas de luxo onde ninguém entra, tais são os preços. O jornalista pindérico não terá reparado que na place de Saint Sulpice acabou um café amável e convivial para dar lugar a loja de carteiras, cada uma delas custando o salário de um “garçon de café”. O jornalista boquiaberto refere os hotéis boutique (felizmente ainda poucos) ignorando que pelo preço de uma noite passam-se cinco noutros hotéis menos boutique fria mas mais amáveis. Males de quem vai de borla pelo jornal passar três dias num sítio civilizado. Em havendo clientes, o boticário fornecerá um itinerário bem menos idiota de St Germain, aldeia para gente inteligente, como os frequentadores desta página.

4 E a livralhada? Quem porventura teve a paciência de me ler desde o início (e isso conta – e muito! – para descontos de vários pecados capitais [Carteiro: a concupiscência não está na lista... azar...]) lembrar-se-á que recomendei um cavalheiro russo, autor de uns interessantes romances policiais situados no século XIX, chamado Boris Akunin (ou por vezes B.Akunin...). Pois a Presença começou a publicá-lo: “A rainha do Inverno”. Também de recente publicação apareceu uma compilação de inéditos de Alexandre O’Neil esse poeta genial. Não aumentam a glória do poeta mas os viciados não conseguiriam passar sem este livro: “Anos 70 poemas dispersos”. Está publicado por Assírio e Alvim. Para os mais viciosos relembro que o Independente publicou uma antologia oneiliana com o bonito título “coração acordeão”. Sempre nesta honrada onda de poetas atenção a dois cavalheiros com vasta obra publicada: Tolentino Mendonça e Paulo Teixeira. Quem avisa vosso amigo é.
5 A fnac anuncia por quase 90 euros uma preciosidade: “The Band A musical history” (um dvd e cinco cds). Imperdível apesar de caro.

6 Esta edição apresenta o nº 15. Não tenho bem a certeza de ter já aviado 14. Dantes uma gentil senhora punha tudo isto em pratos limpos mas, como de costume, o que é bom acaba depressa. Ora aqui está uma boa maneira de escrever “fim”.

Qual ódio?


A turba gay e congéneres não perde uma oportunidade para mostrar que existe e, vai daí, decidiu fazer uma vigília pela morte de um dos seus às mãos de um bando de pequenos criminosos. Não foi uma vigília pela morte de um ser humano - foi a vigília pela morte de um deles, como se isso fizesse qualquer diferença.

A turba sente-se "odiada". É capaz de ser verdade que alguns odeiam a turba. Mas pergunto: poder-se-á falar de ódio generalizado à turba? Não é isso o que vejo por aí. O que se vê por aí é uma enorme tolerância em relação às suas diferenças. De que se queixam, afinal?

Todos sabemos que muitos dos centros de poder (o poder de direito e os poderes fácticos) têm uma forte presença gay. Há mesmo quem fale num lóbi gay. E há até quem diga que são eles os primeiros a discrimininar os que não são da turba.

Qual ódio, qual carapuça!

Carnavais



Nunca achei muita piada ao carnaval. Continuo a não achar. Impressiona-me um bocado ver gente semi-nua, com um frio de rachar, a desfilar pelas ruas, eles feitos mulheres e elas feitas homens. Talvez mude de ideias um dia que vá ao Rio de Janeiro.

Pequena dúvida


EXCERTO DE NOTÍCIA DO DN DE HOJE. Percebi perfeitamente. Vou ponderar o assunto. Mas há uma coisinha que eu não percebi: por que razão houve sorrisos na sala quando Rui Pereira disse: "Não me parece que os juízes dos tribunais da Relação sejam mais benevolentes com os políticos." Alguém me explica?

Eis o excerto: As buscas domiciliárias e escutas telefónicas a ministros e deputados deverão passar a ser autorizadas por juízes de tribunais superiores e não, como acontece actualmente, pelos juízes dos tribunais de instrução criminal. Esta hipótese está em cima da mesa na Unidade de Missão para a Reforma Penal (UMRP) (...).

Esta questão foi levantada, anteontem à noite, durante uma tertúlia promovida pelo SMMP. Aí Rui Pereira admitiu que esta alteração à lei está em cima da mesa: "É uma questão que vale a pena ponderar", disse (...).

A primeira reacção à proposta partiu de Cândida Almeida, directora do DCIAP. A magistrada foi clara: "Não estou de acordo com o foro [de julgamento] especial. Não me parece que haja necessidade." Perante algum burburinho que se gerou na sala do café Martinho da Arcada, Rui Pereira ainda afirmou tratar-se de uma hipótese, concluindo: "Não me parece que os juízes dos tribunais da Relação sejam mais benevolentes com os políticos." O comentário originou alguns sorrisos na sala. (...)

Vida pia

Dias bravos. Hoje, durante todo o dia, falaram-me sobre o processo da Casa Pia. E diziam-me: o tipo é tramado! E eu olhava, abanava a cabeça de cima para baixo (e vice-versa...) e não percebia. Só mais tarde percebi: José Maria Martins, advogado de Bibi, deduziu incidente de recusa contra o colectivo (ou só contra Ana Peres? Não sei). Parcialidade, clamou Martins.

Duvido que Martins tenha razão. De fundo. Mas isso interessa nos tempos que correm? O que vale mesmo é ser criativo. E complicar. Que o resto é de somenos. Para um país que já não acredita no MP e ainda menos no juízes - ouçam bem, nos juízes - isto é um fait divers...

O que faz a diferença

Falando de coisas simples. No domingo passado, com os meus filhos, saí do Porto a caminho do Marco para ir jantar a casa dos meus pais. Ao contrário do que é habitual, fui a tempo de passar pelo centro da cidade - sim, o Marco é uma cidade, para quem não saiba, uma cidade daquelas feitas à pressa, absolutamente estragada. Fui ao Trenó, estive com o JCP, encontrei o actual vice-presidente da Câmara - da nova maioria - e, a seguir, segui para Soalhães, a famigerada Terra-do-Mata-e-Queima, que se celebrizou com Santareno e por outras coisas mais prosaicas, que têm a ver com as monumentais cenas de pancadria entre clãs e e a carne estragada que vamos comendo por aí. A 200 metros de casa dos meus pais, uma acumulação de granizo. Sou um condutor experiente e um condutor consciente. Tenho um carro seguro com 192 cavalos. Pois bem: despistei-me. Com sorte: dois minutos depois, uma carrinha de caixa aberta, com a mesma trajectória, despistou-se cinco metros mais abaixo. Sorte - não veio contra nós.

Embora nem sempre pareça, tenho uma fleuma enorme. Já tive acidentes mais graves e nem sequer parei para ir ver os estragos, engrenei a primeira e segui. No domingo passado, não foi assim. Demorei algum tempo até conseguir sangue-frio bastante para telefonar para casa dos meus pais. Nervoso. A diferença era apenas esta: os meus meninos estavam ali.

(ah, a desgraça ficou por mais de 2000 euros)

Questões


Nos últimos tempos, a vida não tem estado fácil para os fiscais da ética. Vi alguns que se autodenominavam de pais - paladinos - da liberdade de expressão a combater a liberdade de expressão em nome dos valores religiosos do Islão (e do seu anti-americanismo). Vi alguns começar por um caminho mas, depois, quando pressentiram que não era o que se esperava deles, arrepiaram-no e passaram a defender o contrário. Já deu. Depois do tornado, veio a bonança.

Nestes últimos dias, tenho assistido ao silêncio dos mesmos sobre o grupo de pequenos "bandidos" que assassinaram um sem-abrigo, travesti, numa casa abandonada da baixa do Porto. O que pensam disto? Os adolescentes são bandidos? Ou a culpa é das instituições, da educação que tiveram, das famílias, da miséria, razões que tudo justificam? E se, em vez de ser um sem-abrigo, ainda por cima travesti, a vítima fosse um executivo de uma empresa importante (um porco capitalista, yuppie pelo menos)?

Presumo que os fiscais da ética devem andar à toa. Daí o silêncio. Não vá acontecer precipitarem-se outra vez. E entrarem em contradição...

24 fevereiro 2006

PARA TESTAR OS HUMORES!?

3 Minutos Antes de a Maré Encher é o título do último álbum d´A NAIFA.

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Que fala sobre a

tenho uma estátua fluorescente da virgem
maria que me dá confiança e brilha à noite.
tenho os joelhos magoados. o calvário dos fiéis
devia ser menos árduo.
tenho trezentos e sessenta e cinco santos numa
caixa calendário daquelas em que cada dia tem
um chocolate.
tenho um lencinho branco onde limpo as
lágrimas enquanto assisto a uma vigília via tv
depois da minha última ceia de hoje.
às vezes quando o vagar é muito, tenho o
salvador no espelho. deito-me de consciência
limpa, não me esqueci das velinhas, nem de
deixar a moedinha na caixa, e o meu "livro de
orações" tem um delicioso cheiro a mofo.
dormirei o sono dos justos e talvez não acorde
quando o gato da minha visinha cantar três
vezes e o meu senhorio o tentar apedrejar.
sinto-me bem e deus queira que consiga não
me masturbar.
ámen.


E sobre um barco soviético e as SEÑORITAS

naquele porto os matalómanos barcos
esmagam a paisagem
de energia brutal, parada.

num barco soviético
o marinheiro põe o punho a meio gás
como o comunismo enjeitado na sua terra.

disse-lhe que portugal ainda tinha comunistas
mas o que ele queria saber era onde havia señoritas
que o levassem a dar uma volta.

Já que ninguém se lembrou

Balada do Outono

Águas
E pedras do rio
Meu sono vazio
Não vão
Acordar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar

Do rio correndo
Poentes morrendo
P'rás bandas do mar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar

Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto
A cantar.

Zeca Afonso

carnaval III

(um entrever de como são as coisas)


enfunam-se as velas da nau erguida e orgulhosa , sobre o caminhão do desfile, no carro alegórico. piratas de seios à mostra, índias vestidas de penas de pavão. navegadores, cabrais e colombos, seguem-nas encantados e mostram suas fantasias, vaidosos e alegres, à multidão.

alinham-se no asfalto, nobres e plebeus , palhaços e africanos, baianas e porta-bandeiras, que dançarão o sonho deste ano. o sonho que muitos ainda não sabem.

tudo principia num canto repetido do samba mais famoso da escola , sem o auxílio da bateria.
à capella, a escola inteira canta emocionada. depois vem o canto ritmado do samba do ano, ainda sem a bateria. acompanham-nos apenas cavaquinho, violão e uns tamborins, e a voz do "puxador" do samba no carro de som. tudo que parecia finito e calmo agora estremece na excitação que surge nas vozes e nos olhos.

fogos de artifício.e de inopino o grito de guerra : explóóóóde salgueeeeeiiiro... ! ouve-se muito alto e muito longe o eco. ouve-se na alma pasma de repentino amor. mesmo para os apaixonados de longa data , a renovação do amor, da paixão.

e entram todos os naipes da percussão, absolutamente afinados, ao mesmo tempo : pam-pam ,pampampam-papapapapapapam, disparados ao encontro de todos os corações, de todos os estômagos, de todas as artérias, que inocentes esperavam mais ou menos alinhados, entre brincadeiras , cervejas , risos, e ajeitar na última hora as fantasias.

um espanto, um arrepio! a vida injetada nas veias musicais , e a certeza de que ali começa a nossa luta pela vitória. que depende de todos e de cada um de nós. todos igualados pela paixão, repentina ou não. todos sabemos que a escola tem que ganhar.vcorpos, vozes, quadris, sorrisos , a afinação mais perfeita. o frisson sob controle, precário controle, na linha limite.

a serviço da vitória somos todos transformados em atletas, em soldados - como deviam ser os soldados- em putas e vagabundos, em passistas e malandros, no entusiasmo de construir o desfile sambando pela avenida ao encontro do público- nosso público- dos jurados, e da vitória.

cada requebro , cada face esplendorosa, cada pessoa a carregar um chapéu como se não pesasse. cada quadril sensual que explode com a escola, cada voz, cada mover ágil dos pés como nunca o fizemos na vida, no chão ou nos carros alegóricos, cada um vencerá no final, terá dado tudo de si. a bateria da escola tocando nas nossas almas, em nossas artérias. ali somos apenas ritmo, canção, impulso. e uma imensa alegria de viver.

ah..mal sabem os que assistem àquilo que parece ser apenas repetição, que o espetáculo não é deles, nem para eles. é nosso, só nosso. com eles somos apenas generosos, porque nesta hora generosidade não nos falta e nossa escola precisa ser campeã.


silvia chueire

Compromissos e interesses

Quando decidimos intervir num determinado projecto político, devemos fazê-lo movidos por convicções sérias, baseadas em princípios, valores e compromissos com aqueles que nos honram com o seu voto.

Quem me vai lendo por aqui, sabe que nas últimas eleições autárquicas liderei uma candidatura à Assembleia Municipal de Marco de Canaveses. Perdi essa eleição, é verdade, mas anunciaram-se na minha terra ventos de mudança com a derrota dos sucessores de Ferreira Torres. Curiosamente, aqueles que chegaram ao poder, agora de tonalidade laranja, pareciam querer enveredar por uma linha de desrespeito pelos órgãos e de atropelo à lei. Tive de reagir de forma enérgica.

Dizem-me que valeu a pena e que a nossa razão é reconhecida pela população local. Tanto melhor. Quem está na política deve agir sobretudo em função do interesse comum e não de interesses pessoais ou partidários.

A importância do filtro

Hoje de manha levei o meu carro à garagem onde habitualmente recorro para a assistência, em Matosinhos. Vim de táxi para o Porto, depois de ter deixado o carro. Durante toda a viagem tive uma conversa interessantíssima com o motorista do táxi. Falou-me ele longamente sobre a limpeza do filtro dos carros. Referiu-me diversos casos consistentes demonstrando-me a importância esse “pormenor” na longevidade das viaturas. Fiquei convencida. Chegada ao meu gabinete telefonei ao técnico e lá lhe pedi que fizesse a limpeza do filtro. Estamos de facto sempre a aprender.

Aproveitei para fazer um paralelo e pensar na importância dos nossos próprios filtros da realidade. Uma limpeza periódica também nos fazia bem. È difícil, mas fazia. Fiquei a pensar nisso e a questionar-me: será que eu tenho me esquecido de fazer a limpeza possível? Fiquei a pensar.

Bom, mas esta não é a altura mais adequada para atrapalhar o meu espírito. Vou uns diazitos de férias, para a nossa querida e festiva Espanha, mais concretamente para perto de Granada. Estarei pois ausente desta instância que é o Incursões, mas asseguro-vos que vou compensar, porque a outra instância também promete.

Bom Carnaval para todos!

Dúvida sem método

Da utilidade da cadeira de rodas da Irmã Lúcia
A nossa querida irmãzinha Lúcia viveu no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, terra de enormes belezas conservadoras, ortodoxas e outros maravilhosos conceitos acabados em -ade, como infidelidade, filha-da-putade, sacanade... (ouço na televisão aqui do convento, que eu não conheço este vocabulário, senhoras, não conheço!) Ora, o quartinho da nossa irmã Lúcia mantém-se no Carmelo tal e qual, tal e qual, deusas nos valham: a cama de ferro, a almofada, o rosário, a mesa com a estátua da senhora em tamanho gigante sobre uma toalha de cetim e renda, o Cristo cruxificado, por todo o lado, uma ovelhinha branca de brinquedo, e uma cadeira de rodas. A santa cadeira que a transportou. Tudo em exposição. E eu estava aqui a pensar em escrever à madre superiora do Carmelo de Santa Teresa, e perguntar se não se importaria de emprestar a cadeirinha da
santa-quase-canonizada, a uma senhora de idade que mora na rua do nosso convento, e que vive com uma reforma de 230 euros, e que não sai à rua porque não tem dinheiro para remédios, quando mais para cadeiras de rodas. Pensei eu.

Do blog sociedade anónima. Um blog no feminino com piada, género
"Donas de Casa Desesperadas". O que retiro daqui: a autora do texto quer a "caridadezinha" de pegar na cadeira de Lúcia para a dar à senhora de idade que vive ao lado dela... Será a a autora de esquerda ou de direita? A minha opinião: ela pretende ser de esquerda, mas é da direita mais trôpega. Mas isto sou eu a dizer, que não percebo nada destas coisas...

O deputado cumpridor

«Reconheço que, às vezes, ultrapasso os limites de velocidade, mas isso é porque sou um deputado que cumpre horários» - A frase é de Ricardo Almeida, deputado do PSD, que foi apanhado a 200 quilómetros por hora e já foi autuado quase duas dezenas de vezes.

É bom saber que há um deputado que cumpre. Até horários. E é bom saber que há pessoas em Portugal que cumprem horários. Como eu, de uma forma obsessiva, e que tenho dificuldades em perceber as pessoas que não cumprem horários (imaginem o tormento que é para mim o atraso nos tribunais...).

Como o deputado cumpridor, eu também já fui apanhado. Não a 200! Nunca mais do que a 198 km/hora! Só que a mim ninguém perdoa. Talvez eu não mereça...

23 fevereiro 2006

As mulheres e os homens

Foram dois dias demolidores no escritório. Não, não era nenhum julgamento importante, nem umas alegações de recurso particularmente difíceis. Coisa mais prosaica: uma relação de bens subsequente a divórcio. Ao divórcio de um amigo que, quatro anos depois, continua toldado e, toldado, incapaz de perceber as coisas mais simples, sobretudo as que lhe são ditas por amigos ou familiares. De tal forma, que o diálogo se tornou quase impossível, por muito que eu tente centrar as questões. Claro que ele deve achar - com alguma razão - que sou eu que ando pouco paciente.
Já aqui disse e repito: não sou dado a coisas de direito de família. Mas, pobre advogado, tenho que as fazer. Vai daí, pedi hoje, in extremis, ao Mocho Atento que subisse as escadas e me desse uma ajuda, mais que não fosse para falar com o meu cliente e amigo ao telefone e esclarecer as últimas dúvidas. Solidário, ele foi. Solidário, ele entendeu-se com o cliente. Solidário, acabámos aquilo.
Aquilo.Mas aquilo é direito? Deve ser. Eu é que não tenho vocação e nunca quis aprender. Mas sou capaz de não estar totalmente errado.
O Mocho e eu chegámos a uma conclusão absolutamente estapafúrdia. Mas verdadeira. Ou, pelo menos, assim achámos, mesmo quando uma das minhas jovens estagiárias nos olhava perplexa. Que conclusão: as advogadas mulheres são muito mais dadas a estas coisas de inventários. Verificámos isso logo ali: ele ligou a uma colega que, de imediato, soube dar valores a serviços de chá e de café, faqueiros de prata e coisas do género. Nós nem sequer fazíamos ideia (eu não sei, sequer, quanto custa um pão!). Mas há mais: as advogadas mulheres gostam de ir a casa das pessoas fazer essas avaliações, mexer nas coisas e isso. E gostam de saber muito mais do que importa para a solução do caso. Curiosidades femininas que os homens não têm. Eu pelo menos não tenho.
Mesmo quando se trata de divórcios, eu limito-me a perguntar o que é relevante. E já houve muitas alturas em que me diverti a ver colegas mulheres a perguntar coisas que não tinham nenhuma relevância para o assunto. Era mesmo curiosidade... feminina.
Elas gostam de direito de família e de inventários. Eu não.

Sistema de Avaliação de Desempenho para a Administração Pública

Pelo que sei, foi hoje discutido na Assembleia da República o Sistema de Avaliação de Desempenho para a Administração Pública, o chamado SIADAP. Trata-se de uma discussão sobre o anterior diploma que entrou em vigor em 2004, se não me engano.

Não sei o que pensam sobre este instrumento. Eu penso que é um excelente meio de dinamizar serviços, introduzindo alguma justiça na avaliação que foi feita até há pouco tempo. De facto, os Muito Bons que proliferam na avaliação dos funcionários são marcadamente excessivos. O anterior modelo de avaliação nasceu torto e torto morreu.

O que interessa agora é o novo modelo. Como sabem, este assenta em grande medida na definição e avaliação de execução de objectivos. Isto vem introduzir uma mudança substancial na forma de avaliar. Sabemos que a gestão pública está normalmente mais preocupada em cumprir as normas e em não cometer erros do que com os resultados e que há dificuldade em avaliar resultados com base em parâmetros objectivos. Acresce o facto que normalmente não há concorrência ao sector público. Toda esta envolvente dificulta a introdução com êxito do SIADAP, que deve ser visto como um meio e não um fim em si mesmo.
Há pois todo um caminho a percorrer.

Claro que os novos modelos de gestão não são solução milagrosa para resolver os problemas da qualidade na prestação de serviços essenciais. Todavia, o SIADAP pode ser, e já está a ser em alguns serviços públicos, uma boa ajuda para a mudança. Conheço serviços públicos que, para além da avaliação de desempenho dos funcionários introduziram a avaliação dos serviços, o chamado CAF. Este, quando bem desenvolvido, dá resultados incríveis. Digamos que se começa por onde se deve.

Tenho para mim que sendo o factor humano decisivo, é no envolvimento adequado das pessoas, aliado a um processo e responsabilização, que está um dos “segredos” da eficácia da gestão e, consequentemente, na eficácia de qualquer instrumento de gestão de recursos humanos. Por isso, é por aí que penso que se deve começar. Há muitas pessoas que o que querem é fazer o mínimo, mas a grande maioria, pelo que conheço, quer ser envolvida, motivada, dar o seu melhor e desenvolver as suas competências. Daí que não é justo serem todas avaliadas por cima. Não é justo para quem trabalha e além disso desmotiva. Esta é pois uma oportunidade para actuar.

A violência insuportável

De manhã li a notícia, só o título. Foi suficiente para o primeiro duro impacto. Mas ao longo do dia a notícia invadiu os meus ouvidos inúmeras vezes. Impossível fugir desta notícia que a todos nos envergonha. A mim envergonhou-me. A primeira reacção que tive foi lamentar o sem abrigo que morreu e, de imediato, os jovens. Sim, o sentimento que me assaltou ao longo do dia foi uma pena tremenda daqueles jovens. E também revolta quando ouvi na TSF um padre a dizer que os miúdos isto e aquilo e um psiquiatra a dizer que o grupo isto e aquilo. Tudo verdade, mas a outra análise onde está? A que nos fala do que levou os miúdos pela mão até este momento?
Escrevo este post porque há pouco um amigo, que foi à Judiciária pelas nove horas de hoje, os viu. Miúdos, muitos e muito pequenos, amedrontados, desorientados.
Sei que na sociedade actual muitos de nós pensam que se intervirmos no nosso meio restrito e dermos o nosso melhor já estamos a fazer muito. Também tenho tendência a pensar assim, até ser “incomodada” pela existência desta realidade, aqui à porta, com miúdos a fazer selvajarias, a acabar por matar e depois amedrontados, desorientados.

O tempo esse grande simplificador 1

Era para ser um texto sobre o dr. Luis Filipe de Meneses com um título olé-olé: o fronteiro mor da Bainharia. E era para aferroar o dr. Coutinho Ribeiro. Na esperança de um seu regresso, guardo-o na gaveta e inicio um novo ciclo de textos. O que se segue é uma homenagem em jeito de parábola aos colegas que me aturam e tem obviamente fortes raízes na realidade. A moral da parábola tirá-la-ão os excelentíssimos paroquianos (se a palavra é permitida) ao fim da leitura se esta crónica chegar a bom porto e eles tiverem paciência.

Como os leitores porventura saberão o senhor Amadeo de Sousa Cardozo estudou no Porto, no liceu que mais tarde se chamaria D. Manuel e antes (e depois, singular mania!) Rodrigues de Freitas. Dele foram condiscípulos dois rapazes que mais tarde seriam figuras de alguma projecção na cidade, o Professor Doutor Francisco Coimbra e um exportador de vinho do Porto de que só se darão as iniciais: ACR. tal qual existem ainda numa sólida mala de viajem em bom e antigo couro. Durante todo o liceu foram inseparáveis e só a vida aventurosa de Amadeo e ACR um pelas Franças e outro pelos caminhos do filho família que se inicia nos negócios paternos (Wurzburg, Hamburgo e Heidelberg para aprender química do vinho, Rio de Janeiro e Londres para se familiarizar com os sócios estrangeiros e os segredos do import-export.).
Continuavam a ver-se os três, de longe em longe, ao sabor das idas e vindas do artista e do comerciante. E foi assim que, aquando da primeira (e única?) exposição (escandalosa) de Amadeo (no salão do Corpo da Guarda?) os seus dois antigos colegas muito em segredo mandaram alguém comparar duas telas do novel pintor. Terão sido, diz-se, os dois únicos trabalhos vendidos nessa 1º e pouco auspiciosa mostra do nosso maior pintor da primeira metade do século vinte.
Claro que ACR. achava o quadro péssimo. Para ele, como aliás confidenciou em 1956, até Ravel era demasiado moderno, o quadro tinha apenas o valor de ser pintado por um amigo que malgastava talento em cores tão violentas, em traços tão grosseiros em composições tão banais. E ainda por cima havia o problema do segredo da compra por mera amizade, caritativa amizade. Por isso o quadro adornava o escritório da adega na Casa do Torne, longe dos salões onde se recebiam amigos, associados e visitas.
Acontece porem que nos idos de cinquenta o quadro acertou no olho inocente mas aberto à novidade dum neto de ACR. Rapazola, pais longe da metrópole, liceal tresmalhado por colégios de sólida reputação educativo-coerciva, viu o trabalho, agradou-se dele, e tanto se agradou que o avô lho prometeu: “fica para ti, é do Amadeo, coitado, tão bom moço e com tanta pouca sorte”.
Anos passaram, o rapazola partiu para Coimbra, para aturar os lentes de Direito nos Gerais e, nos intervalos, meter-se nas políticas académicas, muito mexidas naquela época de inícios de sessenta. A crise de 62, deu-lhe o ensejo de se libertar da longínqua tutela do avô ACR que resolvera deslocar-se de propósito a Coimbra para pregar aos dois netos respeito pelas autoridades constituídas, pelo senhor Reitor, pelo Dr. Oliveira Salazar e pelo Senhor Cardeal Patriarca. E pela polícia também, acrescento eu.
Não teve êxito a embaixada aos jovens bárbaros o que provocou várias reacções de indignação de ACR que passou pela vergonha de ver um deles em Caxias por um par de semanas. O clima familiar degradou-se e os netos, ganha a alforria por via da política, rarearam fortemente as visitas ao chefe do clã familiar.
Continuando nessa senda de vício político e social, o neto futuro proprietário dum “amadeo”, entendeu anos depois casar-se pelo “civil”. Civilizada mas desafiadoramente comunicou tal intenção brejeira e imoral ao avô ACR que, em carta lacónica, lhe retorquiu não reconhecer quaisquer efeitos a esse acto de pura mancebia. O noivo, galispo e afrontador, cortou relações com o capitalista, conservador e catolicão . E os anos passaram.
E o primeiro divórcio chegou: punhalada nos princípios solidíssimos duma família portuguesa do Porto. Depois do amancebamento, a suprema afronta do divórcio. O neto divorciado regressou por algum tempo à casa paterna pois entretanto os pais tinham regressado à pátria e à cidade enquanto o velho avô por motivos de doença recolhia também ele à casa do filho. O reencontro temido e inesperado ocorreu sem dramas. Dum lado um jovem advogado esquerdista doutro um ancião carregado de anos e de Parkinson. E mudo como uma carpa, que a doença tem dessas manias. Até que um dia...
Um dia o neto chega à casa paterna com um disco de Marlene Dietrich. E movido por alguma recôndita mas sincera misericórdia põe-o a tocar para um avô de noventa e muitos anos. Subitamente a voz da divina Dietrich entra pela casa
Wenn die Soldaten
Durch die Stadt marchieren
Öffnen die Mädchen
Fenster und Türen

Como porventura o dr. Delfim Mendes saberá, ele há, de vez em quando, milagres ou, mais laicamente, prodígios inexplicáveis. O avô idoso e mudo desatou num parlapié em alemão de primeira que muito a custo foi acompanhado e secundado pelo neto, ex-aluno do Goethe Institut de Berlim nos idos de setenta. Horas a fio, com a Marlene de permeio, falaram avô e neto subitamente esquecidos da greve de 62, das prisões, dos casamentos e divórcios, da ortodoxia integrista duma Igreja muito portuguesa e do dr. Oliveira Salazar. E falaram de Camilo, de Beethoven, dessa divina blaue Engel, da avó Dora, do Xico Coimbra e, claro, do Souza Cardozo, reconfirmado legado ao neto mais velho.
Ao aproximar-se do primeiro centenário, ACR. entendeu finar-se tranquilamente numa luminosa manhã de inverno. Enterrado que foi, e passado o conveniente período de nojo, foi o neto pelo legado pois não quisera despojar a casa velha da família antes do dono, figurada mas definitivamente, a abandonar.
Do quadro nem rasto, como calcularão as leitoras gentis e especialmente a excelentíssima administradora Frau Kamikaze. Mão estranha resolvera libertar Amadeo do escritório da adega e rodeá-lo (ou rodear-se?) dos mimos devidos ao alto preço já então oferecido por qualquer obra do mestre. Sic transit gloria mundi: ou por palavras mais dia-a-dia: assim se lerpa um quadro que ficaria aqui tão bem junto a um outro que o gatuno não topou: um lindíssimo guache de Diogo de Macedo, que por ser muito art-deco estava já numa salinha do primeiro andar.

E a moral? Perguntará algum oblíquo leitor: ora a moral é chãmente esta: avô e neto estiveram vinte anos sem se falarem separados por trivialidades e ninharias. E se não fora o milagre de um anjo azul e decadentemente alemão nunca mais teriam conversado. Pior: nesse intervalo os bens familiares foram esbulhados de um quadro maravilhoso que ainda por cima retratava uma bela história de amizade. Para agradar a gregos e troianos aqui fica a prevenção: quem tiver olhos que veja e quem tiver ouvidos que ouça.

Vosso, sempre
D’Oliveira

Vai dedicada a Sílvia, Guilhermina e Liliana antecipando o dia 8 de Março.

Que os cavalheiros não se amofinem por desnecessários
ciúmes. A próxima entrega de diário político tem o prometedor título de A mulher e o preto e tem por alvo uma senhora ex-secretária de Estado do governo Guterres

"Regresso" a Moçambique




Hoje, no suplemento de Economia do “DN” vem referido que o “Eurostat, o organismo estatístico europeu, está neste momento a avaliar a forma de quantificar o impacto nas contas públicas portugueses do perdão da dívida a Moçambique por causa da barragem de Cahora Bassa.”

O que significa que os perdões de dívida efectuados por um Estado, ao serem contabilizados como transferência de capital, provocam um agravamento do défice...

Ora, eis a questão “fracturante”:

A população das antigas colónias, que na sua esmagadora maioria até gostava de se abrigar à sombra da nossa bandeira, (exceptuando aquela “elite” que estudou em Portugal, e que até vivia na “Casa do Império”, aqui em Lisboa) vive hoje muito pior. Como já escrevi, todos ficámos mais pobres, nós e os nossos irmãos de África, os quais estão mergulhados na mais negra miséria, com as cidades (outrora tão belas) degradadas e com as infraestruturas destruídas, imperando a mais dura corrupção a todos os níveis e em todos os estratos sociais. Não existe prosperidade, saúde, habitação condigna. E, nos anos 70, em Moçambique por exemplo, o “PIB” atingia a cifra de 7%!!! Ora pense-se no Portugal de hoje, com um crescimento negativo!

Relembro que a nossa Administração Pública era a mais apurada de toda a África bem como tínhamos o melhor sistema de saúde, a par da África do Sul.

Mas tudo foi “dado” de modo inconsequente, em “partilhas” obscuras...

Deixaram-se as populações entregues a si próprias, e o resultado está à vista: com a economia destruída, necessitam que um País, ele próprio também à beira do precipício, perdoe uma dívida externa por uma obra feita por portugueses.


Então, e NÓS POR CÁ (TODOS BEM? como diria o Fernando Lopes...)
Tanto sacrifício, tanto corte orçamental, para afinal fazermos figura de ricos sem o sermos?

Quem puder ( e quiser) que desenvolva este tema “fracturante”...

dlmendes

Dedicado aos incursionistas


«não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida; sou do paradoxo que a contém no total. Na realidade não estou interessado em coisa alguma; sim, porém, em viver».


Agostinho da Silva
(citado por Artur Manso, segundo li aqui)

DIREITO E AMBIENTE EM ACÇÃO:
ACÇÃO DE FORMAÇÃO SOBRE
PLANEAMENTO URBANO
E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Organização: SMMP / CESUR-IST
Programa e ficha de inscrição (data limite: 24 Fev)

AMADEO

Amarante
Museu Municipal
:

Uma surpresa das boas!!!

casa de familia de Amadeo, Manhufe

casa-atelier de Amadeo, Manhufe

22 fevereiro 2006

estes dias que passam 13

1 Tento nestas páginas (?!) ir dando conta do que me surpreende, apoquenta ou indigna. Num tom mais de conversa do que apologético. Não sou um evangelista nem sequer um opinion maker. Nem me interessa sê-lo. Sou apenas um cidadão normal que paga os seus impostos (que remédio!) e que entende dever prestar o seu depoimento. Não acredito que isso mude o mundo, o país a cidade, sequer o bairro onde vivo ou o círculo de amigos e conhecidos com que convivo diariamente. O que escrevo é tão só um sinal de acordo ou desacordo. Para que (e em suposta contradição com o que acima escrevi) não se me acuse de ter fechado os olhos ou assobiado para o lado quando os tempos e o modo eram insuportáveis.
2 Repego pois em algumas “vexatae quaestines” que resolvera nunca mais tocar. Uma porque descobri que o senhor Procurador Geral da República em 1969, na crise estudantil de Coimbra, estivera do outro lado da barricada com a polícia e o governo e outra porque pareceu-me intuir em certos amigos e companheiros que estimo e respeito uma opção religiosa que os fazia sentir-se particularmente sensíveis perante uns desenhos sobre Maomé. Todavia estes dez dias de ausência por razões meramente familiares e pela estadia na Póvoa do Varzim revendo amigos, falando sobre livros, essa minha antiquíssima paixão, conhecendo gente (e aqui refiro o actual director do Instituto Cervantes em Lisboa, um galego tonitruante que ama os nossos escritores de Camilo a Brandão, de Garrett a Cesário: isto sim é que é um embaixador cultural!) foram inquietantes e por isso aqui estou de novo a falar do que quisera calar.
3 Mas vamos às nossas encomendas: o senhor PGR não ata nem desata sobre o mistério das gravações telefónicas. Sª Ex.ª tem todos os meios mas não apanha sequer o mariola que lhe rouba duas galinhas no pátio da casa... Eu já sei que a rusga ao jornaleco “24 horas” se deve ao facto de haver objectivamente um crime e que será o de explorar os telefones constantes da lista. Seja! Que bela coincidência! Mas que este é um belo meio de afastar as atenções sobre quem mandou, quem recebeu quem utilizou e quem desviou as listas, é. Quanto ao resto: tudo como dantes quartel general em Abrantes. Ou seja: NICLES!
Politicamente, e Sª Ex.ª o Senhor PGR é titular de um cargo absolutamente político e politicamente escolhido, trata-se de um triplo tiro no pé. Como já deve estar habituado (eu não queria, apesar da honra, ser membro inferior de S.ª Ex.ª porque ao fim destes dois anos já estaria feito um passador...) não se importa. Vamos fazer uma aposta: nunca mais se vai saber nada deste mistério tão lusitano e tão fadista.
4 Já ninguém tem qualquer dúvida que os bonecos do jornal Jilland Posten só indignam as elites muçulmanas retrospectivamente. Foram precisos quase cinco longos meses para os ulemas, os mollahs, os emires e restantes criaturas religiosas ou não, despertarem para o pavoroso sacrilégio e lançarem as massas na rua. Felizmente recuperaram imenso terreno: os mortos já são mais de cem e as embaixadas vão ardendo alegremente. As manifestações que nunca se viram depois de cada bomba, cada atentado (e esses começaram muito antes das torres gémeas...) cada inocente morto, têm agora lugar perante o olhar compreensivo do senhor professor Freitas do Amaral. E solidário, acrescento. S.ª Ex.ª além de propor um jogo de futebol entre os algozes ocidentais e as vítimas médio-orientais (Oh argúcia! Oh diplomacia!) descobriu agora que o “white man’s burden” de Kipling, o imperial, era afinal uma ignomínia e uma atrocidade sem nome contra um Islão (Islão quer dizer comunidade de crentes...) inocente e civilizado. O facto de, para nós ibéricos, ter havido um Tariq ou um Mussa, para já não falar em Almançor, não lhe deve ter ocorrido ou, piedosamente, já perdoou essas pequenas impertinências. Afinal eles deixaram-nos a nora, os algarismos e a catedral de Córdova... Espero que o senhor ministro dos negócios estrangeiros resolva pedir públicas desculpas pela participação portuguesa nas batalhas do Salado e de Navas de Tolosa, para já não falar na iminente devolução do Algarve aos seus legítimos proprietários mouros.
5 O senhor professor deu aos portugueses uma lição de solidariedade com a Europa a que pertencemos e à União Europeia a que aderimos. Mostrou-se sobretudo altamente solidário com o Reino da Dinamarca tornando muito do nosso dia-a-dia a frase “algo está podre no reino da Dinamarca”. E isto não surpreende: pois não é verdade que Diogo Freitas do Amaral é um eminente autor dramático com peças que fizeram a glória do Teatro da Trindade e mostraram ao mundo que cá também temos um Shakespeare ou um Racine ou um Ibsen ou mesmo um Chiado?
6 Já aqui perguntei uma vez como é que se obtém o estatuto de apátrida. Agora que o nosso Delfim Lourenço Mendes já exerce de contributor espero uma resposta que me seja favorável. A minha família vive (dizem os livros...) nesta terra desde os alvores da nacionalidade. De alguns ancestros sei que foram guerreiros, militares e coisas igualmente repelentes. Terão chacinado uns tantos mouros inocentinhos, castelhanos velhacos para já não falar no gentio oriental e africano. Não mereço viver no país suave de Freitas do Amaral. Também não quero. Portanto enquanto não me exilo para as Franças e Araganças (estou à espera do euro-milhões...) aceito a apatridia e o ferrete de viver em Portugal, pátria que será para mim lugar de exílio, como belamente dizia o Daniel Filipe. E de certa maneira já estou habituado pois vivi (malvivi, sobrevivi...) sob a paternal mão de Salazar e discípulos até ao meu 33º ano. Não me crucificaram, claro mas fizeram-me algumas paternais advertências. Também o Dr. Freitas cá viveu nesses tempos, dir-me-ão. Claro mas ele do lado em que fazia sol e eu do outro.
7 E a Póvoa do Varzim? Perguntarão os que sabem destas minhas manias literárias. Pois a Póvoa lá estava, feínha como sempre, mas calorosa com a malta da escrita. Boa lição dá a muita terra pequena e periférica. A festa dos escritores é também a festa dos leitores como eu. A malta lá se vai encontrando, ouve umas mesas redondas, por vezes redundantes, encontra uma cabazada de amigos e conhecidos, entorna umas cervejas e aqui vai disto: muita conversata com os de sempre desde o Prado Coelho com dez quilos a menos até ao Francisco Belard a quem seria uma caridade oferecer dez quilos. E depois apareceram o Zé Carlos de Vasconcelos, o Manuel Rui, o Virgílio Alberto Vieira e os editores do costume (João Rodrigues, Carlos Veiga Ferreira e Manuel Valente entre outros. Mas cito estes por velhíssima amizade e alguma cumplicidade). E defeitos? Pois além da Póvoa não ser tão bonita como Vila do Conde, por exemplo, o defeito maior é o da fartura: lançaram-se trinta ou quarenta livros, uma enxurrada mesmo para maníacos pertinazes como eu. De todo o modo foi bom conhecer os novos autores (e no Bonheur dou-vos conta de uma), perceber-lhes a ferramenta e a oficina. Fiquei muito impressionado com uma jovem brasileira Adriana Lisboa que já anda publicada por aí e que nos leu uns textos belíssimos. Vão por mim: a senhora escreve bem. Muito bem, mesmo. O nosso Anto apanhou uma boleia e lá deu um arzinho da sua graça. Quem lhe leu o livro, gostou, ou pelo menos assim mo disse. Agora é ver se ele, de vez em quando, nos concede um postal com um poema. Aqui. Nesta casa que é dele, também. O mundo não pode ser só pgr e Freitas que diabo. Também havemos de ter direito a um (mesmo que ténue) raio de sol.
8 Parece que algumas das pessoas que apoiaram o Manuel Alegre resolveram formar uma espécie de associação política que sem ser partido iria tentar intervir na “res publica”. Não estou lá, não estarei lá e acho forte asneira aparecer a intervir e a “candidatar-se”, por exemplo, a uma que outra junta de freguesia. Partidos disfarçados com o rabo de fora são uma má e vesga consequência de uma luta cívica que justamente criticou a partidite aguda dos partidos tradicionais. Mas isso é só com eles. Eu, que aqui assumi desde o primeiro dia a candidatura Alegre, não dou para esse peditório.
Como diria o nosso José: j’ai d’autres chats a fouetter! Um abraço José. E dê notícias, homem de Deus, dê notícias.

Nota: isto escrevi antes do caldo se entornar. Pensei eliminar um que outro trecho mas depois disse ao meu botãozinho do umbigo: que se lixe; era o que faltava calar-me depois de tanta mordaça no tempo da outra senhora. Quem não gostar que mo diga que para isso há-de ter computador e demais parafernália. Só sai hoje?, paciência. Vai para presentes e ausentes, queiram eles ou não. Se isto fosse papel teriam a possibilidade que Camilo tão bem sintetizou numa carta: “Exº Senhor: acabo de passar ao ventre da mãe terra pelo esófago da latrina a sua carta”. Se vos apetecer façam o mesmo, ainda que só virtualmente.

Aviso a tempo e por causa do tempo

Apanho boleia deste título do Vítor Silva Tavares para telegráficamente solicitar essa coisa mínima e miudinha que é a de não fazer de uma tempestade normal e eventualmente útil um tsunami. Calma no Brasil que o Algarve ainda é nosso! Isto não é mensagem cifrada para a Sílvia (e se fosse alguem tinha alguma coisa com isso?) mas apenas lembrar ás pessoas que não se pode deitar fora a água do banho com a criança dentro. Ou seja: parece-me suficientemente discutido o tema liberdade de caricaturar e liberdade de ripostar. Sobretudo se tivermos em mente que quem escreve um postal o faz honradamente sem intuito de ofender os colegas e amigos. Eu mesmo já aqui pedi desculpa a um "intrometido" porqure me pareceu ter usado de violência demasiada numa resposta a um comentário dele. O "intrometido" leu e disse que não se sentira ofendido coma as minhas palavras que ele classificava como um pouco acalorados (o que até nem é mau neste inverno do nosso descontentamento...). Ficarei triste (mas sobreviverei) se alguém sair por motivos destes. Nós humanos temos língua para falar, cérebro para entender e trinta ou quarenta séculos de cultura judaico-cristã, tintada de latinos e gregos, para nos entendermos a aturarmos. A discordância é fonte de luz e de civilização. O anátema, venha do Papa ou dum mollah medieval, é sempre uma desnecessária violência. E inútil. E contraprocedente!!
Somos todos crescidinhos (eu então nem se fala...) para não andarmos a jogar aos quatro cantinhos. E já agora: aqui não se põem lugares á disposição.
E basta... Por mim acho que já disse tudo o que tinha a dizer. Entretanto irei até ao Norte ver como param os ciclóstomos de que falava o José. Estas discussões abrem-me cá um destes apetites.
E a Sílvia que não se ria: um dia destes aparecemos-lhe todos ou alguns lá no Rio e então é que vai ser um fartote de caruru, vatapá, bóbo de não sei quê e tudo o resto. Tá, Sílvia?
sempre vosso, mcr
Se houver gralhas desculpem as desgraçadas que eu escrevi isto de rajada e directamente.

Citemos Jorge Sampaio...




No "DN" de hoje pode ler-se esta mensagem, lapidar, de Jorge Sampaio, na sua visita a Timor:

"Assiste-se à emergência de tendências extremistas, cujos protagonistas querem um confronto de civilizações. Mas a luta é entre a civilização da democracia e dos direitos e a barbárie da tirania e dos fanatismos. Nesse sentido também, a qualidade dos regimes democráticos é inseparável do seu estatuto internacional", afirmou o Presidente da República.

"Tendências extremistas" acrescentaria eu, quaisquer que elas sejam...

21 fevereiro 2006

A Vida Dupla de Maria João


Não, não é a Dupla Vida de Veronique (La Double Vie De Véronique) de Krzysztof Kieslowski, mas sim o anunciado lançamento de “A Vida Dupla de Maria João”, de Maria Manuel Viana, aqui em primeira mão referido pelo “nosso” MCR, no seu último “Au bonheur des Dames”.

Hoje, a cambalear em virtude de um pensamento angustiante que me invadiu, qual seja, o de afinal não viver num País como a Dinamarca, onde a liberdade de expressão é rainha, apesar dos arautos da liberdade que vivem nesta terra (de Santa Maria), desloquei-me à Bertrand das Picoas, a fim de ali indagar de alguns livros e, eis senão quando, deparo com o anúncio do lançamento de “A Vida Dupla de Maria João”, de Maria Manuel Viana.

Amanhã, dia 22 de Fevereiro, quarta-feira, “decorrerá na Livraria Bertrand Picoas-Plaza, em Lisboa, o lançamento da obra A Vida Dupla de Maria João, de autoria de Maria Manuel Viana. Com a apresentação de Inês Pedrosa, e a presença da autora, a apresentação desta edição da Editorial Teorema terá inicio às 18:30 h.”

Assim reza o “placard” ali posto na Bertrand, a qual efectivamente costuma ter destas iniciativas.

Situada a referida livraria num centro comercial lindíssimo, pequeno, repousante, oferece a mesma um simpático espaço de convívio, possuindo um café que, naturalmente, propicia uma conversa intimista…

Apesar da febre que me assola, pois acho que apanhei uma séria constipação com este frio que fez hoje em Lisboa (espero que os meus inimigos não desejem a minha morte…é que eu ainda tenho muito caminho a percorrer nesta terra, a fim de me aperfeiçoar antes de ver a Deus…ai o que eu fui dizer! Vão-me cair em cima outra vez!...) irei à dita apresentação (já tenho o livro! – vou agora lê-lo na cama, pois a insónia ataca…) e apresentar-me como um amigo do MCR! Ou será que ele vem a Lisboa?

Dava azo a umas conversas "incursionistas", sem censura claro!

dlmendes

"ORAÇÃO"


"Rezo por um mundo em que possamos viver em associação e não sob domínio; onde a “conquista da natureza pelo homem” é considerada suicida e sacrílega; onde o poder não mais seja equacionado com a espada, mas sim com o santo cálice – o antigo símbolo do poder de dar, nutrir e estimular a vida. E, não só rezo, como também activamente trabalho, para o dia em que assim será. "
RIANE EISLER

(uma austríaca que se refugiou da Alemanha nazi nos Estados Unidos. Aponta para uma real revolução nas políticas do corpo, partindo de uma nova ética sexual que rejeite a cultura da dor, da violência, da incompreensão e dos condicionamentos universais do perseguido e do perseguidor. Segundo Eisler, é preciso uma nova organização de poder entre o homem e a mulher, entre os indivíduos e as nações, para resgatar a verdadeira natureza sagrada do prazer.) [ sublinhados nossos...]